18/02/2019 - 11:00
Agronegócio indireto conglomerado
Nas discussões sobre modelos de negócios, as grandes empresas de consumo são consideradas cada vez mais companhias de marketing. Os especialistas costumam defender que o principal negócio delas, apesar de venderem produtos de origem industrial, não é exatamente a capacidade industrial. Mas, sim, a forma com que trabalham as suas marcas, como as apresentam e desenvolvem para estimular o desejo e uma boa percepção no cliente. Dona de marcas poderosas como Skol, Brahma, Antarctica e Guaraná Antarctica, a empresa de bebidas Ambev é um dos melhores exemplos disso.
Para manter a sua posição invejável no mercado, há muitos investimentos de marca. Com isso, a empresa é a líder nacional, com participação de 63,8%, no volume de cerveja vendido no Brasil neste ano, e faz parte do grupo AB Inbev, que domina a fabricação de cervejas no mundo. Mas, o trabalho na companhia vai muito além das estratégias de marketing, ou de precificação de produtos e de distribuição. Na fórmula do sucesso da Ambev, é também essencial a relação com o agronegócio.
Afinal, as características de produtos divulgadas por propaganda e marketing precisam existir no mundo real. Para a produção do Guaraná Antarctica, o seu refrigerante mais conhecido, é importante a relação com produtores do guaraná, na Amazônia. Para produzir cerveja, é preciso ter confiáveis produtores de cevada, malte e lúpulo. Ou seja, a Ambev, um gigante industrial e de marketing, tem um pé no campo.
Com essas importantes relações com o mundo agrícola, a empresa comandada pelo CEO Bernardo Paiva foi eleita, pela sexta vez, a melhor organização da categoria Agronegócio Indireto, dentre os Conglomerados do Prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2018. Contou a seu favor ter alcançado a maior pontuação em melhor Gestão Financeira. A Ambev fechou 2017 com um valor de mercado de R$ 240 bilhões, tendo chegado a ultrapassar a Petrobras como a companhia mais valiosa do País. A receita líquida aumentou 9,6%, atingindo R$ 47,9 bilhões, impulsionada por um crescimento de 5,6% no Brasil.
Foi um resultado importante uma vez que, no ano passado, o volume de consumo de cerveja no País aumentou apenas 0,7%, um crescimento puxado por rótulos de menor preço, por causa de um ambiente econômico frágil. As dificuldades de mercado permanecem neste ano, criando um grande desafio para a empresa manter a sua onda de bons resultados da última década. No entanto, o histórico cuidado da Ambev com os seus custos de operação joga a seu favor.
O Ebitda ajustado, que mede a margem operacional da empresa, chegou a R$ 20,1 bilhões, em 2017, uma expansão de 7,9%, mesmo tendo sofrido uma queda de 40% no lucro líquido, para R$ 7,8 bilhões. Os desafios para a empresa vão além dos efeitos da longa crise econômica pela qual o País atravessou. Há uma mudança do estilo de consumo dos clientes de cerveja. E a companhia responde diversificando o seu portfólio. “Existe uma tendência do mercado de oferecer cada vez mais opções para o consumidor”, afirma Maurício Soufen, vice-presidente industrial e de logística da Ambev. “Isso acontece em várias indústrias em todo o mundo e temos de estar na vanguarda desse processo em cervejas”, destaca o executivo.
A estratégia se traduz na Ambev vendendo hoje no Brasil mais de 100 rótulos de cerveja em 300 formatos de produtos (incluindo lata, garrafa e volumes diferentes). As opções vão desde as suas marcas tradicionais a produtos importados, do portfólio global da AB Inbev, como a Hoegaarden, a belga Leffe e a argentina Patagonia.
Outro destaque na categoria de Conglomerados foi a alemã Bayer, que atingiu a maior nota em Gestão Corporativa. Esse quesito inclui governança corporativa, sustentabilidade e inovação, entre outros pontos. “A integridade, que entendemos como conformidade completa com todas as leis e regulamentações, é um dos elementos mais importantes da cultura mantida pela Bayer em todo o mundo”, diz Marc Reichardt, CEO da Bayer Brasil. “Estamos convencidos de que as práticas de governança corporativa integradas à visão de sustentabilidade em todos os níveis de gestão são o único caminho para gerar valor para os envolvidos no negócio e para toda a sociedade.”
A presença da companhia – que atua da produção de medicamentos com e sem prescrição médica a itens de saúde animal – no agronegócio mundial só ganha mais peso, uma vez que ela passa por uma integração com a americana Monsanto. O negócio está sendo integrado à divisão agrícola da Bayer, chamada de Crop Science. A aquisição da Monsanto, que custou US$ 66 bilhões, foi finalizada em junho deste ano. Com essa transação, foi formada a maior empresa de sementes e de agroquímicos do planeta. “A agricultura precisa acompanhar uma população crescente que necessita de alimentos saudáveis, seguros e acessíveis. Trata-se de uma das necessidades humanas mais básicas e que deve ser suprida de forma sustentável”, diz Gerhard Bohne, responsável pela divisão Crop Science da Bayer no País.
“O Brasil é o nosso segundo maior mercado do grupo.” Com esse grande porte, a companhia terá papel essencial para ajudar a agricultura a aumentar a sua produtividade, mesmo depois de tantos avanços já conseguidos nos últimos anos. É um caminho que a Bayer conhece bem. A companhia tem tradição de investimentos em pesquisas e desenvolvimento no Brasil, que incluiu a criação de novos centros de inovação em Paulínia, no interior de São Paulo, e o desenvolvimento de pesquisas em conjunto com a Embrapa.