01/05/2012 - 0:00
NO CAMPO: o uso de máquinas agrícolas na colheita da cana ainda gera perdas maiores que a colheita manual
O plantio da safra 2012/2013 de cana-de-açúcar, que começou em janeiro e no mês passado chegou ao pico, não deve ajudar em nada os planos do setor sucroenergético do País de chegar em 2020 produzindo 1,2 bilhão de toneladas de cana. Vai ser muito pequeno o crescimento da produção nos próximos meses, quase um empate técnico no zero a zero. O primeiro levantamento do ano, realizado no início de abril pela União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), com sede em São Paulo, mostra que a safra de cana da região Centro-Sul deve ser de 509 milhões de toneladas, apenas 3,2% superior à safra anterior, que foi de 493 milhões de toneladas. “A produção de 2012/2013 é 20% inferior à meta previamente estipulada para esta safra”, diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica. Para cumprir a meta de 2020, a atual produção de cana-de-açúcar deveria ser de 637 milhões de toneladas. “Além disso, o crescimento é reflexo direto do aumento da área de cultivo e não do aumento da produtividade dos canaviais, como gostaríamos que fosse”, diz Rodrigues. O crescimento da área plantada foi de 2,7%, passando de 7,2 milhões de hectares em 2011/2012 para 7,4 milhões na safra atual.
O clima é a principal razão para o pequeno crescimento da produção de cana-de-açúcar previsto. A seca pegou os canaviais na fase de brota, nos meses de janeiro e fevereiro, e a previsão é de geada nos próximos meses, em função da virada do fenômeno La Niña, que provoca seca, para o El Niño, que provoca chuvas e baixas temperaturas, e pode comprometer o desenvolvimento das plantas. Eduardo Biagi, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu e diretor do Grupo Pedra de Serrana (SP), que opera quatro usinas no Estado, diz que o desenvolvimento dos canaviais na região de Ribeirão Preto e Sertãozinho, um dos maiores polos produtivos do País, está bastante comprometido. “Há 40 anos monitoramos as chuvas na região”, diz Biagi. “A média histórica dos dois primeiros meses do ano é de 400 milímetros. Neste ano, a precipitação foi de 120 milímetros em janeiro e de 80 milímetros em fevereiro.” Outros fatores que devem contribuir para o baixo rendimento das lavouras são o aumento do uso de maquinários agrícolas para a colheita da cana-de-açúcar, atividade que ainda gera perdas maiores que a colheita manual, e a maior probabilidade de ataque de doenças nas plantas que já estão debilitadas pela seca. A quantidade de açúcar prevista na planta, outra medida importante na produção, também deve ter crescimento modesto em relação à safra passada. As primeiras medições de ATR disponível no colmo, por tonelada, estão mostrando um incremento de apenas 1,7% sobre a última safra. O ATR passará para 140 quilos por tonelada de cana na safra 2012/2013, ante 137 quilos na safra passada. “Isso significa que não estamos conseguindo crescer verticalmente”, diz Pádua. Segundo ele, ATR maior é sinônimo de aumento de produtividade.
Apesar do cenário ruim na lavoura, a produção do biocombustível destinado a abastecer a frota de 15,9 milhões de carros flex do País deverá ser maior que na safra passada. A produção de etanol hidratado deverá crescer mais que a de anidro, que é misturado na gasolina. A Unica prevê uma produção de 14,5 bilhões de litros de etanol hidratado, crescimento de 11,1% na safra, enquanto a de anidro deve ficar em 6,9 bilhões de litros. Com uma produção maior de anidro, o Brasil deve importar cerca de 500 milhões de litros de etanol, um terço do registrado na safra passada. Entre anidro e hidratado, a produção total de etanol deve ser de 21 bilhões de litros, 5% superior à produção da última safra. Para o açúcar, a previsão é de 6% de crescimento, totalizando 33 milhões de toneladas. “Queríamos mais, em tudo”, diz Pádua “A virada na produção do setor sucroenergético ainda não será nesse ano.”