Como o empresário Paulo Roberto Levy, sócio do jornal Gazeta Mercantil, fez de seu haras um celeiro de campeões

NICHOLAS VITAL, DE JAGUARIÚNA (SP)

Sereno e bom de papo, o paulista Paulo Roberto Levy sabe como poucos desfrutar os prazeres da vida. Aos 67 anos, vive tranqüilo em seu haras, na cidade de Jaguariúna, preocupado apenas em cuidar de seus cavalos. Pode não ser um trabalho muito árduo, mas a responsabilidade do criador é grande. Afinal, sob sua tutela estão algumas das melhores linhagens de purosangue árabe do mundo. Polé, como é conhecido, entrou no negócio no final dos anos 70, por puro hobby, mas começou a levar sua criação mais a sério no início dos anos 80, quando aproveitou uma crise nos Estados Unidos para importar dezenas de animais milionários a preço de banana.

“Existia uma lei norte-americana que permitia abater gastos no Imposto de Renda com a compra de cavalos. No final do ano, o mercado esquentava, pois os empresários precisavam justificar seus gastos, então o preço explodiu. Qualquer cavalo era vendido por US$ 200 mil”, conta Levy. “Quando o Ronald Reagan assumiu a Presidência, acabou com este incentivo. Então o mercado desabou”, continua ele, que aproveitou como ninguém os preços baixos para trazer alguns dos grandes campeões norteamericanos para o seu haras.

Só nessa época, o criador diz ter importado ao menos 20 animais ‘top’, que ajudaram a fortalecer o nome de Polé como um dos principais criadores do País e também a engordar significativamente sua conta bancária. Um bom exemplo é o

Cada venda é uma venda. Vai muito da negociação, mas muitos negócios ainda superam os US$ 1 milhão garanhão Lyphard.

PAULO ROBERTO LEVY criador de cavalos árabes

O animal, que nasceu em meio à euforia do mercado nos Estados Unidos, havia sido leiloado por US$ 875 mil pouco antes do fim dos incentivos, quando ainda era um potro. Pouco depois, com o mercado em baixa, foi arrematado por cerca de US$ 2 mil e trazido ao Brasil.

Logo em seu primeiro ano de disputa em pista, Lyphard foi consagrado grande campeão brasileiro, se valorizou e não parou mais de dar lucros ao seu dono. Na época, uma cobertura podia ultrapassar os US$ 10 mil. Dois anos mais tarde, Levy vendeu 60 cotas do animal e formou um condomínio. Valor arrecadado: US$ 2,5 milhões. Aos 28 anos, o cavalo está novamente nas mãos do Haras Capim Fino, de propriedade de Polé, e segue trabalhando normalmente. Só que num ritmo um pouco mais moderado. Neste ano, por exemplo, o garanhão fez apenas 12 coberturas, a US$ 2 mil cada uma.

Mesmo sendo o símbolo maior de uma época áurea do criador, Lyphard não foi o único cavalo de seu haras a se destacar. Prova disso foram os 16 anos em que Paulo Roberto Levy ocupou a liderança do ranking nacional da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Árabe. Hoje em dia já não disputa mais em pista, apenas expõe seus animais nos principais eventos eqüestres, tanto no Brasil quanto no Exterior. “A minha propaganda já está feita. Agora é só colher os frutos”, brinca.

NEGÓCIO DE OCASIÃO: Levy aproveitou a crise para comprar animais de ponta e fazer fortuna

Depois, falando sério, Levy garante que criar cavalos árabes é um ótimo negócio. “Cavalo árabe, quando desmama, já é um produto pronto para a venda. É diferente de outras raças, em que você precisa esperar a maturidade do animal para fazer uma avaliação e depois vender.

É muito mais fácil. Fora que hoje o Brasil é o número 1 em genética. Isso agrega muito valor”, afirma. Perguntado sobre o preço médio de seus cavalos, ele desconversa. “Cada venda é uma venda. Vai muito da negociação, mas muitos negócios ainda ultrapassam a marca de US$ 1 milhão”, completa. E, pelo jeito, isso não é só conversa…