07/11/2014 - 12:01
Com um radiotransmissor nas mãos e olhos atentos à movimentação aérea em torno de Campos de Júlio, em Mato Grosso, Sérgio Barbieri, diretor da Usimat, aguardava ansioso a chegada de um avião. A bordo da aeronave que se aproximava do município, com pouco mais de cinco mil habitantes, distante 600 quilômetros da capital Cuiabá, estava uma ilustre visita, o ministro da Agricultura, Neri Geller, que iria conferir os avanços da produção de etanol de milho e sorgo na usina flex da empresa. “Vamos mostrar a potencialidade da indústria de etanol de cereais em Mato Grosso”, disse Barbieri, minutos antes de recepcionar Geller na pequena pista de pouso próxima à usina. O encontro, no dia 18 de outubro, pode ter sido um marco importante para o setor. Com a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, o ministro Geller é candidato a se manter no cargo. “Buscamos o apoio do governo porque precisamos cada vez mais dessa aproximação”, diz Barbieri.
A Usimat é a primeira usina flex controlada pela família paranaense Scholl. Ela foi adaptada em 2011 para processar cana-de-açúcar, milho e sorgo, após investimentos de R$ 25 milhões. Com isso, os Scholl, que têm como principal negócio a companhia de armazenagem e transporte de grãos Sipal, venceram um desafio histórico na região: produzir etanol na entressafra de cana-de-açúcar. Nesse período, o setor sucroalcooleiro fica “adormecido” durante quatro meses e falta a principal matériaprima para a produção do biocombustível. Tradicionalmente, o Centro-Sul do País amarga um período ocioso, de dezembro a abril, enquanto no Nordeste a entressafra ocorre de maio a setembro. “Como não é impossível acabar com a entressafra, criamos a solução”, afirma Barbieri. “E hoje apresentamos bons resultados.”
Nas safras 2012/2013 e 2013/2014, a Usimat esmagou 112 mil toneladas de milho e sorgo, que renderam cerca de 41,3 mil metros cúbicos de etanol. Já a previsão para a safra 2014/2015 é ainda mais expressiva. A expectativa é de praticamente dobrar a capacidade, com processamento de 110 mil toneladas dos cereais e produzir 42 mil metros cúbicos de etanol, o que renderá receitas da ordem de R$ 70,2 milhões. Nessa conta, entra também o faturamento da produção de óleo e ração seca, subprodutos do milho que são destinadas à dieta de bovinos. “Os números têm provado que a usina flex é viável”, diz o diretor.
Para os agricultores, o principal problema é que, mesmo com bons resultados e a confirmação de que a tecnologia funciona, a produção de etanol de milho ainda não conta com o apoio dos governos estadual e federal e carece de investimentos públicos. Por esse motivo, segundo Glauber Silveira, presidente da câmera setorial da soja e conselheiro da Aprosoja-MT, eles apresentaram as reivindicações do segmento ao ministro. “Queremos o comprometimento dessas autoridades”, diz Silveira. “Precisamos de apoio.” Outro ponto citado por ele é que o preço do etanol vendido no posto de combustível próximo à usina, a uma distância de apenas 60 quilômetros, é mais alto do que o do etanol comercializado em Cuiabá. Segundo ele, isso é resultado do tabelamento do preço do álcool pelo da gasolina, o que encarece o etanol. “Essa vinculação tem de mudar”, diz Silveira. “Algo precisa ser feito o mais rápido possível.”
Acessível e aberto ao diálogo com os produtores, o ministro da Agricultura afirmou que o governo está trabalhando no tema da produção de etanol. Segundo Geller é de conhecimento de todos o potencial de crescimento da produção de milho. “Já temos financiamentos para a produção de etanol de milho no Plano Safra 2014/2015”, diz Geller. Para ele, o principal entrave ao crescimento do setor são os acordos internacionais sobre segurança alimentar, que vedam a destinação de grãos e produtos agrícolas em geral à produção de energia. “Temos sempre de ressaltar que o milho utilizado como matéria-prima do etanol é excedente, e que não vai comprometer a alimentação”, diz Geller. O governo brasileiro pode seguir o exemplo dos Estados Unidos, maior produtor de milho do mundo, que neste ano prevê colher uma safra recorde com 366 milhões de toneladas, e também utiliza o grão para a produção de etanol.