Ninguém consegue entrar na loja de eletrônicos do comerciante Ederson Fabiano Nicolau, de 38 anos, no centro de Saltinho, interior de São Paulo, sem pisar na foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência, impressa em uma espécie de capacho.

“Aqui ninguém entra sem limpar bem os pés”, disse Nicolau, que se declara “bolsonarista roxo, armamentista e CAC (caçador, atirador e colecionador de armas)”. A fachada da loja está decorada com uma foto do presidente Jair Bolsonaro, do PL, candidato à reeleição.

Com 8,5 mil habitantes e 5.661 eleitores, Saltinho é a cidade mais bolsonarista do Estado de São Paulo. No primeiro turno, ele recebeu 4.143 votos, ou 75,77% dos votos válidos, enquanto Lula teve 909 (16,62%). No Brasil, Bolsonaro só teve votação mais expressiva em Nova Pádua, no Rio Grande do Sul, onde recebeu 83,8% dos votos válidos.

Sem nunca ter ido a Saltinho, Bolsonaro também puxou votos para seu candidato a governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Mesmo desconhecido dos moradores, ele teve 3.447 votos (66,99%) ante 880 (17,76%) do segundo colocado, o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que concorreu à reeleição, mas ficou fora do segundo turno.

Nicolau decidiu transformar uma toalha com a foto do ex-presidente petista em pano de chão há um mês e disse que foi por revolta. “Em 2002 votei no Lula, mas, depois de tudo o que ele fez, não consigo engolir”, disse, sem entrar em detalhes. “Quem chega faz questão de pisar e esfregar o pé.”

Para o funcionário público Val Mazziero, de 62 anos, um dos poucos lulistas declarados da cidade, Saltinho é tradicionalmente uma cidade “chapa-branca”, que apoia quem está no governo. “Era um reduto tucano, agora é bolsonarista.”

Até 1991, Saltinho era distrito de Piracicaba e, em 30 anos de autonomia (foi emancipada em 1992), só teve dois prefeitos que não eram do PSDB. A cidade foi fundada por um militar, o sargento-mor Fernando Ferraz de Arruda, conhecido como Major Fernando, e logo se tornou um dos principais polos canavieiros do interior. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que leva em conta indicadores de qualidade de vida, é o 33º mais alto entre os 645 municípios paulistas, superando cidades como Piracicaba e Araçatuba. Não há favela e apenas 110 pessoas recebem o Auxílio Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.