Retorno garantido: as operações de barter tendem a crescer no Brasil como uma das mais seguras formas de negócio no campo

Operações básicas e que remetem ao início do relacionamento mercantil entre os índios e os colonizadores europeus têm movimentado milhões de reais nas transações do agronegócio moderno no Brasil e consistem numa tendência financeira sustentável para produtores e fornecedores. O bom e velho sistema de trocas, o escambo, ou ainda, permuta, agora chamados de operações de barter, estão “salvando a lavoura” de muitos produtores rurais que se viam em dificuldade para obter crédito e adquirir sementes, fertilizantes e corretivos para sua produção, e também das empresas fornecedoras destes insumos, que viram nas operações de barter uma forma de comercializar seus produtos sem risco de calote. A modalidade já representa até 30% das vendas das multinacionais de insumos presentes no Brasil e devem movimentar US$ 2,5 bilhões nos próximos cinco anos, envolvendo as culturas de soja, algodão, milho, café, cana-de-açúcar, arroz, trigo e frutas.

Na prática, a operação de barter implica na antecipação da venda de insumos para os produtores rurais, que emitem uma Cédula de Produto Rural (CPR) comprometendo-se a entregar determinado volume de produção correspondente aos valores de insumos recebidos. “Como se trata de commodities, é possível travar o preço de referência de acordo com a melhor oportunidade na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuro”, explica Dirceu Ferreira Junior, gerente nacional de barter da Syngenta, empresa líder no ramo. Na entrega da produção (que pode ser à vista ou a prazo para a próxima safra) a operação é triangulada, pela entrada de uma trading, que faz o pagamento diretamente à empresa. “Todas as operações de barter passam por uma criteriosa análise de riscos pela empresa e pela trading antes de serem feitas”. Segundo ele, as operações envolvem desde micro a mega produtores rurais. “É um tipo de operação em que todos ganham: o produtor sabe o quanto vai pagar e foge do risco das oscilações do mercado porque os preços já foram travados, enquanto a indústria reduz o risco de inadimplência, e a trading concentra em uma única compra a produção de vários produtores.” Para as perdas de safra provocadas por catástrofes climáticas, produtor, empresa e trading negociam caso a caso. Neste ano, a Syngenta trabalha a décima safra consecutiva com esse tipo de operação.

O mercado está otimista, todas as empresas de insumos atuantes no Brasil trabalham a modalidade e almejam crescer. Em 2009, 30% das vendas da Syngenta foram baseadas em barter e a expectativa é que 2010 movimente algo em torno de 32%. Já a alemã Basf calculou em 10% o percentual atingido no ano passado, e espera que o barter atinja 30% de suas vendas até 2011, sobretudo com o início das operações envolvendo açúcar e etanol, enquanto a FMC almeja crescer 25% ainda no ciclo 2010/11. A empresa iniciou em 2009/10 o barter com soja, calcula lucrar US$ 30 milhões nesta safra e chegar aos US$ 100 milhões em 2013/14, segundo Gilberto Mattos Antoniazzi, diretor financeiro. Luiz José Fraga Traldi, diretor da planejamento estratégico da israelense Milenia Agrosciência, de Londrina (PR), onde o barter respondeu por 20% das vendas em 2009, almeja crescer mais 5% na modalidade. “O momento é bom e a indústria vai acompanhar o crescimento do segmento. É uma tendência positiva para toda a cadeia produtiva.”

No mercado internacional, porém, a operação barter simplesmente não existe em razão da falta de títulos de garantia. “Conseguimos dar sustentabilidade às operações em função da existência da CPR, que é a garantia do negócio. Em outros países, não existem títulos semelhantes. Estamos tentando implantar o sistema em países que têm uma situação parecida com a do Brasil, como a Argentina, e, principalmente, nos países do Leste Europeu, onde já existem projetos-piloto para isso”, diz Ferreira.