HORA DE APOSTAR: na próxima safra, o cultivo de soja no País deve crescer 10%, em cima da atual área de cerca de 25 milhões de hectares

Pelo jeito, vai haver congestionamento de caminhonetes zero-quilômetro no ano que vem nas ruas das cidades mato-grossenses de Sorriso, Sapezal e Nova Mutum, as maiores produtoras de soja do País. Os preços do grão chegaram aos maiores níveis em quase quatro anos, nas últimas semanas de abril, na bolsa de Chicago – pouco mais de US$ 14,65 por bushel, para entrega em julho, o maior preço desde 2008. No Brasil, em várias regiões, o preço da saca de soja já superou os recordes daquele ano, no mês passado, chegando próximo à marca de R$ 60 no Paraná e superando os R$ 50 em regiões de Mato Grosso.

A disparada dos preços da soja tem várias razões. Uma das principais é a quebra da safra na Argentina, provocada, principalmente, por uma das piores secas das últimas cinco décadas, no norte do país. A consultoria alemã Oil World, uma das maiores do mundo em estatísticas sobre soja, reduziu o volume previsto da safra do terceiro maior exportador de óleo de soja do mundo, de 44 milhões de toneladas para 42,5 milhões. Além disso, a demanda chinesa, que se esperava permanecer estável neste ano, em torno de 50 milhões de toneladas, está surpreendendo. As estimativas agora são de que a China compre até 55 milhões de toneladas do grão, 10% acima do previsto inicialmente.

CONTRAMÃO: “O cultivo de milho deve recuar 20% na safra 2012- 2013”, diz Molinari, da Safras & Mercado

Há dúvidas, no entanto, sobre se a soja já atingiu os preços máximos neste ciclo ou se poderá subir ainda mais. Os maiores produtores estão preferindo não arriscar. “Agora, é a hora de o produtor fechar vendas e travar estes bons níveis de preços”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Henrique Fávaro. Não por acaso, um quarto da safra 2012-2013 em Mato Grosso, o principal produtor do País, já foi vendido. A boa remuneração desta safra deve elevar a área plantada no Brasil. O analista-sênior da Safras & Mercado, de Porto Alegre, Paulo Molinari, acredita numa expansão de até 10% da lavoura brasileira, hoje em torno de 25 milhões de hectares. “Em Mato Grosso, a área plantada deve crescer de 400 mil a 500 mil hectares, utilizando principalmente pastagens de baixa produção”, afirma Fávaro.

Há argumentos para acreditar que a tendência continuará sendo de alta para a soja, nos próximos meses. No fim de março, o Departamento de Agricultura americano (Usda) divulgou um dado que pode contribuir para que se registrem preços ainda mais altos: a área cultivada com soja nos Estados Unidos deve diminuir cerca de 1%, para 29,9 milhões de hectares, na safra 2012-2013. Os produtores do país estão preferindo o milho, atraídos pelo grande volume de incentivos e crescimento da demanda para etanol. Além disso, com um inverno americano muito mais quente que a média, no Meio-Oeste, o celeiro de grãos do país, houve uma antecipação do plantio de milho em março. O Usda prevê que na próxima safra a área plantada de milho aumente 4%, para 38,8 milhões de hectares, que será obtido em detrimento das lavouras de soja. Mas há quem argumente que o calor no Hemisfério Norte poderá beneficiar a soja de outra maneira. Uma colheita antecipada do trigo de inverno cultivado nos Estados Unidos, por conta do clima mais ameno, deixaria o terreno livre para um maior plantio de soja na chamada “double crop”, espécie de safrinha americana em junho.

Enquanto os produtores brasileiros de soja têm de decidir se vendem agora a preços recorde ou se arriscam a esperar, apostando que os preços ainda podem subir mais um pouco, os produtores de milho sofrem com a situação inversa. Os preços do milho vêm caindo tanto no mercado internacional quanto no Brasil, com a expectativa de uma safra recorde no País. Na temporada 2011/2012 a produção deve atingir 66,6 milhões de toneladas, um crescimento de 16% em relação ao período anterior. Os produtores que se entusiasmaram no ano passado, com a alta de preços do milho na época do plantio, elevaram a área em 20%, para 14,8 milhões de hectares. A situação deve mudar agora. “Acredito que a área vai recuar 20% no Brasil, devolvendo o crescimento da última safra”, afirma Molinari.

Os motores do grão

Por que o mercado é favorável ao Brasil

Preço na bolsa de Chicago

US$ 14,65 por bushel

Demanda chinesa

55 milhões d e toneladas

Área cultivada nos Estados Unidos

queda de 1% – 29,9 milhões de hectares na safra 2012/2013

Recordes de preços

R$ 60 a saca no Paraná; acima de R$ 50 em Mato Grosso