O departamento de biologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com a vinícola Guatambu, o Grupo de Pesquisa em Ecologia do Pastejo da  Universidade Federal do Rio Grande do Sil (GPEP-UFRGS)) e o projeto Rede Pecus da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolveu uma pesquisa envolvendo a alimentação de ovinos com co-produtos da vinificação – sementes e cascas de uva ao longo de 2015. Os 40 animais selecionados para amostra são do plantel da Estância Guatambu, de Dom Pedrito, RS, que também é proprietária dos vinhedos nos quais a pesquisa foi feita.

Foram avaliadas técnicas de reaproveitamento de resíduos gerados no processamento de alimentos da maneira mais eficiente possível. São considerados resíduos agrícolas ou co-produtos os provenientes de atividades agrícolas, florestais, agroindustriais e pecuárias, sem utilização posterior na própria exploração. O melhor resultado veio da avaliação das emissões de metano pelos animais, gás que contribui para o aquecimento global e vem despertado diversas discussões sobre a produção e o consumo de carne.

As ovelhas que tiveram incluído o bagaço de uva nas dietas apresentaram uma redução das emissões de gases, indicando não somente a aceitabilidade pelos animais de um produto antes utilizado como adubo, como também as vantagens ambientais e sua utilização como fonte nutricional.

De acordo com a pesquisadora coordenadora do projeto, Profª Drª Fernanda Medeiros Gonçalves, os resultados obtidos refletem a necessidade de desenvolver pesquisas aplicadas e em parceria com a indústria: “Este projeto mostra como podemos ampliar ganhos em todas as áreas, em especial a preservação ambiental. O êxito na resposta implicará na concepção de novos projetos com diferentes coprodutos da indústria”.

Uma maneira de aproveitamento de co-produtos agroindustriais é a alimentação animal, em especial, a de ruminantes, que possuem a capacidade de aproveitar fontes ricas em lignocelulose para produzir carne e leite. O potencial de utilização de coprodutos da vitivinificação na alimentação de ruminantes possui um grande apelo em relação à redução de custos com alimentação e, adicionalmente, atender normas ambientais referentes ao descarte de resíduos.

As mensurações das emissões de metano foram conduzidas pelo bolsista de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Rodrigo Chaves Barcellos Grazziotin, que revela que o intuito foi conciliar dois problemas ambientais em uma única solução. “Nosso objetivo era encontrar maneiras de aproveitar o alto volume de bagaço de uva gerado no processo de vitivinificação, uma grande preocupação das indústrias atualmente, e a questão das emissões de metano pela pecuária”, conta.

O projeto envolveu a análise nutricional dos co-produtos gerados durante o processamento da uva e seu potencial de utilização na alimentação de ruminantes. O bagaço da uva possui algumas propriedades que são benéficas para o ambiente ruminal e, portanto, auxiliam na digestão dos animais, fazendo com que liberem menores teores de metano na atmosfera.

O estudo também proporciona a divulgação do potencial de utilização de alimentos alternativos aos concentrados nas dietas abrindo uma nova frente em termos de nutrição animal sustentável. Considerando a tropicalidade do Brasil, o estudo ainda agrega o caráter de inovação tecnológica, envolvendo a pesquisa de métodos para a conservação destes coprodutos que permitam a utilização dos mesmos nas épocas de escassez alimentar.

Segundo o médico veterinário e proprietário da Estância Guatambu, Valter José Pötter, o projeto vem de encontro com a busca pela sustentabilidade em todas as atividades da estância e da vinícola: “A parceria com universidades é uma das características da história da Guatambu. Sempre proporcionamos o diálogo entre a produção e a pesquisa. Além disso, encontrar alternativas sustentáveis para nossas atividades é uma de nossas maiores metas”, declara.