O humorista Heitor Martins, de 52 anos, foi vítima do chamado Golpe do Amor em São José dos Campos (SP), no Vale do Paraíba, em julho. Conhecido por ter interpretado o papel de Pit Bitoca, no Zorra Total, programa da TV Globo, ele conta que conversava com uma mulher havia algumas semanas quando marcou um encontro na casa dela. “Já tinha feito chamada de vídeo, conversado bastante, tudo”, diz.

Quando chegou ao local combinado e desceu do carro, Martins foi abordado por dois homens armados. “Levantei o braço e dei meu telefone. Achei que iam levar o carro”, afirma. Os bandidos, porém, encobriram a cabeça da vítima com a própria camisa e o jogaram no banco de trás do veículo. Minutos depois, ele estava em um cativeiro, onde foi mantido com mãos e pernas amarradas por cinco dias. O período é considerado acima da média em relação aos sequestros.

“Durante esse tempo, sacaram tudo que podiam do banco”, diz Martins. Foram também com o carro da vítima até a casa dele – o humorista mora sozinho – e roubaram objetos de valor, como TVs, computadores e instrumentos musicais. “Só suspeitei que tinham ido lá porque estavam usando um perfume meu quando voltaram”, diz.

Os bandidos chegaram a responder a familiares do humorista por aplicativos de mensagens dizendo que estava tudo bem com ele, por isso o sumiço não levantou suspeitas. Após os cinco dias de sequestro, atearam fogo no carro do refém na beira de uma rodovia e o soltaram a poucos metros dali. “Fui jogado igual um saco de lixo.”

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, “a autoridade policial localizou e deteve um dos autores do crime, que foi reconhecido pela vítima”. Os policiais, acrescenta a pasta, também localizaram o cativeiro, “onde foram encontradas provas, que foram anexadas ao inquérito”.

Vítima

O motorista autônomo Ruan Santos, de 34 anos, foi vítima de sequestro em agosto. Ele dirigia o caminhão pela Via Dutra para fazer entrega em Guarulhos, na região metropolitana, quando um motoqueiro disse que havia um problema na traseira de seu veículo. “Não dei muita importância, continuei andando”, diz. “Mas veio outro motoqueiro e falou a mesma coisa, disse que eu ia causar um acidente.”

Santos parou no acostamento e, após não ver nenhum problema na traseira, foi abordado por uma quadrilha armada. Um dos bandidos assumiu o controle do caminhão, que ele nunca mais viu, e a vítima foi levada a um cativeiro junto com um ajudante. “Fomos colocados em um carro todo escuro, e aí começou o terror”, afirma.

O caso ocorreu às 14h, e os dois foram mantidos reféns por dez horas. Nesse tempo, Santos foi ameaçado para fazer transferência via Pix e teve prejuízo de R$ 7 mil em desvios, além de cerca de R$ 250 mil por causa do caminhão roubado – o veículo não tinha seguro.

“O tempo todo falavam que, se a gente abrisse o olho, ia levar bala, ia morrer”, diz. Ele e o ajudante foram soltos de madrugada na região de Parque Novo Mundo, zona norte. Sem fonte de renda nos meses seguintes, ele afirma que teve dificuldades para pagar as contas da casa e se separou da mulher.

As parcelas do caminhão, que era financiado, também atrasaram. Santos voltou a morar com os pais e hoje trabalha como motorista de aplicativo. Também busca doações, para diminuir o prejuízo. “Tem sido bem difícil, mas preciso seguir em frente.”

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, a ocorrência, de Guarulhos, foi encaminhada ao 90.º DP, que atende a área onde a vítima foi encontrada. “Diligências são realizadas visando ao esclarecimento dos fatos”, informou.

Investigação

“O Estado brasileiro tem muita dificuldade em rastrear esse recurso (desviado). Isso porque ele é transferido via Pix sobretudo, e as contas laranjas imediatamente já fazem novas transferências, de forma que não se encontra mais o recurso”, afirma Alan Fernandes, pesquisador associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “É um problema muito sério.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.