Peça rara: Azevedo faz a poda do pinheiro negro japonês, avaliado em R$ 80 mil

As proporções são reduzidas, mas a complexidade é a mesma de uma árvore na natureza. No caso da foto ao lado, tratase de um pinheiro negro japonês, a espécie mais apreciada pelos aficionados por bonsai. Seu tronco retorcido sinaliza que este bonsai é a miniatura de uma planta de clima temperado, em que os ventos e a neve não permitem que o tronco cresça na vertical, além de conferir sinuosidade aos galhos. A planta em questão tem 60 anos de idade e é fruto do trabalho diário de um produtor. Por trás do valor estão exatos 21.900 dias de cuidado. Isso mesmo, por ser cultivado em vaso pequeno, o bonsai precisa ser regado diariamente. E não é só isso. Periodicamente, a terra tem de ser adubada, parcialmente trocada, as raízes são cortadas, os galhos podados e conduzidos por arame para apresentar as características de uma árvore em seu habitat natural. A condução é feita no inverno, exatamente quando a planta hiberna. Esta colcha de detalhes explica por que este bonsai é considerado uma obra de arte e avaliado em R$ 80 mil. No Brasil, ainda são poucas as pessoas que estão dispostas a pagar por isso. Mas no Japão os bonsais mais valiosos entram até mesmo na relação patrimonial e as pessoas têm que pagar imposto de renda sobre eles. “Já foram leiloados bonsais de US$ 1 milhão”, diz o empresário Márcio Augusto de Azevedo, dono da loja Bonsai Kai Plantas e Complementos. Ele está estabelecido em plena capital paulista, onde desenvolve seu trabalho.

Há 15 anos, Azevedo trabalhava em uma empresa de eventos e organizou uma exposição de bonsais. Até então, ele não sabia que estas árvores em miniatura eram vendidas a preço de ouro. Mas o empresário gostou do que viu e resolveu dar uma guinada na vida. Ele criou a Bonsai Kai Plantas e Complementos, uma loja na capital paulista que, além de vender bonsais, oferece cursos de iniciação e aprofundamento na arte do cultivo. O estabelecimento também funciona como hospital e hotel. Se algum cliente está com um bonsai doente, a Kai Plantas trata o problema ou, se a pessoa vai viajar e não tem ninguém para cuidar da planta, a loja se responsabiliza pelo cuidado diário. Por ano, Azevedo comercializa cerca de quatro mil exemplares. “Eu importo da China, do Japão e também compro de produtores nacionais. O preço varia de R$ 15 a R$ 4 mil”, diz o empresário, que também tem obras raras, como o bonsai da foto que abre a matéria, que foi comprado de um colecionador e vale R$ 80 mil.

 

Guinada na vida: depois de organizar um evento sobre bonsai, Azevedo montou uma loja especializada

1- Fícus: o exemplar tem exatos 65 anos

2- Bosque de ciprestes: as árvores em miniatura têm entre 15 e 35 primaveras

3- Cipreste: este bonsai tem quatro décadas

4- Bosque de jabuticabeira: as plantas têm entre 10 e 26 anos de idade

5- Celtis: é o bonsai mais precioso da série, com 90 anos

Wilson Kojima, 27 anos, é um dos fornecedores da Kai Plantas. O gosto pela arte é herança familiar. Ele aprendeu a técnica com o pai há 40 anos e hoje é um especialista em produção de bonsais de junipero chinês, uma espécie de conífera. Segundo ele, a maior dificuldade no Brasil é a falta de conhecimento das pessoas sobre o que é um bonsai. “Toda planta cultivada em vaso na teoria é um bonsai, porque “bom”significa vaso e “sai” árvore, mas para ser considerada uma obra de arte vão anos. Uma planta de 20 anos é um bonsai jovem. Mas para o Brasil já está ótimo”, explica o produtor de Mogi das Cruzes.

US$ 1 milhão é o valor já desembolsado por um bonsai centenário em leilão

Para Nelson Hadano, 50 anos, produtor de bonsai em Bom Jesus dos Perdões, no interior paulista, o grande problema é que muitas pessoas vendem mudas frágeis por bonsais. “Isso atrapalha quem faz um trabalho sério”, explica. Hadano tem propriedade para falar. Seu avô, imigrante japonês que chegou ao Brasil em 1934, é considerado o introdutor do bonsai no Brasil. Já seu pai foi o pioneiro do bonsai comercial, o pré-bonsai, árvores de dois a cinco anos que eram vendidas para o Ceagesp na década de 60. No entanto, a sua expectativa é de que, quando seu filho que hoje tem dez anos tiver 50 anos, o bonsai no Brasil seja tão valorizado quanto no Japão. Só então o bonsai trazido por seu avó em 1934 alcançará o valor digno de sua história