Casada com um magnata texano, a americana Madeleine Pickens usa seu figurino western de butique e seus petrodólares em defesa dos

mustangs. E por eles comprou uma briga de gente grande com os fazendeiros americanos 

Deu no The New York Times. Deu no The Wall Street Journal. Deu na CNN. Deu também no Le Figaro, lá na França. E agora na DINHEIRO RURAL: Madeleine Pickens, mulher do bilionário T. Boone Pickens, decidiu empenhar uma generosa parte de sua fortuna em uma causa nobre. Sempre bem penteada, vestida no estilo vaqueira de butique, maquiagem perfeita para realçar seus olhos azulíssimos em meio à luz das pradarias do Oeste americano, ela pôs os pés na estrada e no seu jatinho particular para liderar a mais ruidosa campanha já feita nos Estados Unidos em defesa dos mustangs. Entrevistas, vigílias em pleno campo, paradas em vários Estados, protestos em Nova York, lobby em Washington. O que for preciso fazer ela fará para que o governo americano a autorize a criar, no Estado de Nevada (famoso por hospedar as capitais do jogo, Las Vegas e Reno), um santuário de 500 mil acres (pouco mais 200 mil hectares) para abrigar pelo menos 30 mil cavalos selvagens. Não, os animais-símbolo da conquista do Velho Oeste não estão em extinção, mas em franca multiplicação. Madeleine quer protegê-los de uma política de controle populacional financiada pela própria Casa Branca, a pedido dos fazendeiros da região.

Madeleine em ação:

ela comprou um rancho de 200 mil

hectares para criar um santuário para

30 mil cavalos selvagens

É bangue-bangue de gente graúda e interesses poderosos. A decidida e chique Madeleine conta com a influência e os petrodólares do marido texano, homem habituado aos embates nem sempre sutis com políticos. Mr. Pickens hoje defende, além dos cavalos de sua amada, uma espécie de reserva de mercado para o petróleo americano e o investimento em energias limpas. No outro lado desse duelo está o influente lobby do agronegócio americano, que costuma direcionar milhões de votos aos candidatos simpáticos a suas causas protecionistas. Preocupados com a multiplicação dos animais, que disputam pastagens com seus rebanhos, os rancheiros fizeram passar em Washington um programa de captura, para posterior adoção, dos mustangs. Com isso, onde havia, há um século, cerca de dois milhões de cavalos selvagens, hoje restam 34 mil pastando em áreas públicas de dez Estados que, segundo um antigo costume local, também são utilizadas para alimentar cerca de 450 mil cabeças de gado. E eles ainda acham muito. Alegam que, sem controle, a população dobra a cada quatro anos. Cálculos do próprio governo (que gasta US$ 35 milhões ao ano nas operações de captura e mais US$ 40 milhões para manter animais apreendidos) estimam que, nessa convivência equino-bovina, só há espaço para 24 mil cavalos. E previam, para o ano passado, retirar 13 mil deles dos campos. Bem, eles não contavam com a teimosia de Madeleine Pickens.

 

Casada com um magnata texano, a americana Madeleine Pickens usa seu figurino western de butique e seus petrodólares em defesa dos

mustangs. E por eles comprou uma briga de gente grande com os fazendeiros americanos

Liberdade vigiada: desde 1971 o governo americano controla a população dos mustangs, que já foi de dois milhões e hoje não chega a 34 mil animais

 

Caçada aérea: helicópteros são usados para capturar cavalos selvagens no Oeste americano. Depois de presos, os animais são oferecidos em doação ou vendidos a frigoríficos

“Esses cavalos são parte da história do país, da história do Oeste”, diz a vaqueira preservacionista.

Nos últimos dois anos, ela embarca com frequência no jato Gulfstream G550 do marido em Dallas e voa para Wendover, em Nevada. Lá, embarca num helicóptero e segue para o rancho que comprou para dar início ao projeto do santuário. Há cerca de quatro anos ela se comoveu com as cenas de manadas inteiras sendo perseguidas também por helicópteros e conduzidas até áreas cercadas, onde deveriam passar por um processo de domesticação e, depois, adoção. O problema, na última década, é que não havia mais demanda pelos animais, que passaram a despertar interesse em frigoríficos do México e do Canadá. A notícia de que muito sangue selvagem estava rolando ao final desse processo convenceu-a de que algo precisava ser feito.

Madeleine e o marido, T. Boone Pickens: “Se uma mulher tem uma ideia na mente e dinheiro na mão, faz acontecer”, diz ele sobre ela

Madeleine quer levantar cercas delimitando qual seria a área dos mustangs e o que pertenceria ao gado dos rancheiros. À sua propriedade quer anexar terras públicas, criando uma reserva autossustentável financiada pelo recurso de turistas que pagariam para apreciar o galope dos cavalos selvagens pelas pradarias e cânions. Os fazendeiros alegam que as cercas podem isolar áreas e interromper um fluxo histórico de seus rebanhos. Nos próximos meses o Congresso americano deve se pronunciar a respeito e ninguém é capaz de prever uma posição. O que se sabe é que a elegante Madeleine, 63 anos, não se curva tão fácil. O próprio marido, a princípio, chegou a duvidar de que ela conseguiria algo. Mas avisou que essa vaqueira tem espírito selvagem e a determinação de um John Wayne: “Se uma mulher tem algo em mente e dinheiro na mão, ela faz acontecer.”