São Paulo, 25 – A guerra entre Rússia e Ucrânia e a posição de neutralidade que a China vem tomando em relação ao tema não deve prejudicar, pelo menos por enquanto, e de forma muito importante, o comércio de produtos agropecuários entre o Brasil e o gigante asiático. A opinião é da sócia da Vallya Participações e diretora executiva da Flora Capital, Larissa Wachholz, que também é especializada em China e foi assessora direta da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para assuntos relativos ao país asiático.

Em webinar promovido na noite desta quinta-feira, 24, pelo Insper Agro Global, sob o tema “Geopolítica e desafios do agro brasileiro em tempos turbulentos”, Larissa lembrou que o Brasil é um parceiro importantíssimo para a China em relação ao fornecimento de produtos agropecuários – de tudo o que o país asiático adquire de alimentos por ano, 20% são fornecidos pelo Brasil.

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Entretanto, no médio prazo, e como consequências do conflito no Leste Europeu, ela diz que o agronegócio brasileiro deve ficar atento à maior aproximação entre Rússia e China, que já está ocorrendo. “A China já vinha numa tendência de diversificar seus fornecedores de produtos agrícolas”, comentou. “Mesmo que o Brasil esteja numa posição extremamente vantajosa atualmente, devemos lembrar que a Rússia tem um potencial agropecuário muito grande”, continuou. “Este potencial ainda não se materializou, mas poderia se concretizar se houvesse condições e empreendedorismo para colocar este projeto de pé, ainda mais pensando nas atuais sanções impostas pelo Ocidente à Rússia”, disse.

“Se essas sanções perdurarem, pode ser que a Rússia se sinta estimulada a ampliar a produção interna de alimentos e foque, a partir daí, na exportação para a China e a Índia”, explicou Larissa, acrescentando que isso poderia, no médio prazo, representar perda de mercado para o Brasil. “É claro que estamos falando hipoteticamente, mas no médio prazo precisamos nos planejar; é um risco palpável e talvez um dos maiores desafios que este conflito (entre Rússia e Ucrânia) pode trazer na relação do Brasil com a China no agronegócio.”

O representante do Insper Agro Global, Marcos Jank, mediador do debate, lembrou que a China representou 40% de tudo o que o agronegócio brasileiro exportou no ano passado, somando US$ 45 bilhões.

Larissa continuou, dizendo ainda “que a China não tem nada a ganhar com este conflito”. “Há mais riscos do que oportunidades em uma situação de turbulência internacional”, enfatizou. “A China é extremamente globalizada e é o maior parceiro comercial de mais de 130 países, inclusive o Brasil, então a última coisa que ela precisa é de um ambiente com turbulência internacional.”