26/03/2021 - 13:28
Mesmo após a retomada da economia no segundo semestre do ano passado, as vendas do varejo na Páscoa de 2021 devem registrar retração de 2,2% na comparação com a Semana Santa de 2020, quando a crise estava no auge, mostram projeções da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O recrudescimento da pandemia e a alta no dólar, na comparação com um ano atrás, ajudam a explicar o cenário negativo.
Nas projeções da CNC, as vendas do varejo devem movimentar R$ 1,62 bilhão nesta Páscoa. Na Semana Santa de 2020, as vendas movimentaram R$ 1,66 bilhão, em valores já atualizados pela inflação. Confirmado o desempenho deste ano, serão dois anos seguidos de baixa. Com a chegada da pandemia, as vendas da Páscoa de 2020 despencaram 28,7% ante 2019.
“Além dos impactos negativos decorrentes da segunda onda da pandemia sobre a renda da população, as medidas de estímulo ao isolamento social coincidiram com o período da Semana Santa e tendem a reduzir o consumo presencial em segmentos que, historicamente, revelam maiores dificuldades em explorar os canais de vendas online”, diz o relatório divulgado nesta sexta-feira pela CNC.
A desvalorização cambial atrapalha as vendas porque boa parte dos produtos típicos da Páscoa é importada. Segundo a CNC, a desvalorização cambial nos últimos 12 meses foi de 23%. Com isso, o estudo projeta aumentos de preços em itens como azeite de oliva (+18,0%), bebidas alcoolicas em geral (+10,6%) e chocolates (7,0%).
Do lado da dinâmica de renda, a CNC destaca ainda que o fato de a Semana Santa deste ano cair no início de abril impedirá um impacto positivo da reedição do auxílio emergencial. O início dos pagamentos da nova rodada da transferência de renda, em valor abaixo da primeira edição, deverá se dar no próximo dia 16.
Além disso, há pouco espaço para as famílias tomarem dívidas. Segundo a CNC, os dados mais recentes do Banco Central (BC) apontam que o comprometimento médio de renda das famílias com o pagamento de dívidas está em 28,4%, “maior patamar da série histórica iniciada em 2005”.
“Levando-se em conta que o último ciclo de endividamento dos consumidores se deu mediante a ampliação dos prazos médios e que há tendência de encarecimento do custo de crédito após a elevação dos juros básicos da economia, atualmente, as condições de consumo por meio da contratação de novas dívidas apresentam baixo potencial de expansão”, diz o relatório da CNC.
As perdas só não serão maiores para o comércio porque, diferentemente da Páscoa de 2020, as empresas não serão surpreendidas pela pandemia. Ou seja, os varejistas já estavam com baixas expectativas de vendas, lembra o estudo da CNC. Isso se refletiu numa redução das importações de produtos típicos das Páscoa. Conforme a CNC, a importação, em quantidade, de chocolates para a Páscoa deste ano (2,9 mil toneladas) foi a menor desde 2013 (quando foi 2,65 mil toneladas). Já a importação de bacalhau às vésperas da data comemorativa deste ano (2,26 mil toneladas) foi a menor desde a Páscoa de 2009 (1,43 mil).
Com a antecipação de feriados tanto em São Paulo quanto no Rio, como forma de diminuir a circulação de pessoas e incentivar o distanciamento social, um levantamento recente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), com base em entrevistas com consumidores, indica que o foco da demanda das famílias será na comodidade.
O levantamento apontou que 71,7% dos entrevistados pretendem comprar alimentos congelados nos dez dias de feriados. Ao mesmo tempo, 56,6% dos consumidores consultados citaram carnes para churrasco como item que certamente estará nas cestas de compras.