28/11/2016 - 13:40
Imagine uma fazenda na qual a produção com sustentabilidade é o guia das decisões a serem tomadas. A água da chuva é reaproveitada, agricultura digital e agricultura de precisão são utilizadas para a aplicação racional de insumos e a preservação da biodiversidade ocorre em meio a áreas produtivas. Esta propriedade existe e fica no oeste da Alemanha, a 30 quilômetros de Düsseldorf, no município de Rommerskirchen. Há seis gerações nas mãos da família de Bernard Olligs, que administra a propriedade desde 2005, Damianshof é uma das quatro fazendas europeias escolhidas pela multinacional alemã Bayer, vencedora do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2015 na categoria agronegócio, para ser uma Forward Farm – ou fazenda do futuro, propriedade modelo para teste de tecnologias e práticas sustentáveis dentro do programa Bayer ForwardFarming.
Olligs recebeu jornalistas de 150 países no começo de setembro para mostrar algumas das tecnologias e práticas que adotou nos últimos quatro anos, desde que começou a participar do projeto da multinacional. Embora tenha aprimorado o manejo da propriedade, ele afirma que o maior ganho com a parceria é outro. “A mudança que senti tem a ver com a abertura da mente”, diz Olligs, que cultiva beterraba, batata, trigo, milho, cevada e canola e entrega a produção para diferentes clientes, na Alemanha e na Holanda. “Comecei a ver o que funciona bem e o que poderia funcionar melhor com a adoção de medidas diferentes das que eu estava acostumado”, afirma o produtor.
Entre as mudanças pelas quais a fazenda Damianshof passou nos últimos anos está a criação de áreas para a preservação da biodiversidade. Olligs explica que os produtores alemães devem destinar 5% do total da área das propriedades para preservar a biodiversidade. Em troca, recebem do governo E 100 por ano, por cada hectare preservado. Nesta tarefa, ele conta com Patrick Lind, consultor de biodiversidade indicado pela Bayer. “Acredito que o benefício maior desta atividade não é para a produção em si, mas para o meio-ambiente”, afirma Lind. “E isso é bom para todos.” A cada safra são determinadas cinco áreas triangulares de 1,5 hectare cada, nas quais nada é cultivado por cinco anos. O local serve como ninho para as abelhas selvagens e outros animais, como coelhos e pássaros, por exemplo, e contribui para manter a biodiversidade na propriedade.
Na produção, evitar o desperdício é a palavra de ordem. Nessa tarefa, a agricultura de precisão tornou-se uma ferramenta indispensável. “Uso a agricultura de precisão, por exemplo, para todos os trabalhos mecânicos na propriedade, desde o plantio, colheita até a aplicação de agroquímicos”, afirma Olligs. “Com isso, consegui reduzir em 15% o uso de insumos.” Entre os instrumentos utilizados por Olligs para obter resultados como este também está o digital farming ou “agricultura digital”, que é a coleta e transmissão de informações para bancos de dados. Essas informações voltam para o produtor em forma de imagens, dados ou números que o auxiliam na tomada de decisão. Para se ter uma ideia do quanto o segmento vem crescendo, a multinacional investirá E 200 milhões até 2020 em todo o mundo para oferecer serviços que ajudem o produtor a fazer melhores escolhas.
Na propriedade é utilizado um aplicativo para celular chamado Weed app, elaborado pela Bayer e que está em teste com produtores de dez países. O produtor usa o aplicativo para tirar uma foto da invasora e enviar a um banco de dados, que identifica qual é a planta daninha que está na lavoura. De acordo com Tobias Menne, diretor global de Digital Farming da Bayer Crop Science com a ferramenta, o produtor pode combater a praga invasora com mais assertividade. “Isso é importante, especialmente para pequenos produtores que têm dificuldade de acesso a informações agronômicas”, afirma.
