01/02/2012 - 0:00
Novas áreas agrícolas: o uso intensivo da terra deve puxar a aviação no campo
O crescimento da agricultura no País está fazendo a aviação agrícola brasileira ganhar asas. Atualmente, as 1,5 mil aeronaves em operação colocam o Brasil na segunda posição no ranking mundial dos usuários de aviões agrícolas, atrás apenas dos Estados Unidos. Nos céus americanos, país com mais tradição nesse setor, estão em operação cinco mil aeronaves. “Mas nós estamos no bom caminho e brigar pela primeira posição pode estar mais perto do que parece”, diz Fábio Bertoldi, gerente de vendas do avião agrícola Ipanema, da Neiva. A empresa instalada em Botucatu, no interior de São Paulo, é subsidiária da Embraer e detém 75% do mercado nacional de pulverização aérea.
A estimativa é de que o setor da aviação agrícola movimente R$ 700 milhões por ano com a venda de aeronaves. No País, as áreas de cultivo que utilizam aviões para pulverização de insumos somam 21 milhões de hectares de soja, algodão, arroz e cana-de-açúcar. Bertoldi diz que hoje há uma revolução acontecendo no ar por causa da expansão agrícola do País, com a transformação de pastagens degradadas em áreas de cultivo de grãos. “Essa transformação e a expansão da agricultura vão impulsionar ainda mais as vendas de aeronaves agrícolas nos próximos anos.” A região chamada de Mapitoba pelos produtores, sigla que reúne as duas primeiras letras dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, é uma delas. “Essa área é a nova menina dos olhos da aviação”, diz Bertoldi. “Os investimentos no Mapitoba são cada vez maiores e quando isso ocorre os aviões estão incluídos na lista das prioridades.” Em 2011, segundo o executivo, já houve um deslocamento do eixo das encomendas da Neiva para essa área.
Só as propriedades da Bahia, localizadas nessa nova fronteira agrícola, compraram no ano passado 12 aeronaves, o que corresponde a quase 20% das vendas da empresa no período. Historicamente, a Bahia nunca foi um mercado expressivo para aeronaves agrícolas, do nível de Estados como Mato Grosso, Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná, que detêm 70% da frota nacional. “Mas agora o oeste baiano, com potências como Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, está definitivamente no mapa da aviação”, afirma Bertoldi. Na área agrícola de Barreiras e de Luís Eduardo Magalhães predominam as culturas de soja, milho, café, feijão e algodão.
De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), o mercado potencial para a aviação agrícola no Brasil é de pelo menos dez mil unidades. Essa estimativa leva em consideração apenas as áreas agrícolas atualmente exploradas, de 68 milhões de hectares. “O Brasil vai intensificar o uso da terra cada vez mais e, para acompanhar esse movimento, a aviação agrícola deve crescer na faixa de 8% ao ano”, diz Nelson Antônio Paim, presidente do Sindag.
Mas há quem acredite num ritmo mais acelerado do que o previsto por Paim. No ano passado, a Neiva alcançou uma receita de R$ 40 milhões, um crescimento de 40% comparado a 2010. “Desde 2004, quando vendemos 70 unidades, nosso avião agrícola modelo Ipanema não tinha um desempenho comercial tão positivo”, diz Bertoldi. Em 2011, a Neiva comercializou 56 unidades no Brasil, sendo 44 movidas a etanol e 12 a avgás, que é a gasolina de aviação. Em janeiro, a empresa, que tem 42 anos de existência, comemorou a entrega da aeronave de número 1.200. O preço dos aviões vai de R$ 720 mil para a versão à gasolina aérea e R$ 730 mil para o modelo movido a etanol, o mesmo combustível utilizado nos veículos automotores. Entre as duas versões, Bertoldi diz que o avião movido a etanol, além de custar cerca de 30% menos, em média, tem 7% mais potência. “Se a comparação for com os equipamentos terrestres, a conta fica ainda melhor.” Segundo Bertoldi, um pulverizador terrestre, por exemplo, custa em torno de R$ 500 mil. “Sem contar que para a pulverização agrícola aérea não existem problemas como solos encharcados após chuvas, por exemplo.” Além de empecilhos dessa natureza, os pulverizadores terrestres podem causar perdas de até 5% da colheita por pisoteio nas culturas. As perdas na colheita, para quem faz as pulverizações com aviões, é de no máximo 2%.
Asas verdes: aviões movidos a etanol já são preferência nacional. O modelo Ipanema, da Neiva, no hangar da fabricante (à esq.) e em ação no campo (à dir.)
Para os produtores, a vantagem da aviação agrícola está na rapidez para a realização das tarefas no campo. Dados do Sindag mostram que um trator consegue cobrir uma área de 400 hectares por dia para a aplicação de insumos, enquanto um avião agrícola, como o Ipanema, por exemplo, realiza o mesmo trabalho em 1,2 mil hectares, no mesmo espaço de tempo. Para comparar: em média, um trator percorre entre 40 e 50 hectares por hora. Já um avião agrícola, em igual período cobre 120 hectares. “Em termos de custo- benefício, para um produtor que possui uma área de 2,5 mil hectares de soja, o melhor negócio é optar pelo avião”, diz Paim. O produtor com área menor e menos abonado para ter seu próprio avião pode terceirizar a aplicação aérea. No País há 400 empresas credenciadas para prestar esse tipo de serviço. “O agricultor está começando a fazer as contas e contratando essas empresas”, diz Paim. Em geral, uma aeronave agrícola fatura cerca de R$ 540 mil por ano.
Bertoldi diz que a boa performance da agricultura nas regiões Sudeste, que representa 30% do mercado de aeronaves, Centro-Oeste, com 40% da frota, e Sul com 30% dos aviões em circulação, deve se manter em 2012. Paim estima que nesta safra 2011/2012, mais de 50% dos 24,6 milhões de hectares da área plantada com soja deverão usar a pulverização aérea. No caso do algodão, com 1,4 milhão de hectares, 20% da área será tratada com a tecnologia aérea. Dos 2,5 milhões de hectares de arroz e 8,4 milhões de hectares com cana-de-açúcar, 15% e 8% respectivamente, também contarão com a aviação agrícola para garantir a produtividade da lavoura. Os 2% restantes são divididos entre as culturas de laranja e hortifrutis.
“O agricultor está começando a fazer
as contas e optando pela aplicação aérea”
Nelson Paim, presidente da sindag
Culturas como a batata e o feijão são as próximas da fila. “A pulverização agrícola em escala industrial ainda não é feita nessas culturas, mas já há estudo para isso”, diz o Bertoldi, da Neiva. Empresas de reflorestamento industrial também estão realizando testes de aplicações comparativas, para analisar o custobenefício das pulverizações aéreas de fertilizantes, fungicidas e inseticidas, comparado a aplicações terrestres. “Com a aprovação do Código Florestal e a necessidade de reflorestamento, a aviação agrícola também pode ganhar mais mercado”, diz Paim, do Sindag.