01/09/2011 - 0:00
Gargalos: a sobrevalorização do real também compromete o setor, além do alto custo de produção
Embora a laranja não seja revestida por uma casca áspera e espinhosa, como o abacaxi, a indústria brasileira encontra dificuldade para descascar a fruta. O consumo mundial de suco de laranja caiu 127 mil toneladas, nos últimos sete anos, passou de 2,415 milhões de toneladas, em 2003, a 2,288 milhões de toneladas, no ano passado. A notícia é particularmente ruim para os produtores brasileiros, responsáveis por mais de 50% do suco de laranja consumido no mundo. Somente nos Estados Unidos, principal comprador do produto brasileiro, o recuo no consumo, de 2009 para 2010, foi de 5%. O que representa 42 mil toneladas a menos, ou R$ 136,6 milhões em uma safra, que o setor deixou de faturar. Esse volume equivale ainda ao total de suco industrializado consumido no Brasil, em 2010. “É o momento de o setor se reinventar, pois o cenário é desafiador”, diz Christian Lohbauer, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). “Precisamos entender essas mudanças, para implantar ações e continuarmos competitivos.”
São Paulo: o Estado é responsável por 80% da produção nacional, com 600 mil hectares cultivados com laranja
A queda no consumo de suco de laranja se deve especialmente ao aumento da concorrência com outras bebidas. “Os exemplos são as águas aromatizadas e os energéticos”, diz Lohbauer. Os números que mostram essa mudança de comportamento dos consumidores fazem parte de uma pesquisa encomendada, neste ano, pela CitrusBR. Foram analisados os 40 principais países compradores da bebida, entre 2003 e 2010. Em mercados importantes, como Alemanha e Japão, a queda foi de 22,8% e 18%, respectivamente. Em dinheiro, levando-se em conta os preços atuais do suco no mercado internacional, as perdas giram em torno de R$ 410,1 milhões.
Como toda moeda tem duas faces, o estudo também apresenta o que acontece do outro lado. Nesses sete anos, se de um lado, houve uma queda acentuada no consumo de suco nos principais países ricos; de outro, registrou-se o crescimento da demanda em países emergentes, entre eles alguns que não figuram na lista dos maiores importadores do produto, como Brasil, Rússia, Índia e China, o grupo denominado BRICs, e no México. Nesses mercados foi registrado um aumento de 41% ou 78 mil toneladas de suco de laranja. No entanto, o crescimento ainda não compensa as perdas, já que nos outros 35 principais países para os quais o Brasil exporta suco de laranja, a queda de 9,2% representa um recuo de 205 mil toneladas. Isso se dá, segundo Lohbauer, principalmente, porque os países com menor renda consomem o suco de laranja de forma diluída, como néctares e refrescos. “O crescimento dos emergentes é um movimento lento que vai levar um bom tempo para se consolidar”, diz. Outro exemplo do bloco de novos consumidores é a China, onde houve um aumento de 99% no consumo, o equivalente a 44 mil toneladas. Na Alemanha, por exemplo, o recuo no período foi de 58 mil toneladas de suco.
Para o citricultor e diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gastão Crocco, além do recuo do consumo nos países europeus e nos Estados Unidos, outro fator de preocupação para os produtores de laranja são os custos de produção, no País. “A sobrevalorização do real está comprometendo toda a cadeia”, diz Crocco. Para aliviar o setor, o governo federal fez um aporte de cerca de R$ 300 milhões, em julho, para as empresas formarem estoques de suco, ficando um valor mínimo de R$ 10,50 pela caixa de 40 quilos. “Mas nosso custo está acima disso”, diz Grocco. Para Lohbauer, da CitrusBR, o dólar abaixo de R$ 1,70 compromete a indústria e inviabiliza as exportações de suco de laranja. “A cotação ideal do dólar seria de pelo menos R$ 2,30”, afirma. Lohbauer diz que o governo tem condições de ajudar um pouco mais a amenizar os problemas no setor, adotando medidas que facilitem os financiamentos ao produtor e desonerem a indústria. “Ou, poderia devolver à indústria o crédito em PISCofins, de R$ 200 milhões”, diz. O País é responsável por 85% das exportações mundiais de suco de laranja. Em 2010, o Brasil exportou 1,2 milhão de toneladas do produto e faturou R$ 3 bilhões. O Estado de São Paulo, a maior região produtora, tem 600 mil hectares cultivados com a fruta e é responsável pela produção de 80% da laranja nacional. “Não é pouco o que geramos no campo”, afirma Lohbauer.
Produção mundial (2009/2010): 2,019 milhões de toneladas
Apesar de a indústria ainda não ter definido um plano de ação efetivo e de longo prazo, no sentido de inverter o cenário de queda no consumo da bebida, um primeiro passo já foi dado. “Estamos estudando as redes sociais, como Facebook, Twitter e YouTube, e investindo em campanhas para fomentar o consumo do suco no mercado interno e lá fora”, diz Lohbauer. A ideia é mudar abordagem que associa o suco de laranja apenas ao café da manhã. Um exemplo é a campanha mundial feita em conjunto com a Agência Brasileira de Exportações e Investimentos (Apex), “I Feel Orange”, algo como “eu me sinto laranja”, em português, que já conta com um site (www.ifeelorange. com). “A ideia é provocar os consumidores”, diz Lohbauer. De maneira divertida, a indústria procura chamar a atenção dos internautas, mostrando que a laranja é um produto saudável e sustentável. “A campanha ainda é recente, mas estamos botando fé que vai funcionar”, diz. Segundo Lohbauer, já foram injetados R$ 2 milhões na campanha.