Pioneiros no Brasil na obtenção de um selo de indicação geográfica (IG), os vinhos do Vale dos Vinhedos transformaram a economia de três cidades gaúchas e agora buscam uma retomada do turismo no local após fortes impactos da pandemia e, principalmente, das enchentes no Rio Grande do Sul.

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“A pandemia foi bem difícil para todo mundo. A gente teve períodos que abria e fechava. Mas nos períodos abertos, como as pessoas não podiam ir ao exterior, nos visitavam”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), André Laurentis. “Já agora, no último ano, a gente sofreu muito e sozinhos, sem tem o aeroporto, que é o principal meio de chegada dos visitantes.”

Em 2016, a região formada pelos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul atingiu pela primeira vez a marca de 400 mil visitantes, que cresceu até 2019 quando o número chegou a 443.749. Com a pandemia, o número caiu para a casa dos 200 mil. Os dados são da Aprovale, que não divulgou dados recentes.

Para retomar o crescimento, os produtores atuam em diferentes frentes. Com o poder público, conquistaram asfaltamento e duplicação de novas vias para chegar às cidades e discutem um plano diretor comum para os três municípios, algo inédito até então no país.

“Isso visa valorizar o desenvolvimento do Vale dos Vinheiros de uma forma sustentável, equilibrada e que preserve todo nossa paisagem e cultura, valorizando, além da produção dos vinhos, a gastronomia e turismo, que também somos referências”, diz Laurentis.

Outras iniciativas são uma parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), para alavancar a divulgação da região, e a própria conquista da IG, que segundo a Aprovale gera espaços espontâneos na mídia com custos estimados em R$ 5,2 milhões.

“A gente trabalhou forte nos últimos meses para mostrar que agora a situação já está normalizada, que a gente está pronto para para receber com toda a infraestrutura necessária”, diz Laurentis.

Vale dos Vinhedos foi primeira indicação geográfica do país

A trajetória do Vale dos Vinhos até os números expressivos conquistados em 2019 remete a uma longa história, que possui o primeiro grande marco em 1995 com a criação da Aprovale por seis produtores. Em 2002, a organização conquistou o primeiro selo de IG no país.

A IG é um registro emitido pelo Instituto de Propriedade Intelectual (Inpi) que atesta a existência de uma produção de qualidade reconhecida em uma localidade. Há dois tipos de selo: o de Indicação de Origem (IO), que reconhece a fama do produto, e o de Denominação de Origem (DO), que aponta também características únicas do produto, encontradas apenas naquela região.

Garrafas de vinhos do Vale dos Vinhos com o selo de indicação geográfica
Garrafas de vinhos do Vale dos Vinhos com o selo de indicação geográfica. Crédito: Reprodução/Aprovale

O Vale dos Vinhedos tornou-se uma IO em 2002 e uma DO em 2012. Diretora de projetos com IGs do Sebrae, Maira Fontenelle afirma que o longo tempo entre a conquista dos selos esteve diretamente relacionado ao ineditismo do trabalho desenvolvido pela associação. Hoje, o Inpi já conta com processos para analisar e emitir uma licença em meses.

“É importante a gente destacar que eles tiveram a coragem de fazer o primeiro movimento, enquanto o Brasil ainda não sabia por onde começar. Isso é muito importante”, diz Fontenelle.

Hoje, a Aprovale registra 32 produtores, além de 60 associados setoriais, responsáveis por trabalhos na área de infraestrutura de enoturismo, como gastronomia, hotelaria e outras atividades. São responsáveis por 17% dos vinhos finos e 12% dos espumantes nacionais comercializados no país.