Duas novas fábricas de fertilizantes da Petrobras abrem uma disputa nos bastidores do Planalto. O governo já se decidiu por

Mato Grosso do Sul e Espírito Santo, mas a polêmica continua e outros Estados ainda querem virar o jogo

Mina de calcário: um dos insumos que o Brasil pretende importar menos

Os bastidores da Petrobras andam animados e há quatro bilhões de motivos para isso. Esse, aliás, é o valor do cheque que a empresa tem para construir as duas novas fábricas de fertilizantes no País: R$ 4 bilhões. Tal volume tem movimentado os Estados interessados. Segundo o que apurou DINHEIRO RURAL, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo serão mesmo donos das duas unidades que processarão principalmente ureia, adubo rico em nitrogênio, substância da qual o Brasil é extremamente dependente do mercado externo. Até agora, não há um posicionamento formal. O próprio governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, chegou a garantir que seu Estado era vitorioso na disputa. Disse, mas depois disse que não disse. Assim também fez o ministro Reinhold Stephanes, que cravou Três Lagoas (MS) e Linhares (ES) como os laureados pelos investimentos. Após uma censura nos bastidores, “desdisse” o que dissera. E, no meio de todo esse disse não disse, até a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), principal entidade representativa do setor, resolveu não dizer nada, numa clara demonstração de que questões políticas ainda operam determinações técnicas. Isso por que vários estados ainda cobiçam a dinheirama. Entre eles São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Sergipe que ainda não jogaram a toalha e pretendem virar o jogo. Mas isso não é o que acredita a secretária de Desenvolvimento Agrário, Produção, Comércio e Turismo de Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina Corrêa. “Se a decisão for técnica, somos vitoriosos; se for política, ninguém sabe”, avalia. A Petrobras, por usa vez, adotou o discurso cauteloso e garante que não há nada decidido.

“Os planos são continuar estudando. Existem locais que são potencialmente mais interessantes que outros locais. Evidentemente que existe solicitação de planta em todo o território nacional, mas não há nada definido”, declarou a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Graça Foster.

O projeto de fertilizantes desperta interesse não apenas pelas altas cifras envolvidas, mas também pela importância estratégica. Afinal, hoje o Brasil importa cerca de 70% dos fertilizantes que consome. Com essa dependência, o insumo chega a responder por 30% do custo de produção de culturas como a soja. “Uma decisão definitiva acontecerá somente quando vierem os valores posteriores ao projeto básico”, ressalta Foster.

A entrada da Petrobras no setor de fertilizantes não é propriamente uma novidade. A empresa já explorou jazidas de potássio na década de 80, mas acabou arrendando sua mina para a Vale. Mesmo sem dar detalhes dos novos projetos, a ideia da Petrobras é apostar na produção de fertilizantes nitrogenados à base de ureia e amônia – que a empresa já produz em duas unidades, instaladas na Bahia e em Sergipe. Juntas elas são responsáveis anualmente por 907 mil toneladas de amônia e outras 1.098 toneladas de ureia. Com as novas plantas, a expectativa é de que o País reduza em 25% o volume que hoje é importado. “O custo de produção desses produtos no Brasil é alto. Por isso, as fábricas vão operar com margens muito apertadas. Se não estiverem em um local com uma logística boa, elas serão inviáveis”, explica Tereza Cristina. Para a secretária, esse é o grande trunfo da região. “Estamos próximos dos principais centros produtores de grãos, o que facilita a logística”, revela.

Já no Espírito Santo, mesmo sem ter havido manifestação pública, não há quem duvide que uma das fábricas seja construída no local. O otimismo se deve à infraestrutura que a própria Petrobras já tem montada na região. Há três anos, a estatal construiu no município de Linhares (ES) um complexo para extração de gás natural que hoje já produz dez milhões de metros cúbicos, e até o final do ano, irá dobrar sua capacidade. “Hoje o Estado caminha para ser o maior produtor de gás natural do Brasil e esse gás é uma das principais matérias-primas para produção de fertilizantes nitrogenados”, explica o secretário de Desenvolvimento do Estado, Guilherme Dias. “Hoje já temos uma grande reserva de gás, que será expandida no futuro. E toda a estrutura já está montada na região, o que facilita o processo”, continua. Enquanto a Petrobras não anuncia oficialmente sua decisão, o campo deve continuar fértil para especulações.