Cena rural: O mamoeiro, óleo sobre tela de Tarsila do Amaral

Se Pero Vaz de Caminha chegasse hoje ao Brasil e escrevesse uma carta ao rei de Portugal contando sobre as riquezas do País, certamente escreveria “aqui, em se plantando, tudo dá e ainda se lucra com as commodities no mercado financeiro.” Que o digam os bancos, que desde o ano passado vêm apostando no setor de fundos de commodities agrícolas, modalidade de investimento voltada para clientes qualificados, com ao menos R$ 300 mil em aplicações. Os fundos operam com renda variável e operações em mercados futuros que começam a ganhar cada vez mais adeptos por aqui. Entre as justificativas para a crescente procura por esse tipo de investimento estão a forte vocação agrícola do Brasil e a demanda mundial por commodities, que cresce a cada dia, especialmente na China. Quem enxergou esse cenário e faz as suas apostas é o banco britânico HSBC, considerado o maior do mundo. No dia 3 de maio a instituição financeira lançou seu primeiro fundo de commodity no Brasil, que permanecerá ativo até outubro de 2011.

Segundo Flávio Arruda, diretor de produtos da HSBC Global Asset Management, a disponibilidade mínima para aplicação é de R$ 15 mil. Em troca, o banco oferece aos investidores uma cesta com 23 commodities, das áreas de energia, mineração e agrícola, o que garante a diversificação dos investimentos, com a segurança de um fundo de capital garantido. “Em um mês de captação, fechamos o fundo em R$ 63 milhões”, comemora o executivo.

 

 

 

 

Ele explica ainda que o rendimento do fundo está ligado à variação do índice de commodities. Se no fechamento das operações houver alta de 30%, o investidor coloca no bolso um montante equivalente a 110% da valorização do índice. Caso o investidor aplique R$ 100 mil e o índice suba 20% no período, o retorno do fundo será de 22% ou R$ 122 mil. Se essa variação ultrapassar os 30%, o lucro do cotista será na casa dos 33% ou R$ 133 mil. Diante do retorno que o banco obteve logo no primeiro fundo, Arruda dispara: “Estamos estudando a possibilidade de lançar novos fundos no setor no médio prazo.”

Miguel Biegai: gestor do HSBC diz que há espaço para mais fundos no campo

Esse tipo de aplicação ganha espaço no País desde 2007, mas perdeu força durante a crise financeira e começou a se recuperar no ano passado, quando movimentou um volume estimado em R$ 450 milhões.

“Tudo indica que este montante deve dobrar em 2010, indo a R$ 900 milhões ou a R$ 1 bilhão”, explica Miguel Biegai, analista da consultoria Safras & Mercado. Esse “sucesso” dos fundos de commodities no Brasil é na verdade uma tendência já verificada nos Estados Unidos e na Europa, especialmente no mercado de carbono, petróleo, soja, milho, café e boi gordo, que agrada principalmente aos investidores mais conservadores, como explica Nelson Alves, vicepresidente de produtos estruturados de commodities do banco Barclays.

Segundo ele, a vantagem desse tipo de operação é a garantia do dinheiro seguro. “Na pior das hipóteses, o investidor recebe 100% do capital investido.” Mas apesar da segurança e do crescimento, esse é um mercado que responde por uma pequena fatia das operações brasileiras. Segundo Biegai, existem hoje 14 fundos de commodities no Brasil e a previsão é de que neste ano, caso esse mercado no País movimente R$ 1 bilhão, apenas 0,40% desse valor esteja em aplicações de fundos de commodities, enquanto em todo o mundo esse tipo de operação movimentou cerca de US$ 60 bilhões no ano passado, com perspectivas de chegar a US$ 80 bilhões no final deste ano. “Com o crescimento no número de investidores do Brasil, essa porcentagem deve crescer consideravelmente nos próximos anos”, prevê Biegai.