Os juros futuros terminaram a terça-feira, 30, entre a estabilidade e leve queda, num desempenho que pode ser considerado positivo se comparado às perdas dos demais ativos domésticos e também diante da forte queima de prêmios na curva na semana passada que, em tese, chamaria para uma realização de lucros mais pronunciada.

O tombo superior a 4% nos preços do petróleo, a forte deflação do IGP-M em maio e o fechamento da curva dos Treasuries em meio às dúvidas sobre a votação do acordo sobre o teto da dívida nos Estados Unidos acabaram ancorando as taxas, apesar do desempenho negativo das moedas de economias emergentes, incluindo o real.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,20%%, estável ante o ajuste de ontem, e o DI para janeiro de 2025 caiu de 11,48% para 11,16%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,95% (10,96% ontem) e a do DI para janeiro de 2029, em 11,29%, mesma taxa do ajuste de ontem.

O ajuste de alta visto ontem nas taxas não conseguiu avançar nesta sessão, em meio a vários fatores potencialmente desinflacionários e que podem contribuir, se não para um início imediato do ciclo de queda da Selic, ao menos para uma sinalização do Copom sobre quando isso poderá ocorrer. Antes da abertura, o mercado já conhecia o IGP-M, que acelerou a deflação de 0,95% em abril a 1,84% em maio, coincidindo com o piso das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast. Ainda que o IPC-M tenha subido (0,46% para 0,48%), a expectativa é de que o tombo do IPA (-2,72%) possa chegar mesmo que parcialmente aos preços ao consumidor.

Ao mesmo tempo, o recuo das commodities reforça a perspectiva benigna para a inflação de curto prazo no Brasil. Hoje, os preços do petróleo tombaram mais de 4% dadas as incertezas sobre o acordo para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos e também sobre o ritmo da demanda global. O barril do tipo WTI com vencimento em julho, que fechou em US$ 69,46, não caía abaixo de US$ 70 desde 4 de maio.

A leitura dos analistas é de que esse alívio nas matérias-primas será importante para fazer frente ao impacto que a mudança na cobrança de ICMS sobre a gasolina terá sobre os preços. A partir de quinta-feira (1º), o tributo passa a ser cobrado com uma alíquota fixa (R$ 1,22 por litro), em vez de porcentagem sobre o preço. Além disso, como destacou o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, o governo concluirá o ciclo de reoneração da gasolina e etanol no fim de junho, quando acaba a vigência do imposto de exportação sobre óleo cru para compensar a elevação gradual das alíquotas de PIS e Cofins. Ceron disse que o imposto de exportação não será renovado e que os tributos federais voltarão a ser cobrados com alíquota cheia.

O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier, afirma que o mercado de juros hoje não teve um “grande driver” e que as preocupações com o ritmo da economia da China, ante os dados que saem nesta semana, estão pesando mais diretamente no câmbio e na Bolsa. “Os números podem ser feios, mas na curva local, esta expectativa não tem afetado tanto”. Nesta noite, serão divulgados os PMIs na China.

Para o sócio e estrategista de renda fixa e câmbio da Garin Investimentos, Felipe Beckel, os prêmios na curva já estão bem magros e a tendência é que o mercado opere mais de lado no curto prazo. “O ‘play’ mais tranquilo para agora é o de inclinação. Por mais que já se tenha precificado a queda da Selic, é perigoso ficar unidirecional”, afirma Beckel, para quem os riscos são simétricos.

Ele argumenta que o discurso do Banco Central tem sido mais cauteloso do que os sinais apontando para um relaxamento monetário nos próximos meses. “Tem muita narrativa e pressão para o BC cortar o juro, mas parece que Roberto Campos Neto está receoso em dar pistas sobre o ciclo”, disse.

Ontem, em discurso em Fortaleza, Campos Neto expressou otimismo com a melhora das expectativas de inflação no longo prazo, mas, observou, seguem bastante elevadas em razão do debate sobre a meta e as incertezas fiscais. Parte destas, ponderou, está sendo endereçada após a aprovação do arcabouço pela Câmara. “Então, a gente entende que isso vai melhorar”, declarou o presidente do BC, após mostrar que, apesar da melhora das expectativas para a inflação de 2023 e 2024, as projeções de longo prazo do mercado seguem em 4%, quando a meta é de 3%.