Há alguns anos, os preços do petróleo estavam na casa dos US$ 100 a US$ 110 por barril. Pareciam reservados aos livros de história as cotações de US$ 25 dos anos 1980, ou de US$ 18 nos anos 1990. Dessa época em diante, os preços em alta passaram a indicar o fim da era da energia barata, e com ela vieram previsões do esgotamento das novas reservas. Para bem ou para mal, a depender do ponto de vista, o desenvolvimento da indústria do petróleo tratou de derrubar essas premissas e mostrou, mais uma vez, o quanto é complicado fazer previsões, sejam elas de preços ou quantidades. Anos seguidos de cotações elevadas, tensões sociais em regiões abundantes em reservas e a busca pela independência energética em vários países, estimularam a expansão da produção. O fato é que o petróleo é um bem precioso. Quase tudo que é consumido pelo homem leva derivados do combustível fóssil em algum estágio da produção. Portanto, mesmo em um cenário de substituição do diesel e da gasolina por fontes renováveis de energia, o mundo ainda terá um longo caminho até eliminar sua dependência dos demais subprodutos do petróleo.

Nesse quadro, fazer políticas públicas pode gerar sérios equívocos. Se em agosto de 2014 o barril estava acima de US$ 100, hoje não se sabe qual é o limite de baixa, quando ele insiste em se manter entre US$ 30 e US$ 40. Os investimentos na exploração de antigas e novas reservas serão relegados ou abandonados? Os consumidores reverterão a tendência de menor uso de transporte individual? As preocupações com mudanças no clima e com a redução de emissões de gases do efeito estufa serão dissipadas? Essas perguntas ilustram como é difícil prever a trajetória provável do preço do petróleo.


Ângelo Costa Gurgel, coordenador de mestrado em agronegócio da FGV

No que diz respeito à sua exploração no Brasil, o raciocínio apressado diante da conjuntura e dos preços atuais pode levar a conclusões precipitadas. O petróleo é um ativo estratégico. Assim, é preciso deixar as emoções de lado e desenvolver um modelo de exploração e comercialização eficiente e transparente. Mesmo porque, é menos arriscado supor que a economia mundial ainda trará surpresas que poderão elevar novamente os preços do barril. Afinal, quem imaginou a atual China 30 anos atrás, ou mesmo a exploração de óleo e gás de xisto?

É sob essa ótica, por exemplo, que o mais recente relatório do Fundo Monetário Internacional deve ser visto. Ao desenvolver um modelo de previsão de preços, o órgão revela que eles se encontram no limite inferior do intervalo de confiança de 95%. No centro da tendência, o modelo indicava preços de US$ 60 por barril para 2016, o dobro do que vemos hoje. Com isso, o relatório traz alertas importantes sobre as consequências da queda das cotações internacionais. Entre elas estão os efeitos negativos imediatos para o investimento e os impactos de longo prazo para a produção. O Brasil, nesse contexto, se destaca por ter o segundo maior custo de produção, dentre os 41 países pesquisados.


Daniel Furlan Amaral, economista da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

Bom, e o que fazer? Uma das tarefas urgentes é repensar a indústria de petróleo brasileira. A outra é lembrar que a diversificação energética é elemento que traz maior segurança para o consumidor e para o País. Os biocombustíveis devem ser pensados sob essa ótica, pois podem contribuir ainda mais para a matriz de combustíveis nacional. Não é demais lembrar que os combustíveis líquidos são elemento central também na discussão sobre saúde e meio ambiente. Diversos estudos comprovam os benefícios do etanol e do biodiesel para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa, material particulado e outros poluentes. Então, por que não proporcionar às pessoas um ar de melhor qualidade? Sem falar nos potenciais do desenvolvimento tecnológico de produtos químicos com base em biomassa, nas chamadas biorrefinarias, e a cogeração de energia por biomassa. Todos esses benefícios ainda geram empregos nas cadeias produtivas dos biocombustíveis, sejam na produção agrícola, processamento industrial e distribuição. Toda a sociedade ganha. Por isso, é tempo de repensar a economia e fazer da atual conjuntura uma grande oportunidade de desenvolvimento.