16/05/2017 - 11:58
Reflexões sobre a operação “Carne Fraca” me fazem lembrar frases de líderes que viveram em épocas desafiadoras. Eis algumas delas e seus autores: “O rigor é a austeridade mais a esperança”, dita por Pierre Mauroy, ex-primeiro ministro da França; “Se estiver passando pelo inferno, continue caminhando”, afirmou Winston Churchill, ex-primeiro ministro da Grã Bretanha. Da alcunha do general De Gaulle, presidente da França vem “É preciso saber se os franceses querem refazer a França ou ir dormir.” Já o ex-ministro desse país, André Malraux, sentenciou que “Para o homem, o fim da esperança é a morte”. Ou “Confie em Alá, porém amarre bem os seus camelos”, proferida por Saladino, um sultão árabe. E, por último, a pergunta de Otto von Bismarck, ex-primeiro ministro alemão, ao general von Moltke: “Depois de tais acontecimentos, existirá alguma coisa digna de ser vivida?” A reposta foi: “Sim, ver uma árvore crescer”.
Tais pensamentos são muito apropriados aos dias atuais para o Brasil, tanto na política como na economia, e até mesmo no segmento de produtos de origem animal, diante dos desagradáveis fatos recentes. Mas é preciso que eles estejam na lembrança, para que lutemos por mudança de hábitos, de costumes, da politização de cargos técnicos e para a vitória contra a impunidade. Os brasileiros devem apoiar a investigação da Polícia Federal contra a corrupção que assola diferentes setores da vida nacional. No entanto, no mundo globalizado, os negócios são rapidamente influenciados por notícias, principalmente as de caráter negativo.
A cadeia da pecuária emprega cerca de sete milhões de pessoas, envolve quase três milhões de produtores rurais. Hoje, há um sentimento de preocupação com desemprego, cancelamentos de negócios, atrasos de encomendas e o afastamento de consumidores. Isso se dá em consequência da divulgação precipitada de fatos, muitos dos quais poderiam ser evitados, caso houvesse especialistas na assessoria dos investigadores na operação “Carne Fraca”. O fato é que o problema foi identificado em apenas 21 empresas, dentro de um universo superior a 4,7 mil. Ou seja, significa uma ínfima minoria. Os funcionários investigados são apenas 33, entre os 11 mil colaboradores do Ministério da Agricultura. O Serviço de Inspeção Federal (SIF), executado com seriedade e competência pela maioria dos médicos veterinários, desenvolve um trabalho eficiente e confiável não somente para o mercado interno, mas também nas exportações. Assim, devem ser punidos aqueles que não seguem as regras e os “espertos” empresários que desconhecem a ética e a importância de possuir uma marca confiável, pois, além de enganar os consumidores, são irresponsáveis com seus próprios empregados e por lesar a imagem do Brasil em nível global.
O fato é que já sentimos na pele os efeitos iniciais da “Carne Fraca” em nossas commodities pecuárias. Concorrentes poderosos, como os Estados Unidos e a Austrália, entre outros, tentam nos alijar de importantes mercados qualitativos e atraentes.
Teremos ainda dias difíceis em um futuro próximo, muito embora o ministro da Agricultura Blairo Maggi tenha conseguido de imediato um enorme êxito nos esclarecimentos a países importantes, entre eles a China, o Egito e o Chile. No mercado interno, o País deve agora investir em esclarecimentos aos consumidores, principalmente às mulheres, porque são elas que fazem a maioria das compras. Esse público hoje tem dúvidas em relação à qualidade dos produtos, especialmente os embutidos e os aditivos permitidos nas suas fabricações.
Para seguir em frente, é preciso colocar nessa conta que o Brasil ostenta o honroso título de maior exportador mundial de carne bovina e não existem motivos para evitar o seu consumo. É preciso se inspirar nos pensamentos de Mauroy, Churchill, De Gaulle, Malraux, Saladino e Bismarck, e acreditar em dias melhores, vendo as árvores da honestidade, da decência e do profissionalismo crescerem.