Está em vigor desde o dia 1o de janeiro de 2011, a Lei Brasileira de Produtos Orgânicos. Em relação a outros mercados, o País demorou a estabelecer suas regras.
A lei de orgânicos na Europa, por exemplo, completou 20 anos e, nos Estados Unidos, dez anos. Mas o Brasil inovou em relação a esses países, ao criar dois tipos de certificação autorizada pelo Ministério da Agricultura: por auditoria externa, através de visita técnica às propriedades, e participativa, com grupos de produtores aplicando a certificação. Essa segurança legal está trazendo agora uma nova fase ao agronegócio orgânico, ao atrair grandes investimentos e indústrias interessadas em um público de cerca de 30% da população mundial. São pessoas exigentes e em busca de uma alimentação mais saudável, com forte poder de decisão de compra.

No Brasil, campeão mundial no consumo de agrotóxicos, o aumento da incidência de doenças, como o câncer e a obesidade, está provocando o surgimento de um público atento ao custo embutido nas contaminações. Estima-se que de cada real investi-
do em agrotóxico existiria um custo de R$ 1,25 a mais para compensar essa contaminação. Por isso, encontrar um denominador comum para a agricultura e a indústria, em relação à sustentabilidade ambiental, é hoje um deba- te mundial e uma cobrança dos consumidores.

O Brasil é o maior mercado de orgânicos da América do Sul e está em crescimento. No País, 70% dos produtos, como açúcar, café, óleos, amêndoas, mel, lácteos, hortaliças e frutas, são vendidos nos supermercados, enquanto na Alemanha são 26% e na Itália, 23%. Há mais de 100 feiras orgânicas no País, segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Em relação aos projetos de certificação, todos destinados à agricultura familiar, o Instituto de Biodinâmica (IBD) registra um crescimento anual de 20% e seu principal parceiro tem sido o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Atualmente, o IBD conta com 350 agroindústrias certificadas, de micro a grandes unidades de produção.

Mas os orgânicos brasileiros ainda representam uma pequena fração da produção mundial, um mercado com fatu- ramento anual estimado em US$ 60 bilhões. No País, os orgâ- nicos movimentam cerca de US$ 200 milhões e não há dados estatísticos seguros. Estima-se em 15 mil o número de produtores, que cultivam um total de um milhão de hec- tares, excluindo as áreas com atividade extrativista. No mundo, os orgânicos são cultivados em 37 milhões de hectares, área que abriga 1,5 milhão de unidades produtivas e 6,5 milhões de trabalhadores. Nos EUA, por exemplo, os orgâ- nicos já representam 11% da frutas e verduras vendidas.

No Brasil, o desafio para crescer aceleradamente é sair do baixo quadro de investimento em pesquisas de tecnolo- gias que aumentem a produção. Alguns caminhos já estão indicados. A agricultura orgânica, por exemplo, apresenta o maior índice de reciclagem interna de insumos, o que aumenta a lucratividade na produção. Esse índice, adotado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), de Piracicaba (SP), e pelo Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo (IEA), poderia nortear a criação de novas tecnologias. Como sinal de novos tempos, a Bayer acaba de comprar, por US$ 425 milhões, a americana Agraquest, empresa especializada em tecnologias verdes, como o controle biológico de pragas. Outro exemplo é o da empresa holandesa Koppert Biological Systems, que adquiriu recentemente a Itaforte BioProdutos no
Brasil. A Koppert é uma das maiores empresas do mundo em defensivos biológicos e polinizadores. O movimento em direção ao País mostra o interesse dessas empresas no controle biológico de uma agricultura que pode mudar a visão que o mundo tem do Brasil, ao produzir alimentos com mais sustentabilidade e adequação ambiental.

“Os orgânicos no Brasil ainda representam uma pequena fração da produção mundial”, afirma Alexandre