Na crise, enquanto um chora alguém vende lenço, diz o ditado popular. Outro garante que fazer previsão é como dirigir um carro olhando pelo retrovisor. O banco holandês Rabobank, um dos maiores do mundo em crédito para investimentos no campo, parece ter juntado as duas máximas e definido sua política no Brasil. “A crise não dura uma vida e o Brasil é uma unanimidade no mundo, como potência produtiva”, diz Ton van Nimwegen, presidente do Rabobank no País. Segundo Nimwegen, o banco está interessado no tamanho do negócio chamado etanol e açúcar. “Não temos dúvida de que o setor sucroalcooleiro se tornará um dos mais importantes na economia do País.” Hoje, o Produto Interno Bruto (PIB) da cadeia da cana-de-açúcar representa cerca de 2% do PIB nacional, que foi de R$ 4,1 trilhões no ano passado.

O otimismo em relação ao futuro é tão grande que o Rabobank prevê dobrar sua carteira de crédito até 2017. Atualmente, o banco empresta US$ 1,8 bilhão aos canavieiros, volume que responde por 40% do total de sua carteira no Brasil. Nas previsões do banco, mais da metade da demanda prevista por crédito deve vir do seu atual portfólio, composto por 40  clientes. O restante será formado por novas empresas, parte delas já no radar dos seus diretores. “Estamos avaliando 15 companhias com potencial de crescimento, para pedir à matriz a ampliação do crédito no Brasil”, diz Nimwegen. O aumento do crédito servirá para atrair empresas que não têm foco no setor sucroalcooleiro, mas que desejam apostar nesse mercado. Como a multinacional americana Bunge, gigante do setor de alimentos, que iniciou seu programa de bioenergia em 2006, e que desde agosto do ano passado já anunciou investimentos de US$ 3,5 bilhões.

Andy Duff, gerente da equipe de pesquisa em agroeconomia do Rabobank Brasil, diz que nos últimos anos muitas tradings e empresas de alimentos estão cobiçando produzir etanol e açúcar, e precisam de crédito para se diversificar. “Essas empresas estão interessadas não somente na produção de cana, mas em toda a cadeia sucroalcooleira”, afirma Duff. No final de 2011, o banco abriu um departamento exclusivo para cuidar desse assunto. “São clientes que vão ajudar o setor a voltar a crescer.”

A todo vapor: a ETH Bioenergia está investindo R$ 1 bilhão neste ano e não descarta a comrpa de usinas

 

Por conta de cenários como o traçado pelo Rabobank, Plínio Nastari, da consultoria Datagro, de São Paulo, acredita que o pior momento da crise já passou. “O ponto crítico ficou no passado, mesmo que o presente ainda seja complicado”, diz Nastari. No Brasil, a estimativa é de que 1,5 milhão dos 7,4 milhões de hectares cultivados sejam renovados na safra 2012/2013. Se isso se confirmar, o País volta ao ciclo normal de substituição anual de 20% de canaviais, levando a 100% de renovação a cada período de  cinco anos. Segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), em 2009, um ano após o início da crise no setor, a taxa de renovação dos canaviais foi de 7%, com recuperação abaixo do esperado nos anos seguintes. De acordo com Duff, o movimento de busca de crédito para a reforma de canaviais já foi detectado pelo banco. Até o ano passado, as operações estavam mais voltadas para o alongamento de dívidas e financiamento do capital de giro dos clientes. Neste ano, o banco acredita que emprestará mais dinheiro para a renovação. “Todas as atenções estão voltadas para a recuperação da produtividade e muitos clientes já estão nos procurando”, diz Duff.

A Copersucar é uma das empresas que estão apostando na renovação das áreas de cultivo. Nesta safra, a empresa substituirá 160 mil hectares de velhos canaviais. Paulo Roberto de Souza, presidente da empresa, afirma que ainda há muita incerteza do que vai ocorrer com o mercado no curto prazo, mas que os investimentos para esse fim estão garantidos. “Estamos interessados em produtividade”, diz Souza. “O que estão suspensos são investimentos para a expansão de área.”

Não é o que está fazendo a ETH Bioenergia, do grupo baiano Odebrecht. Enquanto alguns colocam o pé no freio, por insegurança em relação ao futuro, a ETH tem acelerado nesses anos de crise. Desde 2008, a empresa desembolsou R$ 8 bilhões para construir sete usinas no País. Hoje, a ETH tem nove unidades, cultiva 285 mil hectares e processa 35 milhões de toneladas de cana por ano. Luís Felli, vice-presidente de operações agroindustriais, afirma que os investimentos foram corretos e que não há nenhuma dívida aberta. “Por isso, podemos continuar crescendo.”

Ponto de inversão: Nastari, da Datagro, diz que o pior da crise da bioenergia no País já passou

 

No mês passado, o presidente da companhia, Luís Mendonça, anunciou que, na safra 2012/2013, a ETH promoverá a maior expansão de canaviais da história do setor. A empresa está investindo R$ 600 milhões para abrir 115 mil novos hectares de cultivo. O montante chega a R$ 1 bilhão, contando com a ampliação das usinas. “Nossa visão é de longo prazo e somos otimistas em relação ao mercado de energia limpa e renovável”, diz Mendonça. Segundo Felli, o plano da ETH é chegar a 2015 com capacidade para moer 40 milhões de toneladas de cana por ano, oriundas de 560 mil hectares. “Não descartamos comprar mais usinas”, diz ele.