15/07/2013 - 16:56
Em um campo de grama natural milimetricamente aparada, dois times em jogo disputam uma bola. O objetivo, claro, é marcar gol. O polo equestre até lembra o futebol, mas, além de ser mais antigo (teria sido criado na antiga Pérsia, atual Irã, antes de Cristo – leia na página 76), o jogo de bola a cavalo passa longe de ser tão popular quanto a paixão nacional. O polo equestre é assumidamente um esporte elitista. Tradicional em mais de 50 países e praticado por empresários milionários e celebridades do show business, o jogo também é o preferido da realeza britânica. No Brasil não é diferente. Entre os abonados despontam nomes como Ricardo “Rico” Mansur Filho, João Paulo Ganon, José Eduardo Matarazzo Kalil e centenas de outros polistas que integram a lista da Confederação Brasileira de Polo, com quase 500 atletas.
Nessa lista também estão os irmãos João Gaspar, Carlos Francisco, Angelo Antonio e Luiz Paulo Martins Bastos, jogadores e criadores de cavalos das raças polo argentino e crioulo, em Indaiatuba, no interior de São Paulo, em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e até na Argentina. O país vizinho, além de ser o berço da raça, é considerado a meca do polo equestre. “Temos uma estrutura de cria lá também”, diz João Gaspar, um dos donos da grife masculina Zapälla. Atualmente, ele é classificado com cinco gols de handicap.
É no haras Maragata, em Indaiatuba, que os quatro irmãos formam o Maragata Polo Team. Semanalmente, eles treinam para melhorar o próprio desempenho e dos 40 animais que mantêm no haras, apenas para as partidas. “Só quem cria cavalos sabe a paixão que temos por eles”, diz João Gaspar. “Em nosso caso, a paixão se estende ao polo, que une a família todos os fins de semana.” Outra vantagem do polo equestre, ainda segundo João Gaspar, é a adrenalina que corre solta durante os jogos. No polo, ela é muito mais forte, por exemplo, do que em uma partida de futebol. Isso porque, durante a partida, os atletas contam também com a energia intensa dos cavalos.
A criação profissional de cavalos na família Martins Bastos começou há 24 anos. “Mas o nosso pai já praticava polo militar na década de 1970, quando começou a criar cavalos, em Uruguaiana”, diz Carlos Francisco, publicitário, que já conta com quatro gols de handicap. Os quatro irmãos, unidos pelo polo, são filhos do empresário e produtor rural Carlos Alberto Martins Bastos, que, associado às famílias Tellechea, Ormazabal, Mello e Gouvêa Vieira, detinha o controle do Grupo Ipiranga, vendido à Petrobras por R$ 4 bilhões, em 2007. Na fazenda gaúcha Itapitocai, os Martins Bastos, além de criarem bovinos da raça angus e cavalos, lideram a produção de arroz no Estado. Angelo Antonio, o mais velho dos irmãos, vive em Uruguaiana e é o responsável por toda a atividade agropecuária da família. No polo, ele tem cinco gols de handicap e costuma participar das temporadas na Argentina.
Na Itapitocai, também é feita a cria de 30 éguas, a domados potros a partir de 2 anos de idade e a iniciação dos animais para o polo. “Esse processo leva dois anos”, diz Carlos Francisco, o mais novo dos irmãos. Os animais chegam para treinar em Indaiatuba, entre 4 e 5 anos de idade. Para quem pretende entrar para o esporte, vale lembrar que a associação desse esporte a gente milionária não é força de expressão: cada cavalo pode custar entre R$ 20 mil e R$ 150 mil. Somase a isso o custo mensal da manutenção e os gastos com transporte, treinos e torneios giram em torno de R$ 1,5 mil, por animal. No haras Maragata, os cavalos atletas são tratados por funcionários da fazenda, com ração especial, suplementos e treinam pelo menos três horas por dia. “O polo é nosso hobby, por isso costumamos dizer que somos amadores profissionais”, diz Carlos Francisco. O Maragata Polo Team já conquistou alguns dos principais títulos da modalidade, como o Aberto de São Paulo, o de melhor equipe do ano e o campeonato brasileiro.
Entre uma safra e outra de arroz, bovinos e cavalos, o Maragata Polo Team segue o ritmo das competições, especialmente em São Paulo, onde atuam as principais equipes brasileiras. Indaiatuba é uma espécie de capital brasileira do esporte. “Temos também a Hípica Paulista, com escolinha”, diz Carlos Francisco. Em Ribeirão Preto também há competidores, assim como nos municípios de Avaré, Franca e Orlândia. “Todos vêm competir em Indaiatuba”, diz Carlos Francisco No mês passado, os irmãos competiram na Copa Ouro São José Polo, no Clube de Polo São José e no Aberto de São Paulo, organizado pela Federação Paulista de Polo, no Helvetia Country Club, em Indaiatuba. Nos eventos, o Maragata Team contou com o apoio do banco suíço Julius Baer.
Com ativos de US$ 308 bilhões, o banco, com sede em Zurique, tem por tradição patrocinar campeonatos e equipes de polo ao redor mundo. “O polo nos oferece plataformas ideais para a interação com os nossos grupos-alvos”, diz Marc Brändlin, presidente da instituição no Brasil. “Optamos pelo País porque vemos o Brasil como um dos mais promissores mercados mundiais de gestão de riqueza.” De acordo com Brändlin, a ideia por trás dos patrocínios é reforçar a presença do Julius Baer no mercado financeiro local, ao longo dos próximos anos. A próxima temporada brasileira de polo equestre, que começa em março de 2014, certamente contará com o apoio do banco suíço, ainda que os empresários envolvidos com o esporte não dependam disso para competir.