US$ 5 mil é o valor de contrato mínimo negociado na BM&F Bovespa para a operação de hedge

0,3% do valor do contrato é a taxa média de corretagem

25% da produção mundial de laranja sai dos pomares brasileiros

196,4 milhões de caixas de 40 quilos foram colhidas na safra 2010/2011

Produtores de soja, milho, cana-de-açúcar e criadores de gado, habituados a vender suas safras e lotes no mercado internacional, já estão familiarizados com as ferramentas do mercado financeiro e se tornaram craques na busca de alternativas para “travar” o preço de venda de sua produção no mercado futuro de commodities e, assim, proteger seus lucros das quedas do dólar.Mas a prática do hedge (cerca viva, em inglês), como são chamadas as operações financeiras de proteção, ainda escorre pelos dedos do setor da citricultura, ramo em que o Brasil atua como líder global, responsável por 25% da produção mundial (196,4 milhões de caixas de 40 quilos da fruta, colhidos na safra 2010/11).Os produtores de laranja culpam a falta de informação e a dificuldade do setor em lidar com o mercado financeiro, em razão do excesso de burocracia, como as principais causas deste distanciamento. De outro lado, analistas financeiros garantem que é possível proteger os preços de venda da laranja no mercado futuro com as operações de hedge por meio dos contratos futuros negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros, a BM&F, e que são os citricultores que não querem aproximação. E aí surge, inevitável, a “pergunta tostines”: é um mercado pequeno porque não se faz hedge ou não se faz hedge porque é um mercado pequeno?

Não são poucos os casos de citricultores que tiveram prejuízos devido à queda do dólar na entrega da produção, já que os contratos firmados com a indústria são indexados à moeda americana. Por isso, lançar mão de meios capazes de minimizar ou até evitar essas perdas pode representar a salvação da lavoura, ou melhor, dos pomares. Para o produtor de laranja, é certo, o hedge não é tão simples assim. Para citricultores como Marco Antônio dos Santos, diretor da Câmara Setorial da Laranja, órgão ligado à Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) e produtor em Taquaritinga, interior do Estado, o hedge é assunto morto.

 

SEM HEDGE: para Gastão Crocco, diretor de citricultura da SRB, o problema ainda é a falta de informações para os produtores de laranja

“Já tentamos driblar a concentração da indústria, discutimos muito o assunto e chegamos à conclusão de que é impossível fazer hedge na citricultura”, diz Santos. “É muito complicado para o produtor ter acesso às bolsas. A burocracia é excessiva.” Segundo ele, apenas uma mudança nas regras das operações de hedge as tornariam viáveis para o setor. A falta de informação seria outro problema. “Se houver um diálogo mais esclarecedor, é possível sim que os citricultores comecem a fazer hedge, mas não há aproximação entre os operadores e a cadeia produtiva”, diz Gastão Crocco, diretor de citricultura da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Ele mesmo, considerado um grande produtor de cítricos na região de Itápolis, no interior paulista, afirma que não opera com hedge porque não sabe onde buscar esclarecimentos. “É um mundo distante para o citricultor, não há opções para quebrar este obstáculo”, afirma Crocco.

 

 

Não, obrigado: o citricultor Marco Antônio dos Santos, diretor da Câmara Setorial da laranja, já desistiu de atuar no mercado de futuros

O hedge funciona como um seguro contra variações de preços nos mercados financeiros de commodities. No caso da citricultura, a proteção mais comum é feita contra as oscilações do dólar. É possível realizar esse tipo de operação aplicando em fundos de investimentos atrelados ao dólar, mas o mais comum são as operações na BM&F. “Basicamente, o que se faz é comprar ou vender contratos”, explica o analista da corretora H. Commcor, Samuel Garcia Salomão Filho. No caso da variação dos preços do dólar, esses contratos compensam as mudanças de preço. Imagine um produtor que tenha fechado contrato de venda da caixa da laranja a US$ 5, com a cotação média atual de R$ 1,85. Isso lhe renderia um valor de R$ 9,25 por caixa. No caso de uma variação cambial que levasse a moeda americana a R$ 1,60, o valor da caixa cairia para R$ 8. Para evitar essa perda, o produtor pode “travar” o preço de R$ 1,85 na bolsa. Com isso, caso o dólar caia, ele recebe a diferença. “O produtor perde no contrato, mas ganha na bolsa”, afirma Salomão.

 

laranja na bolsa: apesar de viáveis, operações de hedge para produtores de laranja ainda são possibilidades distantes e muito complexas

 

Apesar da complexidade, as operações de hedge não são exclusivas dos grandes produtores. A exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, médios e pequenos produtores podem lançar mão desse tipo de proteção. “Não posso dizer que é tão simples como operar hedge com commodities tradicionais, a exemplo da soja ou do milho, mas é possível”, diz Gilberto Messias Toniolo, da AgroGT, de Campinas (SP). De acordo com Toniolo, o contrato mínimo negociado na BM&F é de US$ 5 mil, mas o principal custo para operar está no pagamento de ajustes diários. Caso a cotação do dólar suba mais que a posição feita em bolsa, é preciso pagar a diferença diariamente. Além disso, há ainda a taxa de corretagem que, em média, representa 0,3% do valor do contrato. “Quem opera hedge precisa ter uma boa gestão de caixa”, diz o consultor. Como qualquer operação no mercado financeiro, há riscos. “É necessário prestar atenção nas variáveis da economia que podem sinalizar queda ou subida do dólar para fazer uma boa posição”, diz Toniolo.