26/06/2025 - 19:00
A tilápia tem despontado como uma opção de proteína para os consumidores brasileiros. Com isso, o peixe vem aumentando sua participação na piscicultura do país. Dez anos atrás, a produção era estimada em 219 mil toneladas e representava, então, pouco menos da metade (45,5%) da piscicultura brasileira. Já em 2024 foram 887 mil toneladas produzidas, ou 70% de toda a produção nacional de peixes.
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Globalmente, a produção também está em crescimento. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a produção de tilápia no mundo deve alcançar 7,3 milhões de toneladas em 2025, um crescimento de 5% em relação ao ano anterior.
Com esse crescimento, já existem especialistas que apontam que a tilápia pode se apresentar como uma forte concorrente do frango, atualmente a proteína animal mais consumida no país.
“A tilápia vive um momento de consolidação, mas ainda falta ganho de escala. O melhor comparativo que a gente tem é o frango. Olhamos o quanto ele cresceu e ficou significativo, não só no país como no mundo. A tilápia passa por uma curva semelhante, produzindo o peixe em diferentes modelos”, explica Juliano Kubitza, diretor da Fider Pescados.
Atualmente, a tilápia é a única commodity do mundo entre os pescados. Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixesBR), aponta que esse é um dos principais fatores que posicionam a tilápia como uma potencial forte concorrente entre as principais proteínas.
Apesar desse crescimento, a tilápia, assim como todos os pescados, ainda está distante das outras proteínas. A Conab estimou que, em 2024, juntas, as produções de carnes bovina, de frago e suína, atingiram um recorde de 31,57 milhões de toneladas.
Sendo 15,3 milhões de toneladas de carne de frango, 10,91 milhões de toneladas de carne bovina e 5,36 milhões de toneladas de carne suína. Números muito acima dos pescados, que segundo a PeixesBR, atingiram 968. 7 mil toneladas, com a tilápia representando 662.230 desse total.
“Ela está distante das outras proteínas, mas crescendo muito. Uma taxa de 10% ao ano, imagina onde isso vai parar no futuro? Quando se fala de alimento, isso é uma loucura. Um dos motivos que leva a isso é o número de empresas já acostumadas a lidar com outras proteínas que também entraram no setor da tilápia. Eles têm um fator de competitividade que ajuda muito”, explica Medeiros.
O trabalho por trás do fortalecimento da tilápia no mercado
A ascensão da tilápia muito se deve, em boa e parte, a diversos projetos de marketing realizados anos atrás para apresentar a proteína ao público. Foi daí que surgiu o nome Saint Peter, relata o presidente da PeixesBR.
“Fizemos um movimento de colocar um nome bonito na tilápia: ‘Saint Peter’. As pessoas diziam: ‘que peixe sensacional!’ É tilápia! A mesma tilápia que conhecemos. Houve um esforço muito grande para fazer com que as pessoas coloquem o primeiro pedaço na boca”, conta.
O produto que hoje é comercializado como Saint Peter é uma variação da tilápia comum. O sabor e os nutrientes de ambos são os mesmos, mas o nome Saint Peter confere um apelo mais sofisticado. Especialistas apontam que essa prática é comum no mercado, buscando agregar valor a determinado produto por meio da diferenciação.
Outro mecanismo que o setor tem utilizado, é convencer o consumidor que o consumo de peixes é mais saudável do que o das outras proteínas.
Estima-se que uma porção de 100 gramas de tilápia tenha, em média, 20 gramas de proteínas, 1,7 grama de gordura e 96 calorias. O peixe é também fonte de Ômega-3, que contribui na diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares, reduz os processos inflamatórios e ajuda no desenvolvimento cerebral. Possui ainda potássio, fósforo, cálcio e outros minerais em menor escala.
“Estamos buscando mostrar para as pessoas que nenhuma outra proteína entrega tanto no quesito saudabilidade quanto a tilápia. Existe um grande interesse das pessoas nisso atualmente”, aponta o presidente da PeixesBR.
Como funciona a criação de tilápias?
Mais uma vantagem da tilápia é o seu rápido crescimento, atingindo o peso de mercado em um período relativamente curto, o que permite ciclos de produção mais rápidos e maior retorno sobre o investimento.
As tilápias podem ser criadas em diferentes sistemas, todos de água doce, desde tanques escavados até sistemas de recirculação intensivos, o que permite aos produtores de diferentes regiões e com diferentes recursos se dedicar a essa atividade.
Juliano Kubtiza, diretor da Fider Pescados, explicou à Dinheiro Rural como funciona o método utilizado em sua empresa, o sistema dos tanques-rede.
“É semelhante a gaiolas subaquáticas onde os peixes ficam confinados e recebem alimentação controlada, já que não podem se alimentar naturalmente ou nadar pelo lago”.
A unidade possui cerca de 400 gaiolas monitoradas por software, que controla dados como quantidade de peixes, alimentação e tamanho até atingirem o ponto de abate. Após isso, os peixes são transferidos vivos em caminhões com oxigenação e água resfriada para reduzir o estresse, garantindo o bem-estar até chegarem à fábrica, onde passam por atordoamento ( prática utilizada para diminuir o sofrimento no momento do abate, com o objetivo de induzir a inconsciência temporária nos peixes) e abate.
Hamilton Miranda, que tem criação de tilápias para subsistência em sua fazenda na região de Presidente Prudente, em São Paulo, contou os cuidados que adota em sua produção.
“É preciso estar atento à origem dos alevinos de qualidade (peixes em fase inicial de desenvolvimento que passaram pelo processo de reversão sexual). Nesse caso, as fêmeas foram transformadas em machos estéreis, que não se reproduzem, mas crescem com características masculinas, como maior velocidade de crescimento. Além disso, é fundamental oferecer uma ração com teor proteico adequado, garantir um manejo correto, boa oxigenação, respeitar o número de animais por metro cúbico e manter a qualidade da água”, explicou Miranda.
*Estagiário sob supervisão