Erguida no auge do Brasil Colônia, em

1756, a Fazenda Chácara do Rosário, em Itu, no interior de São Paulo, viveu diferentes ciclos econômicos. Hoje, é referência em turismo rural

 

Família Pacheco: dona Ana Carolina e João (mãe e filho) preservam a história e os objetos de sete gerações

Distante cerca de 100 quilômetros da capital paulista, a cidade de Itu possui um dos mais bem preservados conjuntos de mansões do Brasil do século XVII. A região, desbravada por bandeirantes, assistiu a expansão de muitas fortunas geradas pelas jazidas de ouro e diamantes dos Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. O município também enriqueceu com as atividades agrícolas como o açúcar, o café, o algodão e a pecuária leiteira. Há mais de 250 anos, as fazendas eram o próprio retrato da riqueza da época.

Com o tempo, as plantações foram substituídas por outras fontes de renda. Algumas famílias se mantiveram na propriedade, outras migraram para a capital, deixando para trás as fazendas com suas histórias, mobílias rústicas e louças sofisticadas. Muitos casarões mudaram de mãos várias vezes. Um grande número de fazendas foi entregue a bancos para honrar dívidas. A maioria, no entanto, não resistiu à passagem do tempo. Dezenas deles acabaram demolidos para dar espaço a mansões. Aqueles que resistiram se mantiveram vivos pela dedicação de seus proprietários.

,Entre aquelas preservadas destaca-se a Fazenda Chácara do Rosário. Acervo histórico a céu aberto, sua construção data de 1756, anterior em três décadas à Revolução Francesa. A propriedade é um dos melhores retratos do período colonial.

 

 

Sua arquitetura é repleta de detalhes. As paredes, erguidas à base de taipa de pilão (barro que é socado em um pilão), chegam a medir 70 centímetros de largura, estrutura forte para suportar o pesado e imponente telhado. A mobília, feita de madeira de cedro e cabreúva vermelha, ainda é original, apesar do desgaste da ação do tempo. Os objetos são uma atração à parte. Acessórios de uso pessoal e retratos da década de 1925 revelam uma cultura bem mais recente.

A sede, uma construção em estilo colonial bandeirista, preserva o mesmo aspecto dos tempos em que a propriedade se chamava Engenho Grande e era uma das maiores produtoras de açúcar da região. O último ciclo produtivo da fazenda foi a fabricação de cerâmica. O terraço original foi mantido, assim como uma grande sala e as alcovas (pequenos quartos com janelas de proteção de madeira). Nas laterais do casarão, de um lado há uma capela, e do outro, um quarto para dar pousos. Só em 1957, bicentenária, é que a Chácara do Rosário recebeu seu primeiro banheiro, no bojo de uma restauração.

 

Erguida no auge do Brasil Colônia, em

1756, a Fazenda Chácara do Rosário, em Itu, no interior de São Paulo, viveu diferentes ciclos econômicos. Hoje, é referência em turismo rural

Cavalgada noturna: (Acima) o passeio é uma das principais atrações da programação do turismo rural. Ao lado, objetos e decorações do casarão retratam uma elite endinheirada na época do Brasil Colônia

O primeiro proprietário da fazenda foi Joan Fernandes da Costa, que a vendeu por um conto e oitocentos mil réis a Antonio Pacheco da Silva, primo em segundo grau do famoso bandeirante Manuel de Borba Gato, em 1786. A partir dai, e há sete gerações, a família Pacheco preserva a memória da propriedade, que mantém a mesma área original de 124 alqueires. Os terreiros de cafés deram espaço a pequenas plantações e criações. Na área das senzalas, mantida distante da sede, restou apenas a construção de uma olaria.

Viola: o turista pode ver as apresentações de violeiros. Abaixo, o antigo engenho

E o antigo engenho se transformou em um armazém onde são guardadas as selas de montaria. Sem estrutura para a prática da agricultura moderna, a propriedade, a exemplo de outras fazendas da região, encontrou no turismo rural uma fonte de renda. “Há cinco anos abrimos nossas portas para o turismo”, diz João Pacheco Neto, proprietário da Chácara do Rosário.

A propriedade oferece ao visitante a possibilidade de conhecer a história do lugar, e por meio dela a cultura, as tradições e os hábitos dos tempos das expedições bandeirantes. Além disso, o turista pode saborear uma boa comida caipira e ouvir o canto chorado das cordas de uma viola. Com um programa variado, a propriedade, que faz parte da Associação Pró- Desenvolvimento do Turismo da Estância Turística de Itu (Protur), oferece roteiros pedagógicos para escolas, visitas culturais e noites de serestas e saraus.

Uma das principais atrações é a tradicional cavalgada da lua cheia realizada uma vez por mês. O passeio, com duração média de uma hora, é seguido de jantar com comida típica feita no fogão a lenha e roda de violeiros. O custo do roteiro sai por R$ 70. Porém, para manter a estrutura original, a Chácara não oferece hospedagem. As visitas são agendadas, e a propriedade recebe em média 90 visitantes por fim de semana.

Serviço: Fazenda Chácara do Rosário Av. Vital Brasil, s/n – Antiga Estrada Velha Itu/ Salto – Itu / SP Tel: (11) 9607-7483 Info@rural.tur.br