H á uma boa e uma má notícia para quem planta algodão no País. A boa notícia é que as exportações brasileiras dessa fibra já bateram recorde de vendas em 2012. De janeiro a agosto, o Brasil embarcou 516 mil toneladas do produto, uma alta de 129% em relação às 225 mil toneladas vendidas no mesmo período de 2011, de acordo com a Secretaria do Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O destino principal continua sendo a Ásia, responsável por 62% do volume exportado, com a China puxando as compras. Mato Grosso, maior produtor, também segue como o principal exportador de algodão do País responsável por 45% do total, seguido pela Bahia, com 30%. “Sem dúvida, tratase do melhor resultado já visto em um ano, para essa cultura”, diz Otávio Celidonio, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

A má notícia é que esses resultados se tornaram uma armadilha para o produtor. Preços mais altos estimulam os agricultores a plantar mais na safra seguinte, como vinha acontecendo desde 2009. Com mais oferta na praça, os preços desabaram. Desde janeiro, exportar mais não tem significado ganhos mais elevados. “Os preços internacionais estão muito defasados”, diz Celidonio. “Exportamos mais em tonelagem, mas na média ganhamos menos.” De janeiro a agosto, o Brasil faturou US$ 1,1 bilhão com as vendas externas. Caso as cotações internacionais estivessem no mesmo patamar de 2011, o País teria faturado pelo menos US$ 1,5 bilhão.

Em Mato Grosso, os valores recebidos nas exportações deste ano estão, em média, 24% mais baixos que em 2011. Nos primeiros oito meses do ano, a tonelada da fibra foi vendida à média de US$ 2,2 mil, ante os US$ 2,9 mil registrados no mesmo período do ano passado. No mercado interno, a situação não é diferente com o algodão cotado a US$ 2 mil a tonelada, em média, abaixo dos preços no mercado internacional e em linha com o custo de produção, de US$ 2,1 mil por tonelada, segundo dados do Imea.
“A conta não fecha”, diz Celidônio. “Tem muita gente perdendo dinheiro com o algodão.” Nas últimas safras, cultivar a fibra havia se tornado um ótimo negócio. Tanto que da safra 2009/2010 para a atual a produção nacional cresceu 63%, ficando próximo de 1,8 milhão de toneladas. “Mas o consumo interno permaneceu estanque, na faixa de 900 mil toneladas por ano”, diz Celidonio. “O restante precisa ser vendido a outros mercados, como a China.”

De quebra, o estoque de passagem está altíssimo. O estoque é a sobra que fica guardada de uma safra para a outra, para dar segurança ao País de que não haverá falta de um produto. No caso do algodão, os armazéns estão abarrotados com 500 mil tonela das. Por isso, a saída encontrada pelos produtores para equilibrar os preços da commodity é reduzir a área para a safra 2012/2013, que começará a ser plantada no fim de outubro e se estende até janeiro. A aposta deve ser em culturas mais lucrativas, como a soja e o milho. Segundo o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), o Brasil deve reduzir em 35% a sua área cultivada com algodão. A previsão é passar de 1,3 milhão de hectares vistos na safra 2011/2012 para 845 mil hectares.

Em Mato Grosso a conta já foi feita e 200 mil hectares de algodão da safra passada serão realocados a outras culturas, principalmente a soja. Serão cultivados 520 mil hectares de algodão na safra que está começando, ante 720 mil hectares da safra anterior.

Nas fazendas do Grupo Brisot De Marco (BDM), de Rondonópolis, a 200 quilômetros de Cuiabá, a palavra de ordem é mesmo diminuir a produção. Em 2011, o grupo plantou 11,9 mil hectares. Neste ano serão 10,5 mil e em 2013 a expectativa é de uma queda ainda mais acentuada. “A intenção é ir para 8,5 mil hectares na safra 2013/2014”, diz Alexandre De Marco, diretor do grupo. “Diminuir a área é a única maneira de forçar os preços para uma elevação.”

A estratégia de agricultores como De Marco, de reduzir a oferta para provocar uma melhora nos preços, somente deve surtir algum efeito dentro de duas a três safras. Assim como ocorre no Brasil, os estoques mundiais de algodão também estão altos. São os maiores dos últimos 40 anos. Segundo dados do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (Icac, na sigla em inglês), os estoques mundiais da safra 2011/2012 são de 13,6 milhões de toneladas. Mas a previsão para o estoque final da safra 2012/2013 é ainda maior: 15,2 milhões de toneladas, mesmo com a produção em queda de 8%, estimada em 25,2 milhões de toneladas para a safra. Para Djalma Fernandes Aquino, analista da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), dois fatos pressionam o mercado global. A crise na Europa, que afeta diretamente o consumo, e os altos estoques formados pelos chineses, que têm comprado muito algodão. O estoque chinês da pluma é de seis milhões de toneladas. “Mesmo com o mundo diminuindo a sua produção, ainda restará muito produto estocado”, diz Aquino.

Para se garantir contra quedas ainda mais acentuadas no preço da fibra, De Marco vendeu antecipadamente cinco mil toneladas do algodão que vai produzir nos próximos meses, quase a metade de sua lavoura. A previsão do grupo BDM é colher 11,5 mil toneladas na safra do início do próximo ano. “Saímos rapidamente para travar os preços e conseguimos, pelo menos, não vender abaixo do preço deste ano, o que já é uma vitória”, diz De Marco. “Agora é torcer para que as cotações da fibra, no Brasil, também fiquem mais elevadas que os valores deste ano.”