“O tigre, quando morre, deixa a pele; o homem, o nome”, diz o engenheiro Luiz Pretti, 58 anos, CEO da subsidiária brasileira da empresa americana Cargill, que fatura no País cerca de R$ 34 bilhões, por ano, com grãos, óleos e gorduras, amidos, adoçantes, cacau e chocolate. O provérbio árabe é uma constante na boca do executivo que entrou na Cargill em 2005, há seis anos assumiu o atual cargo e hoje comanda uma equipe de dez mil funcionários. Para ele, a marca da construção de sua carreira sempre foram os relacionamentos estreitos com as pessoas, não importando credo, cor ou opção sexual. “Acho que a inteligência emocional é a minha maior competência”, diz ele. “Consigo ler bem as pessoas, seus sentimentos, suas emoções e as suas reações.” Nos dias atuais, Pretti tem abusado dessa competência para uma tarefa que ele considera fundamental: derrubar muros de preconceitos dos mais variados matizes que possam existir na Cargill. O executivo tem facilitado o debate sobre as diversidades raciais e de crença, e também de gênero, o que inclui lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBTs), para que todos tenham oportunidades iguais de se desenvolver. No caso da diversidade racial, há 1,2 mil negros na empresa , 12% do total de funcionários da Cargill brasileira. Se forem incluídos os pardos, são 3,3 mil funcionários. Esse grupo, ainda pequeno, explica o ativismo de Pretti. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ethos no ano passado, apenas 4,7% dos cargos executivos nas 500 maiores empresas do Brasil são exercidos por afrodescendentes. Não por acaso, Pretti é um dos apoiadores da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, a única instituição da América Latina que tem como principal missão a inclusão de negros no mercado de trabalho. Atualmente, a escola possui 1,6 mil alunos. Além de dar palestras na instituição, ele abriu as portas da Cargill para a Zumbi. Vários alunos da escola já trabalharam na companhia, depois de passarem pelo processo de seleção, como os demais contratados. Hoje, dois deles permanecem na empresa. “A princípio fui importante, por ser o impulsionador desse projeto na Cargill”, afirma Pretti. “Agora, um profissional indica o outro para os processos de seleção.” No prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL do ano passado, a Cargill ficou em primeiro lugar em Melhor Gestão Corporativa na categoria Agronegócio Direto – Conglomerados.

ATITUDE LUCRATIVA: para José Luiz Tejon Megido, da ESPM, as empresas que formam times baseados na diversidade evoluem mais rapidamente (Crédito:Marcos Peron )

O movimento em marcha na Cargill, embora ainda enfrente muita resistência e preconceito na sociedade, não é uma exclusividade sua, ele é mundial e apoiado por entidades como a Organização das Nações Unidas. No agronegócio, outras empresas têm trilhado o mesmo caminho, entre elas a alemã Bayer, que criou o Comitê da Diversidade, no qual há cinco grupos. O CEO da Bayer Crop Science, Gerhard Bohne, por exemplo, comanda o grupo LGBT. De acordo com José Luiz Tejon Megido, diretor do Núcleo de Agronegócio da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da consultoria Biomarketing, a ciência social mostra que pessoas diferentes trazem características que se completam, se elas forem reunidas com sabedoria em uma empresa. Para ele, a diversidade é uma atitude inteligente. “No agronegócio, eu a chamo de aceleradora do uso prático das disrupturas tecnológicas, dos recursos humanos, da sucessão e da sustentabilidade”, diz Tejon. “As corporações que sabem compor o time com a diversidade, inclusive a de gênero, evoluem mais rapidamente.”

Nos últimos tempos, Claudemir Balestra Junior, 43 anos, assumiu sua homossexualidade no ambiente de trabalho, sem enfrentar preconceitos. Ele está na Cargill há 20 anos. “Sou homossexual e posso garantir que a empresa criou um ambiente que acolhe a todos, sem se importar com as diferenças”, diz ele. “A minha carreira avançou muito, a partir do momento em que consegui ser eu mesmo no trabalho.” Balestra, formado em contabilidade, com MBA em finanças, é diretor de Auditoria Corporativa. Até o final do ano passado, ele também era o responsável pelo comitê Cargill Pride Network na unidade brasileira, uma iniciativa global criada há cerca de dez anos para dar apoio à sua comunidade LGBT. Isso porque Balestra acaba de embarcar para a sede da Cargill, em Minesota, nos Estados Unidos, onde também será auditor.

Para ele, Pretti tem contribuído na criação de um ambiente mais inclusivo na empresa. “Nosso presidente sempre está presente nos eventos promovidos pelos comitês, reforçando a necessidade de trazer o tema diversidade para a agenda da companhia”, afirma Balestra. Para esse grupo de funcionários, o que tem feito a diferença é a forma de liderança do executivo. “Aboli o protocolo hierárquico. Não existe mais aquela coisa do presidente intocável, deixei tudo mais informal e focado em resultados”, diz Pretti. “E participo das discussões. Respondo a todas as perguntas, inclusive as de cunho pessoal.” Ele conta que enfrentou a família em um processo doloroso na juventude. Seus pais o queriam médico, advogado ou engenheiro. Contra a sua vontade, de fato se formou em engenharia metalúrgica, mas não exerceu a profissão por um único dia, indo em frente com o seu plano de alma: tornar-se um profissional do mundo das finanças. Não por acaso, além de CEO da Cargill, Pretti também é presidente do Banco Cargill, cargo exercido desde 2012, ano em que ele também assumiu o posto número um da companhia.