R$ 7 bilhões é o total de recursos disponíveis em fundos registrados na CVM

O setor agrícola tem se tornado uma terra fértil para o mercado de capitais. Basta notar que a cada ano cresce a presença de fundos de investimentos que apostam no agronegócio. De acordo com um levantamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), esses grupos dispõem de cerca de R$ 7 bilhões para aplicar em projetos e empresas ligados ao campo.

Uma dinheirama que atrai investidores, dispostos a diversificar suas aplicações, mas que pode também ser atrativo para produtores que precisam se capitalizar. Isso porque, em alguns casos, esses recursos aparecem como uma alternativa ao crédito oficial. Um exemplo disso está no fundo criado pela Vector Investimento, uma gestora de recursos fundada em 2006 e que desde então vem se especializando em aplicações no setor rural.

A empresa mantém um fundo de investimento, cujos recursos são utilizados para financiar projetos de irrigação oferecidos pela israelense Netafim, uma das principais companhias desse setor. “Podemos adquirir operações estruturadas relacionadas a diversos setores, dentre os quais destacamos o setor do agronegócio, diferentemente de um banco que realiza financiamentos diretos ao produtor.

Essas operações são muitas vezes representadas pelos títulos do agronegócio, como CPRFs, CDCAs”, explica o sócio da Vector e gestor do fundo, Francisco Carballido. Hoje o fundo, feito especificamente para projetos de irrigação por gotejamento com fertirrigação, conta com recursos da ordem de US$ 10 milhões e está focado na cultura da cana-de-açúcar.

Um valor que representa apenas 10% dos US$ 100 milhões que a empresa aplica em fundos ligados a agricultura. “Mas já estudamos ampliar esses recursos”, ressalta Carballido. Na prática, o sistema funciona como uma opção ao financiamento tradicional.

A diferença está na flexbilidade nas taxas e no prazo dos pagamentos, que são aplicadas de acordo com o perfil do produtor. “As operações seguem uma análise de crédito, baseada na empresa ou no produtor rural e do pacote de garantias.

Uma das finalidades destas análises é identificar limites de captação, adequando os valores à capacidade de pagamento”, diz o executivo, que ressalta que esse mecanismo é mais uma alternativa ao produtor. “As operações estruturadas adquiridas por fundos se apresentam como alternativa para captação de recursos para o setor do agronegócio.”

Já para o investidor, o que torna o modelo atrativo é que além de ganhar em cima dos pagamentos dos recursos tomados, ele também recebe um percentual dos dividendos relativos ao aumento de produtividade, obtidos com o uso da irrigação.

“Hoje a taxa de retorno desse fundo é de 16% ao ano, mais o IPCA. É um modelo em que o investidor recebe mais, de acordo com os resultados do tomador do crédito.” Para o assessor técnico da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Adoniram Viam, essa pode ser uma boa alternativa de busca de crédito.

“Hoje grande parte dos financiamentos de capital de giro das empresas agrícolas já vem de tradings e fundos. Essa aproximação do mercado de capital com o setor produtivo é um movimento irreversível que deve se intensificar”, diz o analista, que acredita que esse modelo pode suprir uma parte da demanda por crédito.

“Hoje o governo não consegue atender a procura”, analisa Viam, que lembra que, como em todas as operações financeiras, é preciso ficar atento aos riscos. “É importante saber qual o perfil do fundo. Em projetos de curto prazo, na primeira oscilação do mercado, eles saem de cena e deixam o setor na mão”, pondera.

Uma visão ressaltada por Carballido. “O setor do agronegócio é muito atrativo, mas é preciso conhecê-lo bem para operar com tranquilidade e dar bons resultados”, finaliza.