Digital: aplicativo para reconhecer invasoras chega ao Brasil em 2017, diz André Salvador,
da Bayer
A tecnologia utilizada na Alemanha tem um pé no Brasil. O modelo foi desenvolvido pela equipe de digital farming que fica em São Paulo e que envolve 13 pessoas. André Salvador, responsável pela área de digital farming da Bayer no Brasil, diz que ela estará disponível no País até outubro deste ano, para clientes da Bayer que queiram participar da segunda fase de testes da tecnologia. Por aqui, 16 clientes da Bayer de Goiás foram escolhidos para a primeira fase de testes. De maio a novembro do ano passado, mais de sete mil plantas foram fotografadas e catalogadas para a identificação por meio do aplicativo. Em 2017, ele estará disponível comercialmente para todos os produtores. Embora indique o tipo de erva daninha que afeta a lavoura, o aplicativo não sugere um produto da multinacional para sanar o problema. “O digital farming é um meio para facilitar a decisão do produtor, para que ele use o produto correto, no local certo e no momento adequado”, afirma Salvador. “E isso é parte de uma tendência que está ganhando força no agronegócio que é a venda de produtos ligada a oferta de serviços”, diz.
Bayer investirá E 2,5 bilhões até 2020
A Bayer Crop Science, área da mutinacional alemã voltada ao setor agrícola, investirá E 2,5 bilhões entre 2017 e 2020. O aporte foi anunciado em conferência mundial de imprensa realizada em Leverkusen, na Alemanha, no começo de setembro. “Os recursos serão aplicados em fábricas, infraestrutura e laboratórios”, afirmou Liam Condon, presidente global da divisão de Crop Science da companhia. “Mesmo em anos difíceis a empresa nunca diminuiu o investimento, pois isso é o que nos traz crescimento”, disse.
Ele salientou que a empresa manterá o investimento de 10% de suas vendas globais em pesquisa e desenvolvimento, o equivalente a E 1,1 bilhão, E 100 milhões a mais que em 2015. Condon ainda estimou que as vendas na área de Crop Science devem repetir o desempenho do ano passado, quando atingiram E 10,4 bilhões. Segundo o executivo, o lançamento de 20 produtos até 2020 poderá ser responsável por um incremento nas vendas de
E 5 bilhões no período.
Esses serviços, assim como a agricultura de precisão, muitas vezes fazem com que o produtor utilize uma menor quantidade de insumos, já que indicam o local para aplicação. Parece um passo controverso quando quem os promove é uma empresa de agroquímicos. Mas Klaus Kirsch, gerente global pelo Bayer ForwardFarming, garante que não. “Se isso traz benefício ao produtor, e nós vendemos esse benefício a ele, a relação é um jogo em que todos ganham, mesmo que signifique vender menos agroquímicos”, diz ele. “Mas compensa, porque o ganho está no valor que criamos.” Para Kirsch, a oferta de serviços por empresas de insumos, uma prática iniciada há alguns anos no mercado, é um caminho sem volta. “A relação com o agricultor vai além do produto e os serviços ganharão mais importância para a agricultura.”
POR AQUI O Brasil será o primeiro país fora da Europa a contar com fazendas modelo, como a de Olligs, a partir de agosto do próximo ano. “O Brasil é hoje o nosso principal mercado”, afirma Mark Reichardt, diretor global de Operações de Agrícolas da Bayer (Leia reportagem na página 28). “A fazenda que estamos procurando deve estar próxima de Brasília, para que possamos nos comunicar melhor com sociedade e as autoridades brasileiras”, diz. “Queremos mostrar que a agricultura moderna não tem nada a esconder e usa tecnologias avaliadas e seguras.” A ideia, de acordo com o diretor, é que o Brasil tenha mais de uma Forward Farm além do Centro-Oeste. “Uma fazenda não será suficiente”, diz Reichardt. Ele afirma que seria importante ter unidades nos Estados de São Paulo, o centro financeiro do País, e no Paraná, um dos maiores produtores de grãos do Brasil. Isso porque a agricultura tropical faz com que os desafios no Brasil sejam maiores que nos países nos quais se trabalha apenas uma safra, o que torna as tecnologias e a inovação ainda mais importantes. “Tenho certeza que as novidades serão bem recebidas”, diz Reichardt.