16/12/2020 - 17:05
São Paulo, 16 – A operadora Claro e a fabricante de máquinas agrícolas e de construção John Deere anunciaram nesta tarde uma parceria para levar conectividade de qualidade a aproximadamente 15 milhões de hectares de lavouras em 2021. Pelo “Campo Conectado”, como foi batizada a iniciativa, a Claro investirá na instalação das antenas – estações rádio base e sistemas de transmissão de dados – em propriedades rurais, com base no mapeamento de agricultores interessados que será feito pela rede de concessionários John Deere. A estimativa é de que entre 250 e 300 estações rádio base sejam instaladas pela operadora no próximo ano, disseram ao Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o diretor de IoT (Internet das Coisas) da Claro Brasil, Eduardo Polidoro, e o diretor de ISG (Grupo de soluções Inteligentes) da John Deere para América Latina, Rodrigo Bonato.
“Os 15 milhões de hectares serão adicionais, porque a operadora já tem mais de 85 milhões de hectares cobertos no Brasil. Onde houver demanda, vamos levar a estrutura, e se houver procura por mais do que 15 milhões de hectares a Claro está disposta a continuar investindo”, disse Polidoro. Os 85 milhões de hectares abrangem áreas urbanas e rurais, não somente lavouras, lembrou ele. Cada estação rádio base cobre um raio de 9 a 16 quilômetros, o equivalente a uma faixa de 15 mil a 60 mil hectares, segundo Polidoro.
Diferentemente do modelo que vinha sendo adotado pelas operadoras até então – Claro, inclusive -, pelo qual as antenas eram levadas às áreas rurais somente sob demanda dos produtores e com custos de estrutura cobertos por eles, no “Campo Conectado” a Claro arcará com os investimentos em toda a estrutura necessária para garantir conexão suficiente para colocar em prática a chamada “agricultura 5.0”, destacou Bonato. Cada estação rádio base será dotada com tecnologia 4G.
“Hoje máquinas que já possuem modem e chip de alguma operadora até fazem tráfego de dados, mas não em tempo real; quando entram em uma área sem conectividade, elas acumulam informações que só são descarregadas na nuvem (espaço virtual de armazenamento) quando entram em uma área conectada. Na agricultura 5.0, o tratamento dos dados é feito em tempo real, para o produtor tomar a decisão em tempo real”, explicou o executivo da John Deere.
A parceria com a fabricante de máquinas agrícolas foi determinante para a mudança no modelo de negócios da Claro, explica Bonato. “O trabalho com a John Deere trouxe uma demanda mais sólida para a Claro, que já existia. Só a John Deere tem hoje mais de 30 mil máquinas, de construção ou agricultura, habilitadas com modem para ser conectado a algum serviço”, disse. “Por meio da nossa rede de concessionários, vamos oferecer aos produtores o serviço da Claro, para todo tipo de máquina e porte de produtor”, continuou. “A demanda ficou clara e a operadora conseguiu vislumbrar o retorno do investimento”, ratificou Polidoro.
As 300 concessionárias John Deere espalhadas por regiões urbanas e rurais do País serão as responsáveis por mapear os produtores interessados no serviço, levantar a área a ser coberta e transmitir as informações à Claro. Será necessária uma demanda mínima em cada região, que variará conforme as condições geográficas locais – territórios mais planos ou acidentados, que interferem no alcance do sinal – e da estrutura existente na área.
Além de fornecer cobertura de qualidade a 100% da propriedade rural, a Claro contará com um centro de monitoramento das operações e equipe exclusiva para atendimento do setor. Isso significará uma central de atendimento separada daquela que atende clientes urbanos, além de acompanhamento em tempo integral do funcionamento da rede, explicou Polidoro.
Pelo serviço exclusivo e garantia de conectividade com qualidade em toda a propriedade, os produtores terão um custo aproximado de R$ 20 por hectare por ano. “Um produtor rural que tenha 500 hectares terá um custo de cerca de R$ 800 por mês. É acessível”, disse Bonato, da John Deere. Haverá ainda os gastos relacionados à quantidade de dados utilizada na fazenda, com valores diferentes conforme o tamanho do pacote de dados.
“Rodamos testes no último ano e foi impressionante ver como a tecnologia passa a permear todas as atividades da propriedade. Teve produtor que começou a safra usando 500 giga (gigabyte) por mês e no fim da safra já usava mais de 3 tera (terabyte, equivalente a mil gigabytes), deixando de usar rádio para fazer vídeo chamadas, ensino à distância dentro da fazenda e mais conectividade das máquinas em tempo real”, contou Bonato.
As máquinas já habilitadas para serem conectadas poderão processar os dados coletados no campo em tempo real e receber direcionamentos dos produtores de forma imediata, o que deve resultar em ganhos de produtividade – menos perdas de produção, redução de custo com aplicação de insumos agrícolas, entre outros benefícios.
Além das 30 mil máquinas John Deere já dotadas de modem e chip de alguma operadora, a companhia contabiliza outros 15 mil equipamentos que têm o modem instalado, porém sem chip conectado, “provavelmente em áreas sem conectividade”, conta Bonato. “Isso significa que poderemos chegar em um ano a 40 mil ou 45 mil máquinas conectadas e fazendo transmissão em tempo real dos dados”, afirmou. Segundo Bonato, cerca de 60% dos equipamentos da companhia já saem da fábrica com modem instalado – a maioria destinada a médios e grandes produtores. Em equipamentos de menor porte o dispositivo não é instalado e a tendência, por ora, é manter essa estratégia, conforme o executivo. Esses produtores poderão, no entanto, comprar nas concessionárias kits de atualização com modem, aptos para serem instalados em qualquer máquina.
Bonato chama a atenção para outros benefícios que deverão ser percebidos em breve com a ampliação da área rural conectada no Brasil. Um deles será no custo do crédito para produtores rurais, que poderá diminuir com a geração de mais dados e maior segurança para bancos e investidores emprestarem ao setor.
A maior quantidade de dados sobre as atividades agropecuárias também deve tornar o seguro rural mais barato, diz ele. A rastreabilidade da produção brasileira, tão demandada por consumidores internacionais, também poderá ganhar força. “Vamos poder mostrar ao mundo que a produção brasileira é realmente sustentável”, afirmou. Além disso, disse Bonato, algumas tradings que atuam no País já pagam um valor adicional a produtores para ter acesso a dados históricos de produção, produtividade e outros. “O consumidor global quer saber como o alimento que ele compra foi produzido”, argumenta Bonato.
“Os produtores são ávidos por tecnologia e a pandemia acelerou isso. Com essa parceria veremos uma aceleração no uso de tecnologia e uma mudança na forma de fazer negócios no campo. Em menos de cinco anos a agricultura brasileira passará por grande transformação”, afirmou Bonato.