01/04/2009 - 0:00
A dor da perde de um supertouro é sempre algo doloroso para o criador. Mas
quando o valor do sêmen desse animal dispara, isso pode ser um grande alívio
ANIMAIS QUE FIZERAM HISTÓRIA:
1-Big Ben, da Santa Nice, 2- Fajardo, da Agropccuária J. Galera, 3- Gim de Garça, 4- Meteoro de Brasília, 5- 1646 da MN. Esses touros se tornaram marcos na pecuária por transmitir características de importância econômica às suas progênies
Os reprodutores (acima) são os pais ou avôs maternos das principais matrizes da atualidade. Embora não estejam mais entre nós, estes touros são parte da história da pecuária nacional. O legado que deixaram ultrapassa o tempo que permaneceram vivos. Eles tornaram-se verdadeiros marcos tanto na questão genética quanto para seus proprietários. O exemplo mais recente é o do touro Fajardo, da Agropecuária J. Galera, que morreu este ano com 16 anos de idade. O reprodutor da raça nelore é recordista brasileiro de produção e comercialização de doses de sêmen. Foram 460 mil doses, entre sêmen convencional e sexado. “O Fajardo contribuiu para democratizar a genética. Tem mais de 270 mil filhos. Suas filhas são muito longevas, quanto mais velhas, melhores mães se tornam”, diz Ricardo Abreu, gerente de produto zebu corte da Central de Inseminação da Lagoa. A dose do sêmen do reprodutor estava sendo vendida por R$ 350, mas agora a central e o criador estão discutindo um novo preço. “O valor deve, no mínimo, dobrar”, diz Abreu
Outro grande ícone é o touro Big Ben da Santa Nice, reprodutor da raça nelore que comercializou mais de 270 mil doses de sêmen pela ABS Pecplan “A procura pelo sêmen do Big Ben foi muito grande porque suas progênies se destacavam muito em pista”, diz Gustavo Moralles Brito, gerente de produto zebu corte da ABS Pecplan. Não é para menos, o touro foi campeão da Expoinel em 1999, da Expozebu em 2000 e três vezes eleito o melhor reprodutor do ranking nacional da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). Meses antes de morrer, fraturou o joelho, o que levou muitas pessoas a comprar seu sêmen. “Lembro que chegamos a vender 5.000 doses por três meses seguidos a um valor de R$ 85 cada”, diz Antônio Grisi, proprietário da fazenda Santa Nice. Quando o Big Ben morreu, muita gente que tinha o sêmen vendeu por mais de R$ 1 mil a dose. A ABS Pecplan comercializou por R$ 700. Entretanto, a demanda do mercado diminuiu e, consequentemente, o preço do sêmen também. Hoje, a dose é vendida por R$ 280.
A história do touro nelore 1646 da MN é outra para lá de emblemática.
O reprodutor, que tem o material genético comercializado pela Lagoa, não pertence às chamadas grandes famílias e nem ganhou fama por ser um campeão de pista. Mas por ser fechado na linhagem Lemgruber – exemplares da raça nelore trazidos da Índia em 1878 por Manuel Lemgruber -, o 1646 da MN e se tornou uma ótima opção de pedigree. “Ele pode ser usado em qualquer tipo de vaca para minimizar a consanguinidade”, explica Abreu. Em vida, o reprodutor não recebeu a valorização que merecia. Seu sêmen era vendido por R$ 40. Contudo, as honras vieram após sua morte. Hoje, uma dose do sêmen do animal é comercializada a R$ 1.400. Isso porque o tempo mostrou que o reprodutor era um ótimo “raçador”. “O 1646 tinha muita carcaça, estrutura, aprumo e transmitia suas características proeminentes às progênies”, explica Abreu.
O Gim de Garça é outro touro nelore que merece destaque. Com 250 mil doses de sêmen vendidas, ele ganhou reconhecimento por transmitir precocidade para peso e sexualidade a seus filhos e filhas. Entre os descendentes, uma das estrelas é um bisneto, o touro Enlevo da Morungaba. Enquanto estava vivo, o sêmen de Gim era comercializado por R$ 50 e hoje a Lagoa cobra R$ 300 pela dose. Na pecuária leiteira, histórias como essas são mais raras, mas já começam a aparecer. Uma delas é a de Meteoro de Brasília, um reprodutor Gir Leiteiro que faleceu no ano passado. Ele ganhou fama por gerar filhas que depois foram reconhecidas como boas produtoras de leite. Conclusão, a dose de seu sêmen sexado, que era vendida por R$ 80, hoje custa R$ 1 mil. De certa forma, estes animais valem mais mortos do que vivos.