A má-fama que carrega o município paraense de São Félix do Xingu, de ser um dos maiores desmatadores da Amazônia Legal, pode estar com os dias contados. Pelo menos no que depender do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que aposta no desenvolvimento sustentável da produção de cacau na região. É com o projeto Produção e Comercialização de Cacau com Responsabilidade Socioambiental que o Imaflora espera aperfeiçoar o sistema produtivo do fruto, melhorar as condições de vida dos 150 pequenos produtores da Cooperativa Alternativa dos Pequenos Produtores Rurais e Urbanos de São Félix do Xingu (Cappru), e de quebra mudar a reputação da região. “A ideia é tornar São Félix do Xingu referência na produção de cacau”, afirma Eduardo Trevisan Gonçalves, coordenador do projeto. “A região poderá ainda ser um ponto para troca de informações sobre a produção sustentável e o avanço tecnológico em pós-colheita.”

 

Tudo isso porque o Imaflora identificou um potencial na região para produção de chocolate orgânico. “O objetivo é chegar a uma matéria-prima de qualidade, para acessar mercados”, diz Gonçalves. O primeiro passo já foi dado. O Imaflora levou no mês passado, um grupo de 33 produtores de cacau, de São Félix do Xingu e Altamira, também no Pará, numa incursão em Ilhéus (BA), região que já conquistou seu espaço no mercado internacional de cacau.

 

Derli Barella, de São Félix do Xingu, é um dos produtores que estão de olho no ganho da produtividade e na qualidade dos sete mil pés de cacau que possui, além de algumas cabeças de gado leiteiro, pois a rentabilidade do fruto, por hectare, é bem superior à da pecuária. Na Bahia, Barella aprendeu que o rebaixamento da altura dos pés para controle de eventuais pragas poderia ser uma medida facilmente adotada, sem custo, apenas com o domínio da técnica de poda. Outra novidade foi aprender sobre o sistema de clonagem do cacau. “Essa será outra ferramenta replicada entre os produtores para o aumento da produtividade”, diz o produtor e secretário da Cappru, Wilson Martins. “Esse melhoramento genético pode contribuir para a seleção dos frutos e para a busca de variedades com mais qualidade.”