01/02/2010 - 0:00
Colheita: a corrida já começou e até abril as máquinas não param
Atenção, caro leitor, os dados sobre a safra que está em curso não mentem: a produção brasileira de grãos, segundo a Conab, deverá ser recorde na safra 2009/2010, alcançando 140,35 milhões de toneladas. O custo de produção da soja verificou uma queda de 15% em relação à temporada passada e o preço da oleaginosa está em alta na bolsa de Chicago. Notícias para deixar o campo em festa, não? Nem tanto. Apesar desses indicadores positivos, o ganho dos produtores rurais pode estar comprometido por um grande vilão: o câmbio. Isso porque além de afetar o ganho nas exportações, o dólar desvalorizado tem depreciado o preço da soja no mercado físico, aquele da venda no dia a dia. De acordo com levantamento da consultoria Agência Rural, no município de Sorriso, principal região produtora de Mato Grosso, a saca está sendo cotada a R$ 27,50 (no fechamento desta edição), enquanto no mesmo período do ano passado os mesmos 60 quilos valiam R$ 40 – uma queda de 31%. Com isso a rentabilidade dos produtores pode despencar. “Hoje nossa estimativa é de que a rentabilidade seja de R$ 100 por hectare no Mato Grosso. Muito abaixo dos R$ 440 por hectare registrados no ano anterior”, analisa o consultor da Agência Rural, Eduardo Godoi. “Se continuar nesse ritmo, Mato Grosso pode ter a pior rentabilidade das últimas três safras”, ressalta.
E o câmbio não é o único problema. Outro fator que vem tirando o sono dos produtores rurais é justamente a estimativa de supersafra. Já que outros grandes países produtores como EUA e Argentina também esperam produção recorde, pode haver uma grande oferta de soja. “A situação é um pouco mais favorável para os produtores que tomaram precação, vendendo parte da safra antecipadamente. Cerca de 50% da produção mato-grossense está protegida”, pondera Godoi.
Para o diretor da Céleres Consultoria, Leonardo Soluguren, nem as boas cotações do produto, tidas como um dos pontos favoráveis da safra, devem se manter. “Hoje os patamares de preço estão em alta, num cenário em que na verdade eles não se sustentam”, comenta. Segundo Soluguren, o preço médio da soja na bolsa de Chicago em janeiro ficou cotado a US$ 10 o bushel. Enquanto nesse mesmo mês, no ano passado, a oleaginosa era cotada a US$ 9,91 o bushel. “Fatores como fundos de investimento operando com commodities, usando-as como ferramenta de proteção monetária, podem estar segurando os preços. Mas a qualquer momento esses fundos podem sair do mercado”, explica o diretor, que chama a atenção para outro aspecto importante nesse xadrez da safra: a participação da China. “A China possui um grande estoque de armazenagem e a grande pergunta é se ela vai manter, aumentar ou diminuir seu ritmo de importações. Se esse país sair do mercado, os preços despencam.”
A visão é compartilhada pelo exministro da Agricultura e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Rodrigues. “No caso do preço da soja, a tendência, com a safra recorde, é de queda em dólar, um problema em regiões onde a logística ainda é difícil”, avaliou.
Na contramão dessas previsões, o diretor da consultoria Agroconsult, André Pessoa, acredita que o momento é de recuperação econômica internacional. “É surpreendente o fato de chegarmos até a época da colheita com os preços da soja próximos dos US$ 10 o bushel e o câmbio acima de R$ 1,70. São patamares acima do que esperávamos”, diz. “Acredito que 2010 continuará com esse ciclo de bons resultados, refletindo assim no bom desempenho das indústrias ligadas à agricultura, como máquinas, defensivos e fertilizantes”, conclui.