14/08/2025 - 15:17
O setor de biocombustíveis no Brasil segue em expansão. Segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), o segmento deve movimentar cerca de R$ 1 trilhão entre 2025 e 2034, impulsionando pesquisas e o desenvolvimento de alternativas.
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A produção de etanol será a principal beneficiária do crescimento do mercado de biocombustíveis, absorvendo cerca de 60% dos investimentos previstos, totalizando R$ 62,1 bilhões. O valor abrange a construção de novas usinas, modernização de plantas existentes e expansão de canaviais.
É nesse cenário de crescimento e incentivo que pesquisadores da Embrapa estão explorando uma matéria-prima inusitada para biocombustíveis: o Agave tequilana, planta tradicionalmente usada no México para a produção de tequila.
O estudo que está sendo conduzido pela Embrapa Algodão, com apoio da Santa Ana Bioenergia, consiste em analisar o agave e suas variedades para a produção de etanol em locais onde culturas tradicionais como cana e milho não se adaptam, como o semiárido.
Diferentemente da cana-de-açúcar, que demanda um volume considerável de água durante seu desenvolvimento, o agave é uma planta que se adaptada a ambientes secos e com pouca água, como o semiárido nordestino e áreas desérticas no México.
“Embora o milho seja uma excelente matéria-prima para a produção de etanol, ele não se adapta ao semiárido. A cana-de-açúcar também tem suas limitações. As características desse ambiente não permitem competição dessas duas fontes com o agave. Isso é fato”, explica Tarcísio Gondim, pesquisador da Embrapa que está à frente das pesquisas.
Gondim relata à Dinheiro Rural que uma das ideias do projeto é aproveitar os espaços entre as torres de energia eólica para o cultivo de agave, o que por sua vez associa duas fontes renováveis no mesmo espaço.
O projeto visa utilizar diversas variedades de agave em seu banco de germoplasma, como o Agave sisalana (sisal), propícia para a extração das fibras de sisal, e o Agave tequilana, mais utilizada na produção da bebida.

Segundo a Embrapa, o Brasil é o maior produto de sisal do mundo. Em 2023, o país produziu 95 mil toneladas de fibra a partir da planta, sendo a Bahia o principal produtor, com 95% do volume, dentro do chamado Território do Sisal, que abrange 20 municípios. Em segundo lugar está a Paraíba.
O objetivo do estudo é aprimorar o aproveitamento do Agave tequilana, cuja biomassa atualmente tem apenas 4% de utilização industrial, concentrada sobretudo na produção de tapetes, cordas e barbantes.
“Os pequenos agricultores que hoje trabalham com a cultura para fibra podem ser parceiros da empresa e, consequentemente, favorecer essa região que hoje é tão limitada de empregos. Eles podem ser parceiros e viver nas suas próprias terras e, consequentemente, ter um ponto de apoio de valorização do seu produto na parceria que pode ser formalizada”, explica Gondim.
O estudo terá duração prevista de cinco anos, período em que serão conduzidos ensaios para definir os melhores arranjos de plantio, práticas de adubação e tratos culturais, visando maximizar o rendimento e a viabilidade econômica da planta.
Além disso, os cientistas trabalharão no desenvolvimento de metodologias para quantificar o carbono e analisar as propriedades químicas da biomassa de agave, visando otimizar o uso pós-colheita na produção de etanol e na elaboração de ração animal a partir dos resíduos da planta.
Conheça o agave
Agave é uma planta suculenta, conhecida por suas folhas largas e espinhosas. No México, onde surgiu, o agave azul (uma das tantas variedades) é utilizado para a produção da tradicional tequila. Para isso, a planta precisa passar por uma maturação de cerca de oito a 12 anos, chegando ao nível de qualidade desejado pela indústria.

Seus altos índices de açúcar viabilizam a produção do xarope de agave, muito utilizado como adoçante natural. Ao contrário do açúcar normal, que é produzido a partir da cana, o xarope é rico em frutose, e tem baixos níveis de glicose. Isso garante que pessoas com diabetes tenham uma maior tolerância ao produto.
*Estagiário sob supervisão