O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e a sua equipe, estão trabalhando em um novo pacote de medidas para enfrentar o novo coronavírus (covid-19). Entre os anúncios, que devem ser divulgados nos próximos dias, estão previstas medidas para garantir a logística de produção e distribuição de alimentos, principalmente para os setores mais pobres da sociedade.

Entre as medidas já anunciadas pelo governo, estão a criação de abrigos e reforço dos planos de alimentação para pessoas em situação de rua, além de um bônus no cartão Uruguai Social (Tarjeta Uruguay Social – TUS). Esse benefício é uma transferência de renda concedida a famílias em situação de extrema vulnerabilidade socioeconômica.

Os valores variam de acordo com o número de menores de idade que vivem na casa, podendo ir de 1.200 pesos (cerca de R$ 135) a 6.460 pesos (cerca de R$ 725). Os beneficiários do TUS receberão uma mensalidade a mais, em duas parcelas, uma a ser paga no dia 31 de março e a outra no final de abril.

Para arcar com esses gastos, o Ministério do Desenvolvimento Social receberá cerca de US$ 22 milhões.

Além de novas propostas para a área social, a equipe econômica do governo também deverá anunciar mais medidas para suavizar o impacto para pequenas e médias empresas.

Pesquisa

A Câmara de Comércio e Serviços do Uruguai, preocupada com os impactos nas atividades econômicas no país, realizou uma pesquisa com 629 empresas dos setores da indústria, agropecuária, construção, serviços e comércios.

Entre as empresas consultadas, 90% afirmaram que seus níveis de venda já caíram após a chegada do novo coronavírus no país. Dois terços, 66%, disseram que as quedas foram muito acentuadas.

Além disso, 95% dos empresários disseram acreditar que suas vendas seguirão caindo nas próximas semanas. Seis de cada dez empresas afirmaram que tiveram que reduzir o número de empregados, e 66% dos empresários disseram cogitar demitir seus funcionários e 34% afirmaram estar buscando outras opções, como o teletrabalho, licenças e revesamentos de turnos.

Na semana passada, o governo anunciou um regime especial de seguro-desemprego, flexibilizado para todos os setores. Desta forma, permite que os empregadores enviem funcionários ao seguro-desemprego por apenas um mês ou que a empresa tenha uma redução horária e que as horas restantes sejam pagas pelo governo.

Esse mecanismo foi pensado, inicialmente, para os setores de comércio, serviços, turismo e restaurantes, áreas mais afetadas no curto prazo, com uma parada de quase 100% de suas atividades.

Após o anúncio, cerca de 20 mil pessoas foram encaminhadas para o seguro-desemprego. Agora em março foram cerca de 40 mil.

A pesquisa perguntou ainda quais medidas os empresários consideram mais urgentes por parte do governo. Em primeiro lugar aparece a flexibilização no pagamento de impostos e tarifas públicas, com adiamento das datas de vencimento e o parcelamento das cotas sem juros.

Além disso, pediram a exoneração dos pagamentos da previdência para aquelas empresas que mantiverem seus empregados trabalhando.

Salários

O cancelamento de aumentos salariais previstos (no Uruguai, os salários são reajustados duas vezes ao ano), para o setor público e privado, também é uma demanda.

Algumas dessas medidas já foram anunciadas pela ministra da Economia, Azucena Arbeleche, como a flexibilização de condições, propiciando prazos estendidos e menores taxas para o pagamento de impostos e contribuições para as pequenas e médias empresas.

Arbeleche anunciou também que o Banco da República (banco estatal) abrirá uma linha de crédito de 50 milhões de dólares, com melhores condições.

Outra medida adotada foi aumentar os recursos do Sistema Nacional de Garantia (Siga) para pequenas e médias empresas e também reduzir em 70% a comissão cobrada pela administração desses fundos.
O Siga é uma garantia para as micro, pequenas e médias empresas que encontram obstáculos para conseguir crédito em uma instituição financeira. O instrumento possui um custo por comissão de uso de 2% ao ano em pesos e 2,6% em dólares. A porcentagem máxima de cobertura pode chegar a 70% do empréstimo solicitado.

Panelaços

Ontem (25), às 21h, panelaços foram ouvidos nos bairros de Montevidéu. A manifestação, convocada pela Central Única dos Trabalhadores (Pit-Cnt), é contra as medidas anunciadas pelo governo, consideradas insuficientes.

No entanto, escutou-se também o hino nacional, tocado por apoiadores do novo governo, que assumiu no dia 1º de março deste ano.

Além das panelas e do hino, ouviu-se também muitos aplausos. Na última semana, todos os dias, às 21h, os uruguaios vão às janelas e varandas aplaudir os profissionais da saúde envolvidos no combate ao coronavírus.

Até o momento, o Uruguai tem 217 casos de contaminações pela covid-19. Quatro pessoas estão em terapia intensiva (UTI).

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