Em 1993, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para classificar os países como desenvolvidos, subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, segundo dados como expectativa de vida, educação e Produto Interno Bruto. Com essa qualificação é possível traçar metas e planejar investimentos focados nas condições de cada localidade. Quase dez anos depois, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA) propõe um IDH voltado ao agronegócio. Durante coletiva realizada no espaço do agronegócio, insta lado no Píer Mauá, no Rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da entidade, apresentou um documento com as posições do setor, com duas propostas principais: a criação de um Índice Global de Desenvolvimento Sustentável e de um Fundo Internacional para Difusão de Tecnologia.

De acordo com o documento, os fatores analisados para realizar o cálculo desse indicativo seriam embasados em componentes ambientais, sociais e econômicos. A proposta é de que países mais bem colocados recebam recompensas para incentivar o setor agropecuário no manejo e na comercialização de produtos. “Esperamos que o índice de desenvolvimento rural também seja adotado pelos países, assim como ocorre com o IDH da ONU”, diz a senadora. “A ideia é que os países que já adotam boas práticas no setor tenham algum tipo de estímulo.” Os cálculos e méritos de classificação desse índice estão em fase de estudo, e o projeto, mais detalhado, deve ser apresentado nas próximas semanas.

Embora ainda não tenha sido formalizado, o projeto já conta com apoios importantes, como o do exministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas, de São Paulo, Roberto Rodrigues. “Já temos uma tecnologia que é sustentável”, diz Rodrigues. “Isso nos daria uma posição privilegiada nesse índice.” Rodrigues, para quem o Brasil tem condições excepcionais nessa área, acredita que não haveria problemas para se encontrar uma forma de recompensar os países que adotarem as práticas sustentáveis. “A remuneração poderia ser financeira, como melhores preços ou melhores créditos, ou comercial, como redução das barreiras alfandegárias, por exemplo”,  diz.

O segundo item do documento, a criação de um Fundo Internacional para a Difusão de Tecnologias, propõe a união de forças de países ricos e emergentes para, juntos, criarem um instrumento de financiamento para difundir a tecnologia, com foco na redução dos impactos ambientais. “A tecnologia minimiza os efeitos das emissões e traz mais produtividade”, diz a senadora Kátia. Na proposta, o fundo serviria para investir em novas tecnologias e meios de preservação de mananciais de água e de outras fontes de energia. Além disso, a agricultura familiar também está na pauta do documento. “Nós precisamos pensar na pequena propriedade”, diz Kátia. De acordo com ela, muitas vezes, os pequenos produtores não conseguem nem o dinheiro subsidiado do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), quanto mais para implementar a tecnologia de baixo carbono para melhorar a performance de suas propriedades.

O documento, agora, deve ser encaminhado à ONU e aos chefes de Estado para que sejam tomadas as devidas providências para viabilizar as propostas. Como um país que já adota boas práticas ambientais no agronegócio, o Brasil tem todas as chances de liderar esse movimento e, há possibilidades de que o IDH ganhe um irmão gerado em solo brasileiro.