O ritmo de alta dos preços em outubro surpreendeu investidores e gestores, que passaram a avaliar novos cenários para proteger o patrimônio de um repique da inflação. Segundo especialistas, nesse contexto a renda fixa pode ganhar força, com destaque para os títulos pós-fixados com taxas de retorno atreladas ao IPCA.

Pressionado pelos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) acelerou em outubro para 0,94%. Trata-se da maior taxa para o mês desde 1995 e da maior alta mensal desde dezembro do ano passado. O IPCA-15 é considerado uma prévia da inflação oficial do País, o IPCA, e é auferido entre os últimos 15 dias no mês anterior e os primeiros 15 dias do mês vigente.

O resultado surpreendeu o professor Belmiro do Nascimento João, de São Paulo. Ele tem boa parte de seus investimentos em títulos de renda fixa de longo prazo – e não pretende mexer nisso. Sua dúvida recai sobre as novas aplicações. “Eu ainda não sei o que fazer, para onde ir. Acho que vou deixar em um CDB de liquidez diária e ficar esperando o que vai acontecer na economia, para definir um rumo mais definitivo”, afirma.

Para Daniel Weeks, economista-chefe da gestora Garde, João não está de todo errado. Ele diz que ainda é cedo para dizer se a inflação veio para ficar ou se é pontual, para se dissipar ao longo dos meses. Mas, a julgar pelo aumento dos preços no atacado, Weeks acredita que o movimento deve permanecer no horizonte ainda por um tempo. “Isso tem impacto nos investimentos. Dado que os juros Selic estão bem baixos, a 2%, ter uma parcela dos investimentos alocada em títulos de renda fixa que se beneficiem da alta da inflação é uma boa oportunidade.”

Opções

O mercado oferece diversos títulos de dívida atrelados à inflação, que podem ser públicos ou privados. Entre os privados, algumas debêntures oferecem ao investidor um prêmio, além da recomposição da inflação. Já com relação aos públicos, o aplicador os encontra, por exemplo, no site do Tesouro Direto, com a inscrição NTNB, acrescido de IPCA+. Isso significa que os ativos, no vencimento, pagam ao seu detentor um valor determinado, acrescido da inflação verificada no período, sendo por isso conhecidos como pós-fixados.

“A dica é sempre essa: subiram juros ou inflação, procure uma forma de se proteger, colocando uma parte do dinheiro em títulos pós-fixados”, afirma o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Fábio Gallo.

Ex-economista-chefe da XP e hoje também professor da FGV, Marcos Ross diz esperar que o aumento nos preços mexa também nos investimentos. “É o caso de pensar em um pouco de proteção contra uma possível alta de inflação. (O investidor) tem de diversificar, mais que nunca”, afirma.

Para Ross, o governo, escorado em medidas extraordinárias como o auxílio emergencial, gerou um choque de demanda mais forte do que o previsto, com aumento nos preços do atacado. “O mercado já vê o IGP-M em 17% em 2020.” O Índice Geral de Preços – Mercado sofre grande alta devido à sua composição ser influenciada pela valorização das commodities e do dólar, que se valoriza quase 30% neste ano ante o real.

“Acredito, ainda mais pela questão fiscal, pela forma como o governo tem se endividado, que vamos ter uma inflação maior do que a esperada e uma taxa de juros que começa a subir no ano que vem”, diz Fabio Passos, que comanda a área de investimentos do banco Indosuez.

No mercado, o balcão de compra e venda de juros futuro têm sinalizado a aposta dos investidores em um ciclo de alta na taxa Selic, hoje a 2% ao ano. Os títulos com vencimento em 2023 trazem a Selic a 4,86%, os de 2025, a 6,59, e os de 2027, a 7,44%. “A renda fixa é importante para diversificar e se proteger. Eu, particularmente, tenho sido muito crítico sobre a visão quase que única de alguns investidores em aplicar na renda variável. Parece futebol de criança, que a bola passa e vai todo mundo atrás”, compara. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.