Figueiredo: a integração lavourapecuária permite a ele irrigar 2.254 hectares, com 26 pivôs, gerando produção para o mercado e alimento para o rebanho confinado de vacas holandesas

Um lugar onde o brilho dos cristais se mistura ao colorido das plantações. Assim é Cristalina, cidade no interior de Goiás que durante décadas atraiu garimpeiros em busca das pedras espelhadas. Hoje, o município chama a atenção por ser a capital nacional da agricultura irrigada, com 570 pivôs, numa área de 48 mil hectares onde literalmente se produz embaixo d’água. A lavoura gera uma renda extra de aproximadamente R$ 400 milhões às fazendas do lugarejo. Esse potencial agrícola não é à toa, já que a altitude de 1.250 metros contribui para o desenvolvimento da agricultura. Com esse empurrãozinho da natureza, ao longo da estrada o que se vê são plantações de culturas diversas, em que a variação de verde e marrom do cenário ajuda a identificar as lavouras já colhidas daquelas que ainda esperam pelas máquinas. E nem bem os grãos são colhidos, no outro dia uma nova cultura é plantada. “Isso só é possível graças à irrigação da lavoura, que permite o plantio durante todos os meses do ano”, explica Alécio Maróstica, presidente do Sindicato Rural de Cristalina e presidente da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).

Energia controlada

Ligar um pivô fora de hora pode custar cerca de R$ 5 mil ao fazendeiro

Com 25.599 hectares, dos quais 2.254 são irrigados, o paranaense Reinaldo Figueiredo é um dos maiores irrigantes da região. De suas lavouras brotam aveia, sorgo, milho, feijão, soja e café, sem contar a produção de ovos e os mais de 25 mil litros de leite produzidos por hectare. “Para nós, uma atividade tem que agregar valor a outra. Por isso é essencial organizar a produção, algo que o sistema de irrigação nos ajuda a fazer, já que produzimos o alimento dos bois aqui na fazenda e aproveitamos o esterco deles como adubo para as plantações, otimizando os custos”, conta Figueiredo. Quem também aproveita as possibilidades da irrigação é a Goiás Verde. A empresa tem 4.800 hectares irrigados e produz uma variedade de dez itens vendidos para a indústria, além da linha de produtos enlatados com marca própria. Carmo Spies, gerente agrícola da empresa, conta que o sistema permitiu a integração entre as atividades, o que gerou um modelo de operação que aproveita ao máximo os resíduos. “Em nosso tripé está a produção agrícola, o processamento para a indústria e o confinamento bovino, para onde direcionamos os resíduos orgânicos gerados nas duas primeiras”, enumera. Esses restos se transformam em alimentação para o gado, que por sua vez gera carne para o mercado e esterco para adubar a lavoura, completando o ciclo sustentável de produção.

Spies, da Goiás Verde: a integração lavoura-pecuária possibilita a redução do impacto ao ambiente e redução de custos ao empresário

 

R$ 400 milhões: é o valor gerado pela agricultura irrigada em Cristalina

A diversidade de culturas se transformou em marca da região, que, por produzir o ano todo, também se tornou um polo agroindustrial. Para continuar a crescer, a Faeg, em parceria com o governo federal, está desenvolvendo um projeto para construir 80 barragens em quatro anos, as quais atenderão à demanda de toda a região e deverão proporcionar um aumento de 30 mil hectares da área irrigada. Maróstica explica: “Por meio de barragens, os produtores conseguem armazenar a água da chuva sem interferir na vazante do rio. Com isso, aumentam a produtividade e reduzem o impacto sobre o ambiente.” Mas, apesar do desenvolvimento obtido com o sistema irrigado, a região sofre com déficit de energia. Este, aliás, é o caso da Agrícola Wehrmann, que irriga 50% de suas terras, mas com a distribuição de energia irrigaria os 100%. “Se houvesse condições de irrigar toda a lavoura, nós produziríamos 50% a mais em volume e geraríamos mais mil postos de trabalho”, explica Verni Wehrmann, presidente da empresa.

Ciclo sustentável: o esterco gerado pelo boi vira adubo da lavoura, que também alimenta o gado

Mesmo com algumas dificuldades, a produção em Cristalina continua diversificando. Novas culturas estão em desenvolvimento e já existem projetos de produzir frutas para atender à demanda de fabricantes de suco. De olho nesse potencial, Figueiredo já enxerga novas possibilidades para o futuro: “Pretendo investir na produção de queijos e qualificar funcionários, inclusive fora do Brasil, para desenvolvermos um produto com a mesma qualidade com que desenvolvemos nossa produção agrícola”, finaliza.