10/09/2018 - 10:00
“Agro Brazil – Good For Nature”. Na tradução do inglês, “Agro Brasil – Bom para a Natureza” pode se tornar um símbolo daqui para a frente. O slogan, frase de efeito de fácil memorização no mundo da publicidade, é a alma da marca apresentada pelo ministro Blairo Maggi, da Agricultura e Pecuária (Mapa), durante o Global Agribusiness Forum (GAF), no final de julho em São Paulo. A marca pretende ser uma estampa nos produtos de exportação. “A marca é de propriedade do governo brasileiro”, diz Maggi. “Nós desejamos que os empresários exportadores queiram expor essa marca porque ela representa algum ganho para ele.” Sua criação faz parte da Estratégia para Abertura, Ampliação e Promoção no Mercado Internacional do Agronegócio Brasileiro, um projeto que começou oficialmente através da portaria 1564 do Mapa, publicada no Diário Oficial da União em junho do ano passado. No caso da marca apresentada durante o GAF, a adesão será voluntária por parte das empresas exportadoras. Para participar, elas terão à disposição um QR Code (Quick Response, resposta rápida em português) para ser impresso nos produtos. O código, que pode ser escaneado através de um telefone celular com câmara, abrirá arquivos de fotos e de vídeos mostrando os sistemas produtivos de um determinado produto. “A marca vai consolidar nossa imagem, mostrar nossa sustentabilidade, agregar valor, indicar os sistemas de produção, além de disseminar a responsabilidade pública e privada, dentro das conformidades internacionais”, afirma Maggi.
O economista Plínio Nastari, presidente da Datagro, empresa curadora do GAF, diz que a ideia de uma marca para o setor começou a nascer na edição passada do evento, em 2016. “Na ocasião tivemos a presença de um grande publicitário, o Nizan Guanaes, da agência África. E um dos temas foi justamente mecanismos de agregação de valor para o setor”, afirma Nastari. “Nizan dizia, na ocasião, Brazil is food (Brasil é alimento), e que as cadeias de produção do agronegócio estavam perdendo tempo em não apostar em uma identidade.” O fato é que a sensibilização internacional sobre o Brasil, e as questões que afetam o País, é um desafio para o setor. Fora dos círculos acadêmicos internacionais ainda se convive com estereótipos incômodos. Como o de um País que derruba florestas e vive de samba e de praia. Isso porque mudar uma imagem não é uma tarefa fácil.
Os primeiros levantamentos realizados por americanos nos anos 1940, do que hoje é conhecido como nation branding (marca de uma nação), mostravam um desconhecimento geral sobre o Brasil. Com a comunicação de massa, nos últimos 20 anos isso tem diminuído. Embora os estereótipos permaneçam, em muitos levantamentos o País já aparece entre as 20 nações mais admiradas. Entre eles está o Good Country Index (Índice de Bom País), coordenado e publicado todos os anos pelo consultor britânico Simon Anholt. O índice avalia a contribuição de 125 nações para além das suas fronteiras, em ciência e tecnologia, cultura, paz e segurança, ordem mundial, ambiente, prosperidade e igualdade, saúde e o bem estar do planeta.
Na economia do País, o agronegócio foi responsável por 44,1% das vendas brasileiras para o exterior, em 2017. O setor exportou US$ 96 bilhões, volume 13% acima do ano anterior, e deve chegar à casa de três dígitos, US$ 100 bilhões ainda este ano. Mas a meta é mais audaciosa. Até 2022, a ideia é que o País seja dono de uma fatia de 10% do mercado global de alimentos, fibras e bioenergia, o que significa uma injeção de receita estimada em US$ 146 bilhões na balança comercial. No mundo, o mercado do agronegócio movimenta US$ 1,46 trilhão. Hoje, os produtos brasileiros chegam a cerca de 160 países, com destaque para os asiáticos. “Mas queremos ir além, embora a Ásia é onde a economia mais tem crescido e onde vive 51% da população mundial”, diz Maggi. “E a renda da população dessa região cresce sem parar.” No ano passado, apenas a China comprou do Brasil US$ 26,7 bilhões em produtos agropecuários. Só para comparação, há uma década, as exportações totais do setor eram de US$ 71,8 bilhões, dos quais os países da União Europeia respondiam por US$ 23,9 bilhões. Com a China, o comércio era de apenas U$ 7,9 bilhões. Dando um passo ainda mais para trás, há duas décadas o Brasil exportava US$ 21,5 bilhões e os chineses estavam fora do radar. Os europeus eram absolutos nas transações, com valores da ordem de US$ 8,8 bilhões.
Nastari, da Datagro, que fez as honras da casa para o ministro Maggi durante o evento em São Paulo, diz que acredita em uma adesão imediata do uso da marca e que o movimento em busca de um marketing mais consistente está somente no início. Para ele, o selo pode ser a porta de entrada para que se caminhe rumo a algum tipo de critério de avaliação dos produtos exportados. “O Brasil ainda não tem tradição em agregar valor às commodities”, afirma Nastari. “Mas é importante que isso ocorra cada vez mais.” Um exemplo é o setor de carnes. No ano passado, as exportações renderam US$ 15,47 bilhões, valor 8,9% acima de 2016, mas poderia ir além. No caso da carne bovina, dos US$ 5 bilhões exportados, US$ 2 bilhões foram para a China. Mas, enquanto a carne brasileira foi comprada pelos chineses pela média de US$ 4,1 mil por tonelada, os australianos emplacaram a média de US$ 5,6 mil por tonelada nesse mercado. Além de China e Austrália possuírem um acordo de livre-comércio desde 2015, o Meat and Livestock Australia (MLA) está em ação o tempo todo. O MLA é uma organização que reúne governo, indústria de carne vermelha e cerca de 50 mil produtores de gado, desde o fim dos anos 1990, para promover ações em busca de agregação de valor. O Brasil também poderia fazer o mesmo.