O Brasil é um país de poucos doutores. A afirmação pode soar estranha numa terra de tantos bacharéis e de garçons subservientes. Mas é verdade no tipo de doutor que conta: a relação por mil habitantes na idade entre 25 e 64 anos é de 1,4, um abismo se comparada à Suíça, com 23 doutores. Mas o governo federal quer mudar esse quadro. Em julho, a presidente Dilma Rousseff apresentou o programa Ciência sem Fronteiras, que vai conceder 75 mil bolsas de estudo nos próximos quatro anos a estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Miguel da Rocha Cavalcanti

Origem: Rio de Janeiro

Idade: 33 anos

Graduação: engenharia agronômica na Esalq/USP, de Piracicaba

Pós-graduação: abandonou a ideia de MBA por frequentes viagens ao Exterior, onde participou de cursos e congressos

Primeiro emprego: sócio da empresa Agripoint

Cargo atual: diretor da Beefpoint

Um feito: transformou a marca Beefpoint no principal site de pecuária de corte

Conselho: “Aprenda a escrever, a falar e a vender bem. Procure descobrir o que realmente gosta de fazer, e é bom que seja algo pelo qual você queira pagar”

Miguel da Rocha Cavalcanti, hoje diretor da consultoria Beefpoint, passou pela experiência da graduaçãosanduíche, patrocinada pela Capes, uma prática que tende a se tornar cada vez mais corriqueira com o Ciência sem Fronteiras. Em 1999, quando estava no segundo ano de agronomia, ele trancou o curso e foi para os Estados Unidos, onde permaneceu por um ano na Universidade do Arizona. “Com o intercâmbio, passei a querer mais de mim.”

Cavalcanti seria um típico alvo para os recrutadores da Cargill, fabricante americana do setor de alimentos, com 130 mil funcionários em 63 países. Há seis anos, a subsidiária brasileira criou um programa para garimpar talentos nas universidades. “Para trabalhar em nossas tradings é preciso vivência de campo e experiência internacional”, diz Neusa Duarte, gerente de RH da área de grãos. A Cargill mantém parceria com mais de 15 universidades no País. Em 2010, aprovamos 60 alunos para estágios e, neste ano, 90. “Cerca de 80% são contratados”, diz Neusa, que gerencia também o programa de trainees. “A formação desses quadros demanda mais tempo, cerca de cinco anos para que assumam uma gerência.” O economista Alexandre Salomão passou pela peneira e há 18 meses está montando, na China, a mesa de trading da Cargill. “Já mandamos trainees para os Estados Unidos, Egito e Europa”, afirma Neusa.