” É um negócio muito rentável. No último leilão, em dezembro, vendi 75 animais por R$ 7 mil em média “

GUILHERME FERNANDES, criador de pôneis

Não é todo dia que nos deparamos com um pônei. Imagine, então, um lugar onde existem mais de 600 deles, todos pastando e vivendo normalmente. Pois é, este lugar existe, e não se trata de nenhum parque de diversões, mas sim de uma fazenda em Viamão, no Rio Grande do Sul. É lá que Guilherme Antônio Ribeiro Fernandes dá continuidade a uma criação que começou há mais de 40 anos, quando seu avô, entusiasta declarado dos cavalos em miniatura, ainda era vivo. O que era apenas um hobby da família começou a virar coisa séria nos anos 90, quando Guilherme já estava à frente do negócio.

Criação de pôneis começou como hobby da família,

MAS HOJE O HARAS GARF JÁ CONTA COM 600 ANIMAIS

das melhores linhagens, vendidos apenas nos leilões

ALEGRIA DA CRIANÇADA: de acordo com o empresário, vendas são feitas principalmente para pais que querem presentear os filhos. Vendas crescem em outubro, mês das crianças

Com a ajuda do pai, investiu US$ 16 mil na compra de um garanhão campeão e deu um choque genético em todo o seu plantel. Os resultados não demoraram a aparecer. Poucos meses depois, o haras Garf faturou seu primeiro campeonato nacional. Um marco na vida de Fernandes, à época com 13 anos. “Meu avô me disse que a partir daquele momento eu havia deixado de ser um proprietário para ser um criador de pôneis. Isso me marcou muito”, conta ele, aos 29 anos. Desde então, o negócio não parou mais de crescer.

Hoje o haras possui pouco mais de 600 animais, vendidos em sua maioria em leilões próprios, realizados duas vezes por ano, num negócio altamente rentável. O criador cita como exemplo o último pregão, em dezembro passado. No evento foram vendidos 75 pôneis a uma média de R$ 7 mil, gerando receitas superiores a R$ 500 mil. O grande diferencial, no entanto, é o baixo custo de produção. Além de fazer a cria e recria na própria fazenda, todos os animais são tratados a pasto e exigem pouquíssima medicação.

FAZENDA EM ESCALA REDUZIDA: propriedade foi toda adaptada aos pôneis. Cocheiras também foram construídas em tamanho reduzido

Até o “acabamento” dos pôneis é feito de uma forma econômica. No inverno, quando o pasto está mais baixo, o criador solta os animais em cima de lavouras recém-colhidas de arroz , também cultivado por sua família. Isso faz com que eles ganhem peso e força. “Os pôneis ficam muito fortes, pois o arroz é muito nutritivo. É uma forma eficiente e barata de engordar os animais antes da venda”, explica Fernandes, que faz questão de ajudar seus funcionários na lida da tropa e conhece detalhes específicos de cada um de seus pupilos.

“Este, por exemplo, deve ser um dos destaques do próximo leilão”, diz ele, apontando para um pônei bege com pintas brancas que nada tem a ver com a pelagem de um cavalo normal. “Quanto mais colorido, mais valorizado ele fica. As crianças gostam de cores fortes. Mas para alcançar um valor alto no leilão também é preciso seguir um padrão morfológico.” De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Pônei, um animal padrão deve ter no máximo 90 centímetros de altura e cerca de 100 quilos.

Já consagrado como um dos maiores criadores de pônei do Brasil, Fernandes aposta agora na exportação de alguns de seus minicavalos. “A única dificuldade é arrumar toda a documentação para enviar os animais.”

Outro plano é montar uma central de genética exclusiva para pôneis dentro da fazenda. Mesmo com um volume de vendas ainda pequeno, o criador acredita que o mercado de sêmen deve crescer muito nos próximos anos. Em 2008, foram vendidas 20 doses – a R$ 2 mil cada – mas a meta é quadruplicar este volume. “Gasto um pouco mais, mas mantenho a genética comigo. Afinal são 40 anos de história”, completa.

MULAS DE GRIFE

Como todo gaúcho e apaixonado por cavalos que se preze, Guilherme Fernandes também é criador de cavalos crioulos, mas nos últimos meses vem usando seus animais para uma outra atividade, bem mais inusitada, polêmica e lucrativa: a criação de mulas. Em parceria com o empresário mineiro Marco Antônio Andrade Barbosa – responsável pelo fornecimento dos jumentos -, Fernandes já conta com uma geração de “mulas de elite” pronta.

Agora, quer fazer um leilão destas mulas em Uberaba ou na Expointer, ainda neste ano. Os criadores mais tradicionais de cavalos crioulos do Rio Grande do Sul estão indignados com a nova utilização dos animais, mas ele não se importa. “Quero inovar mais uma vez. Quando as mulas estiverem à venda, todo mundo vai querer ter uma”, garante o jovem criador..

CRUZAMENTO OUSADO:

criador gaúcho aproveitou suas éguas crioulas para fazer “mulas de elite”

Fernandes tem razão. Antes vistas como animais exclusivamente de trabalho, as “mulas de elite” hoje estão na moda nas fazendas em todo o Brasil. Os principais motivos, segundo especialistas, são a maciez da marcha e a rusticidade superior à dos cavalos. Além disso, seguem carregando cargas pesadas sem reclamar, assim como as mulas de antigamente.

O preço dos animais ainda não foi definido. “Só vamos saber quando fizermos o primeiro leilão, pois elas só serão vendidas desta forma. Quem vai definir o preço é o mercado, mas tenho certeza que vou ganhar bem mais do que vinha ganhando com os crioulos”, completa o otimista Guilherme Fernandes.