01/03/2021 - 14:28
A Renault informou nesta segunda-feira que vai investir R$ 1,1 bilhão no Brasil neste ano e em 2022. Diferente de anos anteriores, quando os programas eram definidos por períodos de cinco anos, desta vez a companhia decidiu pelo curto prazo e continuará negociando com a matriz aportes para os anos seguintes. Informa, contudo, que um novo ciclo de investimentos dependerá da melhoria da competitividade do País.
Fatores como a alta e complexa carga tributária, custos logísticos, de fabricação e trabalhista colocam o Brasil na linha de espera das grandes montadoras. “Dentro do contexto global, essas questões comprometem a viabilização e a competitividade para se fabricar no Brasil”, afirma o presidente da Renault no País, Ricardo Gondo.
Segundo o executivo, “esse aporte para 2021 e 2022 é um passo importante para validar novos projetos”, mas, ao avaliar novos projetos a matriz leva em conta o contexto global e o dos países onde pretende investir. “Também é levado em consideração o tamanho do mercado, se vai continuar a crescer, de que forma, em que ritmo e baseado em que, por exemplo em análises econômicas e macroeconômicas.”
O novo aporte, anunciado pela direção da empresa ao governador do Estado do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), será aplicado em projetos que já estavam em andamento, como a renovação de cinco modelos da linha atual, a introdução do motor 1.3 turbo que será importado da Espanha (provavelmente para o utilitário-esportivo Duster) e na chegada de dois carros elétricos, um deles o novo Zoe.
Produtos mais rentáveis
A cautela da fabricante francesa que faz parte da aliança Renault/Nissan/Mitsubishi está em linha com o plano global anunciado pela empresa no início do ano, de focar suas operações em produtos mais rentáveis, deixando de lado carros mais básicos, sem se preocupar com eventual queda em participação de mercado.
Gondo afirma que a empresa já seguiu essa direção no ano passado, o que a levou a cair de uma participação de 9% do mercado brasileiro em 2019, após dez anos de crescimento contínuo, para 6,7%. A empresa também deixou de atuar em canais menos rentáveis, como a venda direta para pessoas com deficiência física (PCD), que estabelece limite de R$ 70 mil aos veículos para isenção de impostos. Ao adaptar modelos a esse preços, diz Gondo, a rentabilidade do produto é reduzida.
Em 2020 a marca vendeu 132 mil veículos, ficando em sétimo lugar no ranking nacional de marcas. No ano anterior, ela ocupou a quarta posição, como 239 mil unidades comercializadas.
Outra medida que, segundo o executivo ajudou na redução de custos, foi o acordo coletivo com o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, com validade para quatro anos, e que permitiu o fechamento de um turno de trabalho e a abertura de um programa de demissão voluntária (PDV).
O objetivo era a saída de 747 trabalhadores, mas parte deles ainda está em lay-off (contratos suspensos) e a empresa mantém negociações com o sindicato para uma solução. O complexo do grupo em São José dos Pinhais (PR), que abriga fábricas de automóveis e de motores, tem 6,4 mil funcionários diretos operando em dois turnos e, no momento, não precisa da mão de obra que está afastada.
Escassez de semicondutores
Gondo informa que a fábrica do Paraná teve a produção paralisada por alguns dias no mês passado em razão de dificuldades de logística para a chegada de componentes. Segundo ele, tem ocorrido atrasos de navios e, quando chegam ao porto já perderam o local para atracar e ficam esperando dias para o desembarque.
A falta de semicondutores é global e o presidente mundial da Renault, Luca De Meo, acredita que o problema deve ser reduzido no segundo semestre mas, afirmou que há riscos de 100 mil veículos da marca deixarem de ser produzidos em todos os países onde tem fábricas.
No Brasil, a fábrica continua funcionando sem problemas, informa Gondo, “mas claramente uma hora teremos problemas”, sem citar prazos. Aço é outro produto que preocupa o setor.
Ele prevê um mercado total brasileiro de 2,3 milhões de veículos, 15% acima do ano passado. Em razão do aumento de custos de matéria-prima e dólar, os preços do modelos da Renault subiram em média 16,5% no ano passado, um pouco acima da média total do mercado, que foi de 16% a 16,2%. Neste ano, já ocorreram reajustes de 4%.