20/10/2025 - 7:00
Quinta maior em moagem, segunda maior em produção de açúcar. A Tereos quer se tornar uma das empresas líderes em sustentabilidade no setor sucroenergético nos próximos anos. Empresa francesa que está no Brasil desde 2000 vem apostando em alta tecnologia combinada ao uso de biológicos para driblar desafios de safras enxutas.
Segundo o CEO da companhia no Brasil, Pierre Santoul, ao longo dos 25 anos que a empresa está no Brasil, já foram investidos mais de R$ 25 bilhões, recursos que alavancaram a empresa para sair de uma produção inicial de 3 milhões de toneladas de cana em 2 unidades no interior paulista, para 20,5 milhões na última safra em 6 unidades. Atualmente 70% da cana produzida pela empresa é destinada para fabricação de açúcar e 30% etanol.
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Agora, o setor de cana-de-açúcar brasileiro passa por desafios como as instabilidades climáticas que têm provocado oscilações no fluxo de chuvas.
“Nos anos em que tivemos pouca precipitação, como ocorreu na safra 24/25 e na safra 21/22, percebemos quedas de produtividade. Mas em anos que são mais chuvosos, como, por exemplo, a safra de 23/24, a gente percebe aumentos de produtividade. Nota-se que a produtividade agrícola do setor alcooleiro está altamente ligada à precipitação. Esse tem sido o maior desafio do setor”, explica Daniel Pedroso, especialista agronômico da Netafim, empresa de irrigação com forte atuação no setor.
Com para a Tereos não tem sido diferente. A estratégia da empresa é investir em tecnologias de agricultura de precisão para aumentar a produtividade e amenizar o efeito das secas.
Agricultura regenerativa
Um tema central na estratégia de sustentabilidade e excelência agronômica da Tereos, a agricultura regenerativa vem sendo vista como o futuro do agronegócio brasileiro.
O foco da estratégia agrícola do grupo francês é tornar o canavial mais robusto para lidar com os extremos climáticos. Desde 2017, a empresa faz aplicação de vinhaça, fertilizante crucial para estimular a brotação da cana, de maneira localizada, o que, segundo especialistas agrícolas da companhia, foi fundamental para que a produção não fosse tão impactada pelo clima.

Antes, a empresa realizava a aplicação via aspersão, uma maneira de borrifar superficialmente a plantação. A partir de 2017 aplica como um fertilizante líquido utilizando caminhão, com volume menor e mais precisão.
Monetizando a descarbonização
A Tereos busca monetizar o negócio por meio da agricultura regenerativa, oferecendo um produto que combina a redução de carbono com o componente de agricultura regenerativa, o que ajuda clientes globais a descarbonizar, podendo gerar prêmios de 10 a 20 euros por tonelada.
Esses prêmios são pagos quando a empresa consegue comprovar, no fornecimento de açúcar, amido e etanol, uma pegada de carbono comprovadamente menor e atributos de sustentabilidade, atendendo às demandas de descarbonização dos clientes globais.
No caso da Tereos, a demanda é justificada: mais de 85% do açúcar produzido aqui é exportado para outros países, tendo União Europeia, África, Oriente Médio e países do sudoeste asiático como principais clientes, compradores pressionados a encontrar matérias-primas com menor pegada de carbono.
“Hoje a Tereos é a empresa com a menor pegada de carbono dentre os grandes clientes do setor. Atualmente temos 100% da nossa cana própria certificada via Bonsucro, certificação de sustentabilidade, e um pouco mais de um terço da nossa cana de terceiros”, explica Felipe Mendes, diretor de sustentabilidade da Tereos.
A companhia assumiu o compromisso de zerar suas emissões de CO2 até, no máximo, 2050. A meta é alcançar o net zero tanto nas atividades agrícolas quanto na atividade industrial e na comercialização de seus produtos. A empresa também se comprometeu a garantir que, até o fim deste ano, 100% das matérias-primas seja oriunda de áreas não desmatadas.
Outro componente chave na estratégia de descarbonização da Tereos é o biometano. A empresa quer eliminar o uso de diesel em sua frota de caminhões de transporte interno até 2033. O uso de caminhões movidos a biometano faz parte do plano para reduzir as emissões de Escopo 1, que incluem a queima de diesel, e as emissões de Escopo 3, que incluem o transporte rodoviário.
Aposta nos biológicos
A empresa também aposta no uso de defensivos agrícolas biológicos para evitar a resistência das pragas que os químicos tradicionais geram. Atualmente, 100% dos fungicidas e nematicidas são biológicos. No caso dos inseticidas, o percentual é 70% biológicos e 30% químicos.
O foco da empresa agora está na expansão da aplicação de biológicos para controle de pragas, Terraném, e na redução progressiva do nitrogênio através de inoculantes como o azospirilo.
As operações de fertilização das lavouras e aplicação de defensivos são feitas com tecnologia, utilizando sistemas como fluxômetro e GPS, para garantir que a aplicação seja controlada e que não haja sobreposição de produto.

Nos últimos quatro anos, a Tereos também aposta fortemente na utilização de drones no campo. Os equipamentos possibilitam aplicações em áreas sensíveis, como perto de mananciais e cidades, onde aviões não são adequados.
A empresa quer expandir a utilização dessa tecnologia, sobretudo para o aprimoramento da coleta e aproveitamento dos dados que, segundo o CEO da companhia Pierre Santoul, ainda são subaproveitados no setor.
*Estagiário sob supervisão