PRODUÇÃO: o grupo argentino tem como meta produzir no Brasil 700 mil toneladas de soja

Já se passaram sete anos desde que o empresário argentino Gustavo Grobocopatel desembarcou no Brasil em busca de sócios para criar uma empresa global do agronegócio. Em 2008, depois de alguma garimpagem, o presidente do grupo Los Grobo se associou aos investidores da Vinci Partners, do investidor carioca Gilberto Sayão, e, no ano seguinte, semeou a primeira lavoura em solo brasileiro. Nesse curto período de três safras, já são 57 mil hectares de terras cultivadas neste lado da fronteira, onde está sendo colhida uma boa notícia para o plano de negócios da empresa: pela primeira vez, a operação no Brasil superará em faturamento a da Argentina, onde o Los Grobo explora uma área duas vezes maior. O braço brasileiro, cuja marca é a Los Grobo Ceagro, deve faturar US$ 450 milhões na safra 2011/12, ante uma receita de US$ 1,1 bilhão projetada para o grupo como um todo – a parcela brasileira vai subir de 37% para 40% do total. Em seguida ficará a matriz, Argentina, com US$ 400 milhões, e os US$ 250 milhões restantes serão fornecidos pelas filiais no Paraguai e no Uruguai. O resultado indica que a estratégia de eleger o País como principal vetor de expansão dos negócios do grupo está dando certo. “Queremos crescer de forma consistente em todas as áreas”, disse à DINHEIRO RURAL Paulo Alberto Fachin, CEO da Los Grobo Ceagro.

EXPEDIÇÃO: Paulo Fachin (abaixo), CEO da Los Grobo Ceagro, diz que rodar pelo Brasil, mesmo por estradas lamacentas, é uma boa maneira para se aproximar dos produtores

“Consistente”, no entanto, não significa abdicar de certa dose de agressividade. O plano de expansão da Los Grobo prevê ampliar a atual área cultivada para 70 mil hectares na próxima safra. Na de 2013/14, a meta é plantar em 100 mil hectares, no modelo de arrendamento de terras, nos seis Estados onde já atua: Piauí, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso, Goiás e Bahia. O grupo não imobiliza seu capital em investimento fixo, preferindo transformar os donos das terras em parceiros. Pelo menos no Piauí e em Mato Grosso, a expansão é certa. “Já sentimos a necessidade de ampliar nossa atuação e fortalecer nossa posição”, diz Fachin. O modelo de arrendamento acaba tornando factível a almejada duplicação da área plantada em apenas dois anos. “A duplicação é bastante agressiva, mas viável”, opina José Carlos Vannini, sócio da consultoria MBAgro. “Exige uma organização operacional bastante complexa.” Isso porque o modelo de negócios da Los Grobo não se resume à produção de milho e soja. O grupo também fornece insumos e administra uma rede de armazéns que oferece pacotes de serviços aos agricultores. Pelo modelo de negócios, os contratos são flexíveis, de modo que um produtor mais capitalizado pode dividir os riscos. “No arrendamento, o risco é todo nosso”, diz Faquin.

O primeiro passo na ampliação dos negócios é um investimento de R$ 17 milhões na primeira misturadora de fertilizantes, em São Luís, no Maranhão. Com inauguração prevista para abril, a unidade foi construída em parceria com a paranaense Península Fertilizantes e terá capacidade para produzir 150 mil toneladas por ano para as fazendas do grupo das regiões Norte-Nordeste. O restante será vendido. “Com acesso aos preços internacionais das matérias- primas, começamos a ter um horizonte para participar desse mercado”, diz Fachin. A misturadora se somará à rede atual de 18 armazéns e capacidade estática de 650 mil toneladas de grãos. Com essa estrutura, a Los Grobo brasileira estima movimentar 700 mil toneladas de grãos neste ano, ante os 2,3 milhões produzidos na Argentina, no Paraguai e Uruguai. Para a próxima safra, a meta é atingir 800 mil toneladas. “É no Brasil que enxergamos as melhores oportunidades de crescimento”, afirma Antonio Oliva Neto, vice-presidente executivo da Los Grobo Ceagro.

A principal tacada nos planos de expansão do grupo no Brasil foi anunciada no fim de janeiro. Depois de dois anos de namoro, a japonesa Mitsubishi Corporation anunciou a compra de 20% do capital social da Los Grobo Ceagro, numa operação estimada pelo mercado em US$ 45 milhões. Além do aporte financeiro, a parceria é estratégica para os planos de diversificar os mercados no Exterior – 90% das exportações das lavouras no Piauí, Maranhão, Bahia e Tocantins têm a Europa como destino. Na média, 60% da produção é voltada ao mercado externo. A gigante japonesa, um conglomerado com atuação em diversos setores da economia e receita anual de US$ 220 bilhões, tem uma cota de dez milhões de toneladas para a Ásia em grãos produzidos nos Estados Unidos, na Argentina, na Austrália e no Brasil. “Acreditamos que em dois anos, quando a expansão do Canal do Panamá estiver pronta, a Ásia também se tornará um mercado interessante para nossa produção no Norte- Nordeste”, afirma Fachin. A logística continental, pelo menos, parece estar bem encaminhada. O Los Grobo mantém um acordo com a Vale para usar a ferrovia da mineradora para transportar sua produção agrícola de Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e Piauí pela Ferrovia Norte-Sul até o porto de Ponta da Madeira, em São Luís. “Com a Mitsubishi, fechamos duas pontas do negócio: a da demanda e a do aporte de capital”, resume Fachin.

ESTRUTURA: os armazéns recebem toda a produção própria de grãos e também a produção dos agricultores parceiros, nos seis Estados em que o Los Grobo atua

SOB O SOL E A POEIRA

Na safra de 2008, os produtores de soja de Goiás e Mato Grosso sofriam com uma praga, a ferrugem asiática, uma doença causada por um fungo que se alastrava pela lavoura. O CEO da Los Grobo Ceagro, Paulo Fachin, coordenava mais uma edição do Rally Ceagro, uma expedição por fazendas do Maranhão e Piauí, para conhecer produtores de perto e acompanhar a produção. “Os produtores nos cercaram e nos fizeram dar uma palestra”, conta Fachin. “Fomos a campo, identificamos o problema e eles não sofreram perdas como em outras regiões.” O rally cumpria ali um de seus principais objetivos: fomentar a troca de informações entre produtores. Agora, em sua sétima edição, a expedição se consolidou como uma das principais estratégias da empresa para oferecer serviços aos produtores, comercializar insumos e partilhar tecnologias de fornecedores. Em 13 de fevereiro, a DINHEIRO RURAL acompanhou com exclusividade a terceira etapa do Rally Ceagro num trajeto de 150 quilômetros entre Goiatuba e Piracanjuba, no interior de Goiás. Os 55 produtores do sudeste goiano puderam trocar informações entre si e com cerca de 60 representantes da cadeia produtiva. Nas palestras feitas às margens das lavouras de milho e soja, os produtores entravam em contato com os últimos lançamentos do mercado. “Nosso objetivo é estimular a troca de informações entre os produtores, para que conheçam tendências e tenham condições de tomar a melhor decisão”, afirma Giovani Ferreira, coordenador da Expedição Safra, projeto do jornal paranaense Gazeta do Povo, parceiro do Rally Ceagro.