26/06/2013 - 17:56
Enquanto a maior parte dos agricultores baianos olha diariamente para o céu à espera do milagre da chuva, o produtor rural Loreni Luiz Comparim, de Luís Eduardo Magalhães, na região oeste da Bahia, contempla satisfeito o céu. Ele tem certeza de que a sua safra de grãos, ao contrário de outras lavouras no Estado, terá alta produtividade. Comparim explica a razão de tanta convicção, o que poderia parecer um disparate, a princípio – afinal, o Estado vem sendo castigado, desde o ano passado, por uma das piores estiagens em meio século. Segundo o agricultor, em três mil hectares, dos 14,7 mil hectares ocupados por suas cinco fazendas, ele mantém em funcionamento 12 pivôs de irrigação, desde a década de 1990. Para garantir a produção no restante das lavouras de soja, milho e feijão que cultiva, entre este e o próximo ano, Comparim instalará mais 15 equipamentos. “As cinco fazendas comportam 70 pivôs”, diz o agricultor. E, como pivô de irrigação não cai do céu, o agricultor precisou buscar R$ 17 milhões emprestados no mercado para isso. “Os bancos estatais e privados foram os primeiros que procurei”, diz Comparim. O País oferece, neste ano, mais de R$ 115 bilhões em linhas de financiamento para o agronegócio do País. “Mas, como há muita burocracia e sempre faltava algum documento, desisti.” Ele acabou desistindo no começo deste ano, ao conhecer a securitizadora Ecoagro, em São Paulo, que oferece instrumentos financeiros para a agricultura no longo prazo, como os Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRA ). Para Comparim, foi literalmente a salvação da lavoura. “Todo o dinheiro vai para a irrigação”, diz.
No País, até agora, existem apenas quatro dessas empresas. Além da Ecoagro, a Octante Securitizadora, a Gaia e a Agrosec. Todas elas, na capital paulista, oferecem CRA , um título de crédito nominativo, de livre negociação, com pagamento em dinheiro. Nesse modelo, a Ecoagro já estruturou, desde 2009, R$ 500 milhões em recebíveis, com concentração no setor de grãos no Centro-Oeste e no Nordeste do Brasil. “O nosso CRA , além do prazo entre cinco e sete anos para pagamento, respeita o ciclo de produção”, afirma Moacir Teixeira, sócio-fundador da Ecoagro. Trocando em miúdos, os pagamentos são programados para serem feitos de acordo com o término da safra. Para isso, a Ecoagro monitora todo o processo de cultivo, desde a qualidade do solo e do plantio até a colheita. “Fazemos isso antes da liberação do crédito, para conhecer o perfil do cliente, e depois, para monitorar o desempenho, até a quitação do financiamento”, diz Teixeira. “Indiretamente, acabamos gerindo o negócio do agricultor.” A Ecoagro tem ainda a terra e o penhor de uma safra como garantia no negócio, além do monitoramento.
Segundo o agricultor Comparim, embora seu pedido de financiamento tenha exigido a elaboração de um dossiê de mais de 500 páginas pela Ecoagro, o crédito para a compra dos pivôs de irrigação foi aprovado em apenas dois dias. “Se fosse em um banco, teria de investir na elaboração de projetos, sem nem ao menos saber se sairia o financiamento”, diz o agricultor. “Não tive custo nenhum com o estudo.” De acordo com Teixeira, da Ecoagro, a securitizadora como figura de estruturação é forte e respeita certos critérios, como os da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ainda realiza oferta pública. Mesmo porque, qualquer pessoa, inclusive a física, pode ser um investidor e contar com isenção de Imposto de Renda (IR ). Os fundos de pensão também têm mostrado interesse em investir no agribusiness, mas nada se compara, ainda de acordo com Teixeira, aos investidores estrangeiros. “Esses são os grandes investidores”, diz. “Eles entendem e têm uma visão de longo prazo.” Outro perfil de investidor que também está de olho no agronegócio, mesmo sem nunca ter pisado em uma fazenda, são as famílias ricas, com seus family offices.
De acordo com Curtis Smith, responsável no Brasil pela área de corporate trust do banco BNY Mellon, no último ano a demanda para registro e custódia para o agronegócio tem crescido muito. Em número de clientes, por exemplo, no BNY Mellon, já representa 25% da carteira. “Estou satisfeito de ver que o nosso mercado está indo para o caminho do agronegócio”, diz.
O que falta agora para Teixeira é trabalhar em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDE S). “Eles possuem linhas que não estão alocadas. A securitizadora pode fazer isso”, afirma. “Podemos criar subordinação, assumir o risco e pulverizar esse dinheiro.”