Canola: produtos transgênicos já são usados em 29 países

A Europa está à beira de uma invasão. Quem pretende desembarcar nas costas do Velho Continente são as polêmicas sementes transgênicas, que buscam tomar de assalto seu até agora fechado mercado agrícola. Pelo menos esses são os planos da mentora do assédio genético: a Basf. A arma secreta do conglomerado de indústrias químicas é uma nova geração dos produtos que, além de aumentar a produtividade, promete fortalecer a saúde dos consumidores. “Estamos convencidos que esses novos transgênicos vão diminuir a resistência do público e dos governos às sementes”, disse à DINHEIRO RURAL, Stefan Marcinowski, membro do board global da Basf, durante conferência realizada em novembro na sede da companhia, na cidade de Ludwigshafen, no oeste da Alemanha.

Obstáculo: para Eduardo Leduc, a falta de informação gera preconceito contra os transgênicos

Segundo Marcinowski, a primeira geração de transgênicos era formada por produtos que traziam vantagens só ao produtor, como sementes mais resistentes a insetos e mais tolerantes a herbicidas. Já a nova geração também vai trazer alimentos com maior efeito nutricional, contendo mais vitaminas, proteínas e aminoácidos. Um dos primeiros a chegar às prateleiras das revendas de insumos agrícolas deverá ser um novo tipo de canola que produz óleo com ômega-3 – um ácido graxo normalmente encontrado em peixes que reduz o risco de problemas cardíacos, principal causa de mortes nos países desenvolvidos. “Os campos vão se transformar em fábricas de proteínas e medicamentos”, aposta Marcinowski.

Embora não comercialize as sementes diretamente, a Basf desenvolve o produto em parceria com empresas como a Monsanto e ganha royalties em cima das vendas. No caso da nova canola, o produto será distribuído e comercializado por outro gigante do setor, a Cargill, e deverá desembarcar no mercado dentro de cinco a seis anos. O objetivo da Basf é que, ao final da década, os europeus já contem com diversos tipos de alimentos transgênicos em seus supermercados. “Onde os transgênicos já são usados eles são bem avaliados”, afirma Peter Eckes, presidente da unidade de biotecnologia agrária da Basf. “Nos países que permitiram o uso, os fazendeiros já conhecem a sua importância. Agora, com produtos que oferecem benefícios à saúde, será a vez do público perceber essas qualidades”. É a mesma linha defendida por Eduardo Leduc, vice-presidente para a América Latina da unidade de proteção de cultivos, para quem a falta de mais informação para o consumidor dá margem ao preconceito em relação aos produtos transgênicos. “Muitas vezes ele se posiciona contra os transgênicos, mas consome diversos produtos desse tipo sem saber”, diz Leduc. “A insulina, um medicamento usado por portadores de diabetes, por exemplo, é geneticamente modificada”.

No mundo todo, o uso de transgênicos está em pleno crescimento. No ano passado, os campos cultivados com produtos dessa categoria atingiram a área recorde de 148 milhões de hectares, ou 10% da área plantada mundial. Os produtos geneticamente modificados foram usados em 29 países por mais de 15 milhões de agricultores, segundo dados da empresa. O peso do segmento fica evidente com a constatação de que, embora responda por 6% do faturamento, o segmento agrícola recebe 26% do E 1,5 bilhão que a Basf destina anualmente para pesquisa e desenvolvimento. Só a parte de pesquisas específicas em transgenia recebe cerca de E 150 milhões por ano.

 

O Brasil não foge à regra. O País possui a segunda maior área de cultivo de transgênicos no mundo, atrás dos Estados Unidos. Cerca de 80% da safra nacional de soja, por exemplo, é modificada biologicamente. No total, existem na lavoura brasileira 25 milhões de hectares de culturas transgênicas. O peso do campo nos planos da Basf é ainda maior por aqui. O segmento agrário é responsável por 30% do faturamento na América Latina – cinco vezes mais que no restante do mundo e maior porcentual global do setor.

O aumento da ênfase da Basf nos transgênicos veio junto com uma pesquisa realizada pela empresa em seis países – Brasil, Índia, Estados Unidos, França, Alemanha e Espanha – para descobrir as relações, demandas e visões entre consumidores e produtores agrícolas. Uma das principais conclusões do trabalho é que, ao mesmo tempo em que demandam mais oferta de alimentos, os consumidores também exigem um preço mais baixo. “A maioria das pessoas acha que o leite nasce na caixinha, a carne no frigorífico e o tomate no supermercado”, diz Leduc. “Há pouca noção do esforço feito pelos agricultores para aumentar a oferta.”

Dessa forma, a principal demanda dos produtores para enfrentar esse dilema é clara: soluções que proporcionem mais produtividade. É justamente esse nicho que será o grande alvo da Basf daqui para a frente. A empresa aposta no lema “mais com menos”. Ou seja, produzir mais quantidade de alimentos em menos terra. A transgenia aparece como a resposta da companhia a esse desafio. “Só os transgênicos podem garantir a melhoria de produtividade no nível necessário. Eles são o futuro”, diz Eckes.