05/05/2025 - 7:00
Queridinha de muitos brasileiros, a batata é um tubérculo versátil e que pode ser consumido de diversas formas. Uma das preferidas é a batata chips, encontrada nos supermercados. Pouca gente sabe, no entanto, o caminho que a batata faz para chegar até as prateleiras.
Ao contrário do que pode parecer, esse caminho não começa no campo, mas no laboratório. Isso acontece na Pepsico, maior produtor de batatas chips no Brasil e responsável pelas marcas Lays e Ruffles. A companhia conta com uma batata exclusiva e patenteada que nasceu no laboratório da companhia em Wisconsin, nos Estados Unidos, fruto de anos de estudo. São mais de 120 mil toneladas de batata ao ano para a fabricação dos snacks salgados da marca Elma Chips no país.
Nathalia de Oliveira, gerente de Agronegócio da Pepsico no Brasil, explicou com exclusividade para a Dinheiro Rural todos os processos para fazer nascer a batata perfeita, que vai desde o plantio, a indústria e o armazenamento.

Cada país tem a sua batata
Depois que as pesquisas começam nos Estados Unidos, a companhia realiza diversos estudos em campo para saber qual a variedade vai se dar melhor no solo de cada país. Ao chegar no Brasil, a companhia realiza os chamados testes de Valor de Cultivo e Uso (VCU), em que elas são plantadas em diversas regiões em épocas diferentes do ano. Assim, é possível ter uma previsão de como a batata vai se adaptar no país.
“Esses testes são fiscalizados e regulamentados pelo Ministério da Agricultura”, explicou Nathalia.
Essa batata foi batizada como Fritolay e é utilizada em todos os produtos da linha de batatas in natura da empresa, que além de Ruffles e Lays conta também com a linha da batata palha. Três plantas são as responsáveis por essa produção: Curitiba (PR), Itu (SP) e Sete Lagoas (MG).

Programação no plantio pode durar quatro anos
Depois que a empresa avançou nos estudos da espécie de batata e concluiu que ela lidou bem com o clima e o solo brasileiro, uma nova etapa da pesquisa fica nas mãos dos sementeiros parceiros.
É com eles que ficam a batata semente, que são pequenas batatas que servem como se fossem mudas das que serão utilizadas na etapa industrial. Um dos parceiros mais antigos da companhia, desde 2008, é a Agrícola Wehrmann, na cidade de Cristalina (GO), que atua desde a multiplicação até a colheita que vai para a indústria.

O diretor geral da companhia, Rodrigo Ribeiro, explica que essas batatas sementes são multiplicadas por até quatro anos antes de estarem aptas a serem plantadas e enviadas para a indústria.
“A batata nasce nos nossos laboratórios e é levada para uma estufa refrigerada para um primeiro processo de multiplicação de sementes. Depois ela é levada para o campo para mais duas multiplicações antes de ser plantada e levada para a indústria. Esse processo pode levar até quatro anos”, explicou.
O produtor explicou que no início da parceria ele produzia em menor escala, com cerca de 35 hectares e 500 toneladas de batata, focada na batata de mesa. Atualmente a Wehrmann produz cerca de 12.000 toneladas, o que representa aproximadamente 10% do volume total da indústria da Pepsico anualmente.
Ele explica que fez sentido focar exclusivamente na produção de batatas para a indústria ao invés das chamadas batatas de mesa devido à segurança que esse mercado oferece em comparação com o mercado de batata fresca, que é mais suscetível à dinâmica de oferta e procura e às variações climáticas.
A companhia conta atualmente com 25 produtores nos seguintes estados: Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Destes, apenas quatro participam de todo o processo, desde a multiplicação das sementes até a distribuição para as fábricas. O restante compram as sementes destes produtores e a multiplicam em campo.

Batata o ano inteiro
Originalmente a batata era uma cultura que se dava melhor em climas temperados. Por conta disso, o tubérculo está na base alimentar de diversos países europeus e se tornou a fonte de carboidrato mais consumida na região.
Por conta disso, Rodrigo afirma que há uma grande dificuldade no cultivo do produto no Brasil, já que naturalmente ele deve ser concentrado em partes mais secas do ano, entre março e setembro. Esse é um período mais frio, onde a produção se torna mais controlável, pois a principal fonte de água é a irrigação.
“Dentre as culturas com as quais a gente trabalha, a batata é uma das mais melindrosas. Um produtor amigo meu dizia que é preciso dar bom dia pra batata todos os dias. Chuvas muito grandes, em volume muito muito excessivo, é um problema para a produtividade. No segundo semestre, o consumo de água dela é grande, mas é feito de uma maneira controlada. Quando isso ocorre de uma maneira meio desordenada, para batata principalmente, eu diria que o problema é maior do que para outras culturas”, apontou.
A Pepsico, porém, organiza a produção para colher batatas o ano inteiro. Nathalia explica que a divisão se dá com os estados do sul do país concentrando a produção no primeiro semestres e os estados do sudeste e Goiás alimentando a produção no segundo semestre.
“Essa divisão sazonal e regional permite que a Pepsico tenha um fluxo contínuo de batata fresca para atender à sua demanda durante todo o ano, com plantio e colheita ocorrendo praticamente todos os dias”, contou.

O que a batata perfeita precisa ter?
Mas o que uma batata precisa ter para ser considerada perfeita para a produção da empresa? Nathalia explica que o tubérculo precisa seguir certos parâmetros, como por exemplo:
Alta produtividade: A variedade precisa render uma maior produção por hectare, otimizando o uso da terra.
Sustentabilidade: Deve exigir menos fertilizantes e defensivos agrícolas, contribuindo para a redução da pegada de carbono e para a preservação do meio ambiente.
Qualidades palatáveis: As batatas devem ser saborosas e permitir uma maior crocância, garantindo a satisfação do consumidor final.
Adequação industrial: O formato e a quantidade de amido devem ser adequados para o processo industrial e para o formato das embalagens dos produtos.
Resistência a doenças: É importante que a batata tenha tolerância ou resistência a diversas doenças, já que o Brasil é um país tropical e o cultivo de batata pode ser desafiador.
Viabilidade econômica: A variedade deve ser economicamente interessante tanto para o produtor quanto para a Pepsico, tornando a produção mais eficiente e barata.
“Já aconteceu de uma variedade de batata produzir muito bem no campo, mas falhar nos testes industriais. Não adianta ela ter um bom desempenho em apenas um aspecto; ela precisa atender aos critérios exigidos em todas as etapas. A busca por uma nova variedade é um processo complexo e demorado, justamente porque ela deve atender a todos os critérios de qualidade e superar as variedades já existentes”, apontou.