A mineira Natália Coelho viveu os primeiros anos de sua vida numa fazenda na área rural de Ponte Nova, município mineiro localizado a 170 quilômetros de Belo Horizonte. A paz do interior, o ar puro e o verde que compõem a paisagem foram marcantes para sua infância.

Assim, não foi difícil para ela perceber a importância de preservar a natureza e, com o passar dos anos, entender que era preciso buscar formas para conseguir restaurá-la. Já adulta, ela idealizou e ajudou a implantar dois projetos de reflorestamento. O mais robusto deles resultou na produção de mais de 1,5 milhão de mudas e na recuperação de mil hectares de florestas.

Servidora do Ibama, Natália foi uma das fundadoras do Programa Arboretum, que busca restaurar e conservar florestas brasileiras. O programa surgiu em 2013. Mas é possível dizer que começou a ser gestado alguns anos antes, quando ela criou o Projeto Jacarandá, na região sul da Bahia.

“No Jacarandá, a comunidade tinha a responsabilidade de produzir as mudas e coletar as sementes com a assistência técnica e logística do Ibama. As empresas que tinham passivos ambientais se comprometeram a estruturar e manter um viveiro florestal em troca das mudas”, afirmou Natália.

“A partir da experiência do Projeto Jacarandá da Bahia, idealizei o Programa Arboretum de Conservação e Restauração da Diversidade Florestal, que reúne em sua gestão atores públicos de pesquisa, extensão e normatização.”

CAPACITAÇÃO

O programa capacita comunidades indígenas, rurais e assentamentos. Oferece suporte técnico e de logística para a produção de sementes e de mudas, além de auxiliar no plantio. No início, foram criados cinco núcleos entre aqueles grupos.

Hoje, o Programa Arboretum dobrou de tamanho. Segundo Natália, ao todo são mais de 50 coletores de sementes ativos e mais de 30 viveiristas envolvidos nas comunidades, que cuidam de quatro viveiros de plantas.

A produção tem números relevantes. “Entre 2014 e 2020 foram produzidas 1,6 milhão de mudas e mais de nove toneladas de sementes. São mais de 550 espécies (de plantas) cadastradas, que contribuíram em mais de R$ 1,5 milhão na renda dos coletores e viveiristas”, disse a servidora. “A partir dessa produção, foram restaurados cerca de mil hectares de floresta.”

As mudas produzidas são de árvores frutíferas, endêmicas (só encontradas naturalmente em algumas regiões) ou raras. Há ainda aquelas que, por suas características naturais, agilizam a recuperação florestal nas áreas degradadas no passado pela ação humana.

Entre as espécies estão aquelas com potencial econômico, como a sapucaia e a pimenta de macaco. Também pode ser encontrada uma espécie frutífera nova, ainda não descrita oficialmente: a abiu negro. Espécies de alto valor ecológico agregado também são plantadas pelo projeto. Estão nesta categoria o pau-brasil e do jacarandá-da-Bahia.

“Estamos trabalhando plantios prioritariamente em áreas de agricultura familiar, por meio de sistemas agroflorestais”, destacou Natália. “Entre médios e grandes proprietários, (buscamos) restauração de áreas de preservação permanente por meio de plantios em área total.”

APOIO

Apesar de nem sempre essas iniciativas terem atenção dos governos, Natália disse que o Arboretum tem recebido reforços como política pública ao longo dos anos. Os principais deles vêm do amparo do Serviço Florestal Brasileiro, vinculado ao Ministério da Agricultura, e do Ministério Público Estadual da Bahia (MP-BA), que ajudou na criação do programa.

Mas Natália diz que ainda há muito a fazer. “Infelizmente, o discurso e a teoria sobre a importância e o valor das florestas conservadas e biodiversas não reverberaram na realidade, e na prática, da maior parte das pessoas que de perto guardam as florestas”, disse Natália.

“Pela estrutura pequena e recursos limitados em comparação com universidades e outros centros de pesquisa, me pergunto por que as pessoas que conhecem o Programa Arboretum ficam tão entusiasmadas”, refletiu a idealizadora do programa. “Tenho pensado e entendo que não seja pelo que o Arboretum é, mas pela potencialidade latente da floresta que apresenta.”

O Arboretum tem um conselho gestor que reúne diferentes entidades, como o Serviço Florestal Brasileiro, o Jardim Botânico do Rio, a Embrapa Tabuleiros Costeiros, o Instituto Federal Baiano, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos daquele Estado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